Se tem por hábito conduzir, sobretudo quando o faz num percurso que lhe é familiar, pode acontecer que a certa altura tome consciência de que percorreu uma grande parte do trajeto sem se lembrar de parte da viagem ou de alguns dos seus pormenores. Se estiver a viajar acompanhado, e quiser saber como correu a viagem, provavelmente esse passageiro dir-lhe-á que conduziu bem, com atenção aos obstáculos e, inclusive, que manteve uma conversação perfeitamente clara. A isto, a este estado de “desligamento”, podemos chamar, em sentido lato, estado hipnótico.
Deixe-me então falar-lhe da hipnose clínica: trata-se de uma “ferramenta” terapêutica utilizada para promover um estado “ampliado” de consciência, no qual a parte denominada “consciente” se “separa” da parte denominada “inconsciente”. Ao ser criada esta separação, pretende possibilitar-se um acesso facilitado aos registos mentais (ideias, perceções, emoções) guardados naquela parte inconsciente (onde são armazenadas as experiências de interação social que fazem parte da história de vida de cada um) que modelam todo o nosso ser, definindo a forma como reconhecemos, interpretamos e agimos sobre os estímulos que encontramos nos ambientes em que nos movemos.
A terapia realizada com auxílio da hipnose pretende alterar a perceção cognitiva e emocional que temos sobre determinado evento que nos perturba, levando a uma integração mais saudável das nossas experiências, de maneira a que essas mesmas experiências adquira outros significados, menos perturbadores, mais adaptativos ao nosso funcionamento, mais promotores do nosso bem-estar. Estaremos aqui a fazer uso de uma maravilhosa caraterística do nosso cérebro, designadamente, a neuroplasticidade: a capacidade que os neurónios e redes neuronais têm em se reorganizarem face a novos estímulos – vamos usar o nosso pensamento e a nossa imaginação para fazer alterações na nossa própria mente, para alterarmos a forma de encarar as situações que se nos apresentam na vida.
Em termos mais práticos, a hipnose pretende levar a pessoa a focar a sua atenção num determinado objeto, desviando-se de distrações e de julgamentos internos (aquele “guardião” que temos na nossa mente e que nos impede tantas vezes de dizermos aquilo que realmente sentimos ou que gostaríamos de dizer), de maneira a que, feito o resgate emocional, possa incorporar autossugestões benéficas que promovam alteração das suas sensações e perceções, assim proporcionando alívio emocional e bem-estar. Para facilitar a compreensão, imagine a sua mente como um computador com uma determinada capacidade de memória instalada: à medida que vamos vivendo experiências, desde a infância, o computador vai guardando as sensações a elas associadas, dividindo-as e colocando-as em uma de duas pastas – “experiências negativas” e “experiências positivas”. Com o crescimento, e por influência da família, da sociedade e da cultura, vamos construindo uma barreira, que modela a nossa forma de pensar e cria em nós uma mente crítica, mente crítica esta que separa o consciente do inconsciente (é como se no nosso computador funcionassem apenas algumas teclas pré-definidas que não nos deixam ter acesso a toda a informação).
O que se pretende fazer com a hipnose é, assim, distrair aquela mente crítica para termos acesso facilitado ao inconsciente e, assim, inserir sugestões benéficas que ajudam a transformar experiências guardadas na pasta “experiências negativas” em experiências com significados positivos e adaptativos.
Fiz uma sessão de hipnose e no fim, quando saí de lá, não mudou nada: ERRADO!
A hipnose atua em níveis inconscientes da mente desde o primeiro minuto. E, mais uma vez, lembre-se: quanto mais praticar, mais fácil e eficaz se torna todo o processo;
Uma das bases da hipnose é a promoção de um estado de relaxamento: CERTO!
O relaxamento é trabalhado, sessão após sessão, enquanto instrumento de aprofundamento do transe hipnótico, como se de um treino físico se tratasse. O relaxamento induzido pretende acionar as ondas cerebrais para um estado denominado Teta, semelhante a um estado de sono, no qual temos acesso facilitado às memórias inconscientes. A hipnose pode assim promover o relaxamento (e o relaxamento ajuda ao alcance do estado hipnótico), contudo não é condição absoluta e necessária para a aplicação da hipnose. A hipnose é, acima de tudo, foco e atenção concentrada;
A ansiedade que eu costumo ter não me vai deixar entrar em estado de hipnose: ERRADO!
A hipnose pretende levar a pessoa a um estado de relaxamento apropriado à terapia. Podendo ser variáveis os níveis de relaxamento a que cada um de nós chega, são poucas as pessoas que não conseguem atingir o estado necessário para a utilização desta ferramenta. Lembre-se que tudo se treina. O relaxamento também é um treino que se adquire;
Toda a hipnose é, no fundo, um processo de auto-hipnose: CERTO!
A hipnose é autoinduzida, só funcionando quando a pessoa deseja realmente colaborar no processo. O terapeuta funciona como um “guia” que o ajuda a alcançar esse estado;
É possível resolver tudo com a hipnose? ERRADO!
A hipnose não é um “sistema de cura”, é sim um estado modificado de consciência onde se juntam emoções, perceção, visualização e imaginação e, com tudo isto, se trabalha no sentido de promover mudanças, transformar sensações e redefinir significados de experiências pessoais.
Para terminar, lembre-se ainda que a finalidade última de um processo de terapia com recurso à hipnose é também, à semelhança de outros processos terapêuticos, o de promover o autoconhecimento, o desenvolvimento pessoal e as mudanças na experiência individual subjetiva, sensações, pensamentos, comportamentos e emoções, com vista ao seu bem-estar e equilíbrio emocional.
Aniversário Learn2Be
Adquira este pack de formações por um preço incrível. Este é o primeiro passo para ter a vida que deseja!