Talvez esteja à procura de uma relação e se pergunte como escolher a pessoa certa ou talvez esteja numa relação e se questione se a pessoa que está ao seu lado é mesmo a pessoa certa para o resto da sua vida. Em ambos os casos, são questões importantes e que devem ser levadas a sério.
Escolher um parceiro romântico é um dos grandes desafios da nossa vida. Esta aventura de procurar e conhecer pessoas, umas mais interessantes que outras, pode ser frustrante, pode nos fazer desistir antes de finalmente encontrarmos o nosso caminho para o amor.
Antes de mais, deixe-me abrir aqui um parêntesis para lhe dizer isto: Não veja os erros como um fracasso. Como disse Thomas Edison: “Eu não falhei 10 mil vezes. Apenas descobri 10 mil maneiras que não funcionam”. Talvez muitas das coisas que já considerou como erros, na verdade, colocaram-no mais perto daquilo que deseja.
Então, vamos supor que já tem espaço na sua vida para manter um compromisso de uma relação, que está disposto a enfrentar os seus medos e que está emocionalmente disponível.
Como não existe uma fórmula mágica, uma aplicação de encontros infalível ou a força do destino que tome a decisão por si. É necessário sobretudo, disponibilidade para se conhecer melhor a si e ao outro, vontade e esforço de fazer acontecer e coragem.
Começamos por reconhecer os seus próprios valores, reconhecer os seus valores é uma etapa muito importante num processo de autoconhecimento, vai-lhe permitir conhecer-se melhor e tornar mais clara as tomadas de decisões na sua vida.
Antes de fazermos um exercício, gostaria de lhe dizer o que é um valor.
Um valor é algo que faz parte da sua essência/personalidade e não uma qualidade que gostaria de ter. Um valor, é algo que valoriza, que para si é essencial em determinado contexto. São os valores que muitas vezes justificam o porquê dos seus pensamentos, sentimentos e comportamentos. Não há certo ou errado, bom ou mau. O que você valoriza é o que valoriza – ponto final!
Os valores são como uma bússola, fornecem-nos uma certa direção. Então.
Vamos ao exercício, continue e escreva as suas respostas às perguntas a baixo:
1- Que tipo de relacionamento quer construir?
2- O que mais valoriza num relacionamento?
3- Como deseja se comportar nesse relacionamento?
4- Que qualidades pessoais, quer desenvolver?
5- Como trataria os outros, caso fosse o seu eu ideal?
As respostas a essas perguntas mostrarão o que realmente importa para si, o que valoriza num relacionamento. Assim terá uma noção de quão próximo ou distante está de viver de acordo com os seus valores. Como pode ver, não são perguntas fáceis. Mas são um primeiro passo importante para desenhar um novo mapa para onde quer ir. Como escreveu Lewis Carroll em Alice no País das Maravilhas – Se não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.
Nós somos o produto da nossa história, das nossas experiências e da interpretação que lhe demos. Conhecemo-nos melhor quando percebemos os esquemas que fomos criando e solidificando em nós. De acordo com Jeffrey Young, psicólogo e autor da teoria dos esquemas – esquemas são crenças e histórias centrais que construímos sobre nós mesmos e sobre os nossos relacionamentos. Um esquema é como se fosse uma lente através da qual vemos o mundo, organizamos as nossas experiências e interpretamos os eventos.
Essas histórias podem distorcer as nossas percepções e experiências com outras pessoas, o que nos pode levar a repetir padrões e comportamentos menos saudáveis.
Por exemplo, alguém com um esquema de abandono pode procurar de forma excessiva garantias/certezas, ficar dependente da outra pessoa, agir com ciúme e possessividade, e esses comportamentos podem realmente aumentar a probabilidade de que outros o abandonem. Criando um padrão.
Para além disso, estes esquemas também podem fazer com que as nossas escolhas de parceiro sejam influenciadas. As pessoas podem escolher um parceiro com um esquema semelhante ao seu, ou então um parceiro com um esquema inverso. Por exemplo, alguém com um esquema de abandono, que tem a crença de que os outros não são confiáveis e que mais cedo ou mais tarde vão acabar por o deixar. Pode ter mais tendência para escolher parceiros que tendem a autossacrificar-se na relação ou a serem mais dependentes, “garantindo” assim que é mais difícil serem abandonados.
9. Auto-sacrifício / subjugação: a crença de que deve sempre colocar as necessidades do seu parceiro acima das suas – seja porque as necessidades do seu parceiro são mais importantes ou porque tem medo da rejeição.
10. Padrões implacáveis: a crença de que ambos devem atender a altos padrões de desempenho – na vida e no relacionamento. E se esses padrões não forem atendidos, merecem ser criticados e punidos por isso.
É importante termos conhecimento dos nossos esquemas e dos esquemas do nosso parceiro porque quando os nossos esquemas são acionados, reagimos de maneiras diferentes, reagimos para nos proteger da dor emocional. Se tiver esta consciência e identificar os gatilhos dos seus esquemas principais, estará um passo mais perto de mudar as reações que alimentam lutas e conflitos.
É muito tentador apressarmo-nos no amor. É muito tentador pensar que estamos prontos para amar porque queremos – e não há nada de errado em querer. Mas essa pressa sem conhecimento e reflexão pode levá-lo a não escolher da melhor forma.
Procure desenvolver o seu autoconhecimento, em conhecer os seus valores e o seu esquema. Existem pessoas que passam a vida inteira sem saberem quem realmente são e o que realmente querem. Um psicólogo pode ajudar nessa jornada e a ter um relacionamento melhor consigo e com os outros.
Young, J. (2003). Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: Uma abordagem focada em esquemas. Porto Alegre: Artmed.
Young, J. E., & Behary, W. T. (1998). Schema-focused therapy for personality disorders. In N. Tarrier, A. Wells, & G. Haddock (Eds.), Treating complex cases: The cognitive behavioural approach (pp. 340-376). New York: John Wiley & Sons.
Cada um de nós vive e opera a partir de um conjunto complexo de crenças que nos definem e ao mundo em que vivemos. As nossas crenças são o berço dos nossos pensamentos, emoções e ações, são os filtros predispostos da nossa conceção do mundo, são como os governantes do cérebro, que tornam possível a ação e o comportamento, e são juntamente com os valores, as fontes mais importantes da motivação. Tudo o que acreditamos influenciará a nossa perceção, o que, em última análise, determinará como vivenciamos e respondemos às situações que surgem nas nossas vidas.
Por isso, convido-o a reservar um momento agora e explorar comigo os seus pensamentos. Repare se algum destas frases lhe soa familiar:
Estas crenças são chamadas de crenças centrais e moldam a sua realidade.
As crenças são essencialmente os óculos que você usa e que dão significado ao que os seus sentidos percecionam o mundo. O nosso cérebro não processa as coisas de maneira neutra. O que percebemos e interpretamos depende das crenças que temos. Temos crenças fundamentadas em fatos e crenças fundamentadas em emoções e na experiência de vida. Temos crenças sobre outras pessoas, sobre os nossos relacionamentos, sobre nós próprios: aquilo que somos capazes de fazer e aquilo que nos é possível. Aquilo que acreditamos ser verdade, tendemos a perceber e a experimentar como sendo verdade. Raramente questionamos as nossas crenças e enquanto estas permanecerem incontestáveis, elas moldarão as suas perceções e direcionarão as suas ações a um nível subliminar ou subconsciente.
Muitas são heranças que herdámos da nossa família, comunidade e cultura de forma implícita e inconsciente. Todas as crenças centrais foram adotadas, porque, de alguma forma, já nos protegeram ou nos serviram. Todas elas têm uma intenção positiva, embora, com o tempo, algumas crenças centrais poderão se transformar em crenças limitantes que não nos são mais úteis. Ou seja, a intenção positiva delas ainda existe, mas a maneira de cumprir essa intenção positiva pode não ser apropriada para a nossa realidade atual. E dessa forma, podemos criar obstáculos, que nos vão impedir de alcançar novos objetivos individuais e/ou relacionais.
“Aprendemos os nossos sistemas de crenças como crianças muito pequenas, e então passamos pela vida a criar experiências para combinar com as nossas crenças. Olhe para a sua própria vida e observe quantas vezes você passou pela mesma experiência.”
Louise L. Hay Tweet
As crenças são literalmente as lentes através das quais você vê o mundo. Elas podem:
Mas há uma boa notícia, não importa o que tenha acontecido consigo no passado, o seu percurso não é predeterminado. Só precisa de ajustar o seu sistema de crenças que governa o seu processo de criação da realidade. E este é um superpoder que você ganha quando aprende a questioná-las, pois crenças não examinadas operam dentro de si como “regras da realidade” bastante rígidas. Já as crenças examinadas, são muito mais adaptáveis; elas permitem que você se ajuste à realidade que se desenrola no presente.
Acredite, nem todos os pensamentos que surgem na nossa mente são verdadeiros. Repare, a maioria das pessoas tem entre 60.000 e 80.000 pensamentos por dia. Imagine se todos os pensamentos percebidos sobre nós mesmos e acerca do nosso mundo fossem verdadeiros – como teríamos tantos pensamentos únicos sobre tudo isso?
Por isso, lembre-se, crenças limitantes tornam-se um obstáculo quando são consideradas verdadeiras, logo, o próximo passo é identificar os pensamentos que não lhe servem e examiná-los de perto.
Mudar as crenças centrais é difícil e pode levar meses até que percecione uma mudança no seu comportamento. O seu cérebro, mente e corpo precisam de tempo para reconetar e internalizar “novas” lentes. No entanto, com algum trabalho persistente e disciplinado, é possível mudar essas crenças centrais.
Mindfulness não significa apenas meditação. Conforme definido pelo especialista em mindfulness Jon Kabat-Zinn, mindfulness é prestar atenção aos pensamentos e emoções sem julgamento. Trata-se realmente de viver a vida no AQUI e no AGORA.
Ao praticar a atenção plena de forma assídua, possibilita a pessoa se familiarizar com os seus pensamentos e emoções. À medida que as pessoas começam a observar esses pensamentos e aprendem como a mente gera crenças, elas podem determinar quais são as genuínas e quais não são.
Anote todas as crenças centrais que lhe vão surgindo como forma de o ajudar a reconhecer e as tornar explícitas. Ao lado de cada crença central, escreva:
2.1. Onde aprendeu isso? Existe alguém na sua família que tinha uma crença central semelhante (ou oposta)?
2.2. Qual a intenção positiva dessa crença? Ainda precisa dessa intenção positiva hoje? Em caso afirmativo, tente encontrar uma maneira mais adaptativa de alcançar essa intenção positiva?
Comece por identificar os pensamentos que se originam diretamente de crenças limitantes. Depois de reconhecer o pensamento baseado nessas crenças, por exemplo: “Eu não sou digno/a de amor” – pergunte a si mesmo o seguinte:
Para neutralizar esses pensamentos pode ser útil escrever um pensamento positivo/oposto. Por exemplo, se tiver um pensamento como: “Não tenho valor”. Tente escrever uma afirmação como “Sou uma pessoa com valor” ou “Sou uma pessoa com potencial”.
De início, pode ser difícil aceitar esses pensamentos substitutos, mas quanto mais colocar em prática em exercício, melhor vai conseguir neutralizar esses pensamentos.
Por que não começar agora? Pare de acreditar em tudo o que a sua mente lhe diz e comece a questionar as suas crenças limitantes e observe a si mesmo, o seu mundo, e logo, logo, a sua vida se transformará. Bem sei que é difícil iniciar este processo de desenvolvimento pessoal, mas eu estou aqui para lhe dar todo o apoio de que necessita, para o ajudar a enfrentar as suas dificuldades e alcançar os seus objetivos.
A vida passa num instante e sabemos que o único tempo que temos para viver é o agora.
Todo fim e princípio de ano, acaba por se tornar um momento de reflexão. Fazemos sempre um balanço do que queremos mudar e o que queremos continuar a nutrir, ao longo do ano que inicia.
A partir desta observação, surge a necessidade de mudar. Contudo, o tempo vai passando e acabamos atados ao que éramos no ano anterior, trazendo muita frustração.
É simples: porque não fazemos um balanço correto, não planeamos como iremos adotar mudanças positivas e duradouras em nossas vidas.
Há que avaliar o ponto situacional no qual nos encontramos. Definir objetivos claros, definir prioridades. Por em ação as ferramentas adequadas, em direção ao caminho que leva aos objetivos traçados. Mantendo o cérebro nutrido pela programação positiva escolhida, e por você delineada.
Toda caminhada tem pontos altos e baixos, mas também tem muitos ensinamentos, e isso nos ajuda a validar o que fez sentido e o que não fez. Quais foram as suas vivências desse ano?
Por mais que tenha sido um ciclo difícil, há sempre algo positivo para ser visto: amadurecimento, oportunidade de aprendizado, resiliência, etc.
Portanto, atente para os pontos positivos acumulados durante o ano que passou e perceba o que você mudou sem dar conta. Encontre e de enfase aos seus pontos fortes para mobilizar a sua mudança. Pois sem energia, sua mente possivelmente ficará estagnada.
Flexibilize e adapte-se! A capacidade de adaptação é uma qualidade que devemos cultivar. Como bem disse Darwin: “sobrevive o mais adaptado e não o mais forte.” Portanto, a sua força e determinação deverão unir-se à sua flexibilidade para que você saia vitorioso no processo de mudança.
Lembre-se de reavaliar a rota, caso as estratégias não tenham surtido os resultados esperados. Não quer dizer que você falhou, talvez os métodos utilizados apenas precisam ser revisados.
Reserve um momento, faça suas reflexões antes do ano terminar. E definitivamente, vá além de uma simples lista de desejos, avalie inclusive, como você conquistou suas realizações e transpôs os obstáculos.
Você pode começar por escolher um ou dois itens da lista abaixo. Você também criar novos itens.
Lembre-se! o menos é sempre mais!
Escolha suas metas de forma global e harmônica. Estabeleça prioridades e programe datas para realização das mesmas, no espaço do próximo ano.
Ouse, mas seja realista, tendo atenção aos pontos que dependem de você, ou seja, cada ação que você precisa empreender para alcançar a meta idealizada.
Compreenda que devemos manter sempre um espírito empreendedor, sem receios. Arriscando, sem medo de falhar. Sabemos que a vida nos traz desafios com altos e baixos. Devemos nos manter firmes, investindo largamente na empresa que somos, pois somos o sócio majoritário na nossa existência.
Empreendedorismo é uma virtude que pode ser aprendida e aprimorada, pois, através de tal virtude, se observa, que mesmo ao falhar inúmeras vezes, você pode obstinadamente ressurgir, com uma solução a cada momento.
Precisa de ajuda? Entre em contato connosco. Na Learn2be, temos equipa de psicólogos e coaches, com diversas ferramentas, capazes de minimizar o seu sabotador e estabelecer planos para a mudança efetiva em sua vida.
Uma excelente jornada em 2022.
Porém, existem diferentes formas de expressão ao luto, em culturas distintas. Cada pessoa experimenta a tristeza à sua maneira, dependendo de crenças, costumes, interpretação e significado de perda, logo o ritual de despedida pode variar.
O processo de luto é totalmente individual, mesmo com outras pessoas envolvidas na mesma dor. Isso porque cada um tem a sua própria maneira de interpretar esse vazio e a dor, desde o momento de um choro até aos dias que irão seguir-se.
E mesmo que seja um fato repetido na vida da mesma pessoa, ela pode reagir de formas distintas e por períodos variados.
Assim, podemos sentir luto pelo falecimento de alguém querido ou de um animal de estimação, pelo fim de um relacionamento amoroso, por ficar reformado, por um prejuízo muito grande, pela falência de um negócio, pela perda da saúde ou ainda pela perda de um trabalho.
A expressão do luto pode dar-se por manifestações físicas, – como o choro -, e emocionais, – como tristeza, raiva e ansiedade. Também há quem se comporte de maneira silenciosa, e não consiga chorar.
Podem surgir algumas doenças após um stress intenso, pois baixa a imunidade, assim como algumas dores frequentes, náuseas, vómitos, alteração de apetite e insónia, doença autoimune, doenças psicossomáticas, problemas cardíacos.
Essa manifestação emocional de luto é a mais frequente e universal. Envolve sentimentos de vazio, saudade intensa, desespero e solidão inconsoláveis. Choro acentuado e instabilidade emocional também são comuns.
São muitas emoções para gerir. Para quem perdeu um familiar, tarefas como comunicar outras pessoas, providenciar o funeral e o enterro ou cremação, o inventário e outras etapas burocráticas que seguem um falecimento, podem gerar uma intensa carga de stress. Se o luto for resultado de um divórcio, ainda pode envolver a guarda dos filhos, pensão e divisão de bens.
A reação mais imediata a uma perda pode ser uma espécie de estado de choque. Mesmo sabendo que é impossível, mantém a expectativa de que a pessoa querida possa chegar a qualquer momento. A pessoa não se reconhece, passa por um distanciamento da realidade e tem dificuldade em aceitar os fatos.
A ansiedade pode surgir por diversos fatores, muitas vezes não obviamente associados ao evento que gerou o luto. Após a perda de um emprego, o nível de ansiedade pode aumentar por causa das contas a pagar. Por outro lado, após a perda de alguém por uma doença grave, a ansiedade pode ser desencadeada por fatores que provocaram a doença.
Perder algo ou alguém costuma implicar em sensações de que algo poderia ter sido feito para evitar essa situação. Da mesma forma, o sentimento de que deixou de dizer coisas importantes ou até mesmo a culpa por se sentir aliviado com esse desfecho (que costuma aparecer nos casos de doença grave) também são legítimos e fazem parte do processo.
Raiva e ressentimento costumam estar envolvidos nas situações sobre o luto. Quem fica pode sentir raiva de quem partiu, das pessoas envolvidas na sua demissão do trabalho, da parceira ou parceiro que a deixou e até mesmo de si mesma. Tem a ver com a sensação de estar injustiçado.
Toda perda envolve desamparo. Implica na insegurança de continuar a viver uma nova realidade, sem o que foi perdido. Tem a ver também com a percepção da limitação da própria vida, o que gera ansiedade, medo e crises de pânico, nos casos mais graves.
A observação do luto nas pessoas gerou uma percepção sobre o processo: divide-se em etapas. Há várias teorias sobre as etapas, variando em quantidade e detalhamento de cada uma. Mas, no geral, a compreensão é de que o ser humano passa por elas durante a jornada de luto.
Também é um consenso que nem todos vivenciam todas as fases, tampouco que elas são uma sequência ou que têm duração pré-determinada. Uma pessoa enlutada pode passar por uma só, enquanto outra pode pular da primeira para a última. Cada um reage à sua maneira.
A teoria do luto mais conhecida foi elaborada pela psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross. A partir de anos de trabalho com doentes terminais, ela concluiu que as fases características do luto são:
Essas fases não são lineares, não necessariamente se passam nessa mesma ordem. Há pessoas que passam somente por uma, duas, três ou por todas, depende de cada um.
Gerir bem o luto não é esquecer a pessoa ou algo que perdeu. Trata-se de encontrar uma maneira de viver com a perda e ajustar-se às mudanças. Nem todos respondemos da mesma forma. Procure não se isolar, aceite a ajuda oferecida à sua volta, a raiva e tristeza são a ausência de amor. Receba o amor.
O processo de luto natural tem início, meio e fim. Para quem se pergunta quanto tempo dura a dor do luto ou como superar um luto, essa resposta não é exata. Afinal, é um processo muito particular. Porém, há uma noção de quando ele acaba. É o momento em que a pessoa supera a dor e consegue seguir em frente. Ainda que a saudade jamais acabe, ela não ocupa mais tanto espaço na vida de quem ficou.
Mas há casos em que esse momento não acontece, pois não é considerado luto natural. Normalmente envolve perdas bruscas e repentinas, como acidentes ou tragédias. É o que chamamos de luto complicado, como se fosse um luto crónico. Nesses casos em que a situação se torna insuportável, é necessário contar com ajuda profissional.
A psicoterapia é uma das atividades que pode ajudar a superar o luto. É preciso avaliar as preocupações, oferecer confiança e apoio, buscar as distorções cognitivas que bloqueiam a visão de alternativas saudáveis, trazer à tona sentimentos e pensamentos provenientes da perda e trabalhar a habilidade de se readaptar a uma nova realidade.
Um profissional ajuda a viver o luto e recuperar esse lado emocional abalado, fazendo com que o luto se torne uma saudade, uma memória afetiva boa de recordar, distante de pensamentos negativos.
Você pode viver e superar seu período de luto. Permita-se dar tempo ao tempo e comece o processo de negociação para aceitar a realidade e seguir a vida.
A perda é algo que nos une como seres humanos, e o luto é uma reação natural de todos nós perante uma perda, que não recebe um “diagnóstico” como outra condição, nomeadamente a ansiedade ou a depressão. É uma situação que todos experimentamos – perda – seja na forma de morte de alguém ou de um animal de estimação, perda de um relacionamento, perda de um emprego, perda de capacidades físicas e/ou cognitivas ou até mesmo a perda da nossa vida como a conhecíamos, ou outras coisas que valorizamos.
Posto isto, e metaforizando, a perda pode ser descrita como uma ferida aberta que provoca dor e que precisa de ser tratada – A ferida é tudo o que você pode pensar – é consumidora. Já o luto é frequentemente descrito como o processo de cura da ferida. Se as condições forem adequadas, as feridas cicatrizarão naturalmente com o tempo. Porém, é muito doloroso reconhecer ou cuidar de uma ferida – e por isso o tempo nem sempre cura da maneira que esperamos. E temos que ter em atenção de que se uma ferida não for tratada, ela pode infetar e a dor da tristeza agravar-se e quando isso acontece precisa de cuidados para que possa cicatrizar. E uma forma de cuidar dessa dor, e ajudar a cicatrizar, é falar sobre o que aconteceu e como se sente. Claro que existem feridas que após sararem, deixam cicatrizes mais ou menos profundas consoante a ferida. Contudo, com o passar do tempo, ela deixa de doer da mesma forma, e apenas faz parte de si.
Vários autores, com diferentes perspetivas, definiram modelos e abordaram o processo de luto. O modelo que vai ser focado foi proposto por Elisabeth Kübler-Ross no seu livro On Death and Dying, publicado em 1969. O mesmo propõe uma descrição de cinco estágios comuns pelos quais as pessoas passam ao lidar com a perda, o luto e a tragédia, sendo que estes, não são vividos linearmente, como se costuma acreditar. Cada indivíduo passa por essa experiência de modo singular, de acordo com a sua história emocional e de vida.
A negação é o estágio que pode inicialmente ajudá-lo a lidar melhor com a perda. Nesta fase, a pessoa pode negar o acontecimento, é como se esta negasse a sua própria realidade. E isso pode fazer com que essa mesma pessoa continue como se nada tivesse acontecido. No estágio de negação, o individuo não está a viver na “realidade real”, mas sim numa realidade “preferível”. De uma forma curiosa, na realidade a negação e o choque vão auxiliá-lo, ajudando a controlar os seus sentimentos inerentes ao luto. Pense nisso como um mecanismo de defesa natural do seu corpo a dizer-lhe: “presta atenção, há um limite para o que consigo lidar de uma só vez”.
Quando o indivíduo passa a fase de negação e começa a enfrentar a sua própria realidade ao invés da “preferível”, poderá instalar-se um sentimento de raiva, e esta etapa é mesmo a considerada a mais problemática. Neste estágio é comum pensar-se: “a vida não é justa!” e/ou “por que motivo isto me está a acontecer?”. A pessoa, pode até mesmo culpabilizar os outros pela causa da sua dor e também pode redirecionar a sua raiva para amigos próximos e familiares. Se o indivíduo tiver muita fé em Deus, pode começar a questionar sua crença, perguntando-se: “Onde está Deus?”, “Por que motivo Ele não me protegeu?”. Logo, não é saudável suprimir esta emoção de raiva pois é uma resposta natural e, sem dúvida, um passo natural na cura.
Este estágio pode dar-lhe uma sensação de falsa esperança. Uma vez que a pessoa pode acreditar que é possível evitar o luto por meio de um tipo de negociação. O indivíduo está tão desesperado para voltar a ser como era antes da perda, que está disposto a fazer uma grande mudança numa tentativa de voltar à normalidade. Aquilo que acaba por acontecer é tentar descobrir se há algo que se possa fazer ou mudar no acontecimento indesejável, suportando infindáveis declarações do tipo “e se”, por exemplo: “Se eu tivesse saído de casa 5 minutos antes, o acidente nunca teria acontecido” – isso é uma negociação.
Uma das cinco fases do luto mais intensas é a depressão. Representa o vazio que sentimos quando vivemos na realidade e percebemos que a pessoa ou o acontecimento terminou e já não há nada a fazer. Nesse estágio, o indivíduo pode afastar-se das suas rotinas, sentir-se desanimado, como se vivesse numa névoa o que o leva a isolar-se. Este estágio do luto requer muito apoio de pessoas próximas, além de acompanhamento psicológico.
O último estágio de luto descrito por Kübler-Ross é a aceitação. Aceitação, não no sentido de que “está tudo bem”, mas em encontrar algo positivo na situação que originou o luto. Definitivamente, é um momento de ajuste e reajuste, onde as emoções começam a estabilizar-se, dado que a pessoa reentrou na sua nova realidade. Existem dias bons, existem dias menos bons e nada é permanente, ou seja, a pessoa não estará eternamente triste, mas sim, move-se, cresce e evolui para sua nova realidade – convivendo pacificamente com a perda – é encarar este processo como uma oportunidade de transformação.
As circunstâncias da perda podem afetar o modo como se sofre, por isso é que nem todas as perdas são iguais e nem nos afetam da mesma forma, nomeadamente a perda de um ente querido e incluem:
O luto é mais do que apenas tristeza e você pode ser dominado por uma variedade de emoções e sentimentos diferentes em seu corpo à medida que seu luto muda com o tempo. O luto é diferente para cada pessoa, cada um lida com ele de uma maneira única. É natural sentir qualquer emoção como tristeza, raiva, culpa, ansiedade, arrependimento, frustração, mágoa, vazio, alívio, desespero, vergonha, descrença, fadiga. Seja o que for que você sinta, é importante encontrar maneiras de processar e lidar com sua dor, independentemente de como ela o afete. Isso pode significar conversar sobre o assunto com pessoas em quem você confia ou recorrer a acompanhamento psicológico, evitar os nossos sentimentos não os faz ir embora e pode fazer com que a dor persista.
Conte comigo para o auxiliar nesse processo. Dê, AGORA, o primeiro passo nessa direção.
A Dra. Mafalda Fernandes da Clínica Learn2Be apresenta o ciclo de entrevistas exclusivas: “Conversas que curam”. Neste nono episódio o tema abordado: Os desafios da saúde mental e relacionamentos. Uma conversa entre a Psicóloga Clínica Dra. Mafalda Fernandes e Catarina Raminhos, Autora e Criadora de conteúdos.
A nossa mente é fascinante, ao contrário de outros animais, os humanos passam muito tempo a pensar, o cérebro humano é capaz de ter milhares de pensamentos por dia. A maioria desses pensamentos não são sobre o que está a acontecer no momento, mas são sobretudo acerca do que já aconteceu no passado, do que pode acontecer no futuro ou do que pode nunca acontecer.
Isto porque o nosso cérebro não foi programado para nos deixar mais felizes, a evolução preparou-nos para estarmos constantemente preocupados, a pensar em possíveis problemas e perigos. Dessa forma conseguimos sobreviver, reproduzir e garantir o futuro da espécie. Este tipo de pensamento apesar de desagradável, é bastante útil, pois permite-nos encontrar soluções para os desafios antes de acontecerem. Ao mesmo tempo essa capacidade de nos preocuparmos com o futuro também pode funcionar contra nós, gerando constantes pensamentos negativos. Mas já não vivemos em planícies e não temos de caçar para comer, o que significa que podemos treinar o nosso cérebro a ter pensamentos mais ajustados e mais positivos.
O psiquiatra Daniel G. Amen (2013) faz uma analogia entre as formigas e os pensamentos negativos. Algumas formigas num piquenique são naturais e fáceis de lidar, muitas formigas num piquenique podem arruinar esse momento. Os pensamentos negativos funcionam da mesma forma, se forem demasiados tornam-se prejudiciais.
Provavelmente já se sentiu atormentado por pensamentos negativos que não queria ter, como por exemplo “Eu nunca faço nada bem”, “sou um falhado”, “não vou conseguir”, “alguma coisa má vai acontecer, é sempre assim”, “ninguém gosta de mim”, “vou perder o controlo”. Chamamos a este tipo de pensamentos de pensamentos negativos automáticos, porque são espontâneos, rápidos e nem sempre temos consciência deles, eles simplesmente aparecem na nossa mente (Beck, Rush, Shaw, Emery, 1979; Beck, 1997, 2011).
O problema é que a nossa mente, mente! E muitos pensamentos automáticos não correspondem à realidade, então precisamos identificar este tipo de pensamentos, questioná-los e modificá-los para pensamentos mais ajustados à realidade.
Em primeiro lugar, é importante ter consciência de que nós não somos aquilo pensamentos. Em última instância somos aquilo que fazemos. Como já vimos, também é importante perceber que os pensamentos e a realidade não são a mesma coisa. Se pensar imensas vezes, durante todo o dia, e desejar com toda a força que a sua relva seja cortada, no final do dia ela estará na mesma e terá que a cortar você mesmo.
Em segundo lugar, tentar reprimir ou evitar esses pensamentos não funciona, é como lutar com uma bola numa piscina. Tentamos empurrar a bola para debaixo de água, no entanto a bola volta sempre ao de cima, então continuamos a segurá-la com força debaixo de água. Mas lutar dessa forma faz com que a bola fique sempre ali perto de nós e ao mesmo tempo é cansativo e inútil. Se largássemos a bola, ela iria aparecer com toda a força e provavelmente não iríamos gostar. Mas se conseguirmos deixá-la flutuar por um tempo sem agarrá-la, ela pode eventualmente se ir afastando para o outro lado da piscina. E mesmo que isso não acontecesse, pelo menos poderíamos aproveitar a energia, usar os braços e nadar, em vez de gastar tempo e energia a lutar com a bola.
Em terceiro lugar pensamentos são importantes, eles podem influenciar a forma como nos sentimos emocionalmente e fisiologicamente, assim como nos comportamos. E tudo que é importante devemos tomar conta e não deixar ao acaso. Assuma uma atitude proativa em relação aos seus pensamentos, da próxima vez que notar um pensamento negativo, reconheça-o, desafie-o e transforme-o. Faça isso de forma consistente e irá começar a ter pensamentos mais ajustados à realidade e com eles melhores sentimentos.
1) Tenha consciência dos pensamentos
O primeiro passo é prestar atenção a esses pensamentos, muitas vezes eles são acompanhados de uma mudança de humor. Fique atento. Quando perceber os seus pensamentos, anote-os num caderno ou no seu smartphone, desta forma vai ser mais fácil tomar consciência deles e conseguir ajustá-los.
2) Questione os pensamentos
Como vimos, os pensamentos nem sempre são verdadeiros, precisamos de testar a sua validade e utilidade.
Questione-se: Quais são as evidências a favor e contra este pensamento? Qual é a utilidade deste pensamento? Não aceite todos os pensamentos, enfrente-os e não deixe que eles limitem a sua vida.
3) Substitua-o por um pensamento mais ajustado
Transforme os seus pensamentos negativos em algo mais positivo e provavelmente mais realista. Por exemplo, quando comete um erro no seu trabalho e pensa “Vou ser despedido. Sou um fracasso no meu trabalho”, talvez um pensamento mais realista e ajustado seria “Cometi um erro, erros acontecem, mas sempre cumpri o meu trabalho de forma eficiente, vou enfrentar isto como já fiz no passado”.
[Bónus] – Faça aqui o download da sua ficha de registo de pensamentos para o ajudar a ter pensamentos mais ajustados e positivos.
A boa noticia é que não precisa de ser tornar um monge, viver a sua vida toda no Tibete nem ler mil livro de auto-ajuda para acalmar a sua mente e ter pensamentos mais positivos. Comece a pôr em prática estas dicas, treine a sua mente e desfrute dos resultados. Quando conseguimos corrigir estes pensamentos negativos e substituí-los por outros mais apropriados, temos mais hipóteses de viver uma vida mais feliz e mais bem-sucedida.
Por outro lado, podem existir momentos que sozinhos não conseguimos, então se de alguma forma se sentir oprimido por pensamentos negativos ou sentir que eles estão a afetar significativamente a sua vida, considere a ajuda de um profissional. Um psicólogo pode ajudá-lo a restruturar o seu pensamento, gerir as emoções e mudar a forma como se vê a si, aos outros e ao futuro.
Amen, D. G. (2013). Mude de cérebro, mude de vida. Lisboa: Pergaminho.
Beck, J. S. (1997). Terapia cognitiva: teoria e prática (S. Costa, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas.
Beck, A. T., Rush, A. J., Shaw, B. F., & Emery, G. (1979). Cognitive therapy of depression. New York, NY: The Guilford Press.
Beck, J. (2011). Cognitive Behavior Therapy. Basics and Beyond. New York, NY: The Guilford Press.
Dor pungente no peito
Coração quase sem batida
Olhar preso ao leito
Desespero suga a vida
Corpo algemado na tristeza
Ideia carente de futuro
Irreparável, a certeza
Um intransponível muro
Saudade de ti, meu amor
Sem vírgula, interrogação
Apenas a dor
Eco da solidão
Pensamento flutua em loucura
Apertado pela negação
Desespero em não ver cura
Angústia prende a razão
Tempo de mudar a estória
Encontrar mão que ajuda
Partilhar a perda, aguda
Dar novo sentido à memória
Difícil lembrar a ferida
Escutar a palavra diferente
Não pensar como se sente
Perceber a mente iludida
Na terapia sentir o calor
Esperança, novo sentido
Recuperar ânimo perdido
Colorir a vida interior
Apesar de não esquecer
Desamarrar a vontade
Voltar a sentir liberdade
Para a anedonia perder
Pintar a emoção de cor
Ouvir o som da vida
Perceber a palavra ouvida
Colocar no lugar certo, a dor
Com frequência aparecem pessoas na consulta a procurar apoio psicológico com esta finalidade: aprenderem a dominar os pensamentos, ou mesmo eliminá-los, bloqueá-los, proibir a existência deles. O Tomás é uma dessas pessoas: 29 anos, executivo com elevadas responsabilidades, com pensamentos intrusivos com teor predominantemente catastrófico e que, por vezes, o levam a ter comportamentos repetidos (abrir e fechar uma janela várias vezes seguidas), associados a um pensamento mágico (se não abro e fecho a janela várias vezes algo de mau vai acontecer comigo). Estes comportamentos (compulsões) acabam, na maior parte das vezes, por acalmar o Tomás.
Coloquei, no início do texto, a palavra meus entre aspas com um propósito de destaque: na realidade, os pensamentos não são meus. Não só os pensamentos não são nossos, como não traduzem verdades absolutas, sendo o cérebro um mecanismo de passagem (transitória) destes pensamentos. E, se não são meus, então o que é que se faz com isto?
Quanto mais queremos estar em controlo dos pensamentos (decidindo que não queremos que os pensamentos A e B passem pela nossa mente), mais eles circulam na nossa mente porque estamos, precisamente, a alimentar uma ideia sobre aqueles pensamentos (estamos a elaborar – a pensar – sobre aquele pensamento que desejamos eliminar; estamos a dar-lhe combustível, em vez de lhe retirar o oxigénio). Vou-lhe pedir que faça uma experiência muito simples: ficando com os olhos fechados por uns segundos, peço-lhe que não pense num elefante amarelo. Conseguiu não pensar num elefante amarelo? Conseguiu impedir que surgisse na sua mente a imagem de um elefante amarelo? Provavelmente não conseguiu evitar. Quanto mais pensamos “não posso pensar nisto…”, mais presente aquele tema vai estar na minha mente.
Em paralelo devemos fazer um esforço por aumentar a frequência de atividades que acalmem a mente e o corpo, isto é, que abrandem o ritmo dos pensamentos.
Meditação, exercícios de respiração profunda, de relaxamento muscular e de visualização guiada são formas expeditas de abrandar a mente, isto é, de reduzir o fluxo de pensamentos que nos passam pela frente, levando a um foco maior no presente, a uma sensação de libertação de peso emocional e a uma maior clareza mental.
Poderá estar a perguntar-se se haverá forma de treinarmos a nossa mente, de a “disciplinar”. Em certa medida a resposta será afirmativa: se aceitarmos as emoções e escutarmos as mensagens que elas nos transmitem; se alimentarmos um diálogo interno mais racional que nos permite distanciar dos pensamentos e compreender a sua transitoriedade; se experimentarmos comportamentos diferentes, mantendo a abertura suficiente para aceitar que o resultado pode vir a ser diferente daquele (catastrófico) que era, geralmente, mais temido; então, sim, estamos a contribuir para a disciplina da nossa mente.
Não espere pela motivação certa para procurar apoio psicológico. A motivação é uma emoção e, se as suas emoções estão desequilibradas, é por isso mesmo que deve procurar ajuda.
Obrigado pela sua atenção.
A capacidade de imaginar situações, tanto no curto prazo como em tempos mais diferidos do presente, apesar de ser uma fantástica competência específica dos humanos, pode trazer dificuldades difíceis de contornar. Uma delas é representada pelo acesso á consciência de pensamentos de cariz negativo e repetitivo cuja natureza involuntária e prejudicial confere um significado parasita. Estes pensamentos, com um conteúdo organizado em torno de pessoas ou situações expressam preocupações, dúvidas e/ou vulnerabilidades, todas elas uma expressão de vulnerabilidade, insegurança ou, até medo.
O pensamento, uma das mais belas ferramentas da mente, nem sempre está salvaguardado do controlo necessário que assegura a bondade das operações de compreensão, avaliação e decisão efetuadas pelas pessoas. A existência de ansiedade ou angústia, decorrente de emoções ativadas pela perceção de ameaça nos diversos graus de intensidade, afeta de maneira significativa o pensamento provocando vieses de tendência negativa. Ao invés de uma ferramenta nuclear de apreciação da realidade, transforma-se num refém de emoções que o transportam para a visão negativa da realidade, presente ou futura. Uma visão que, carente da controlabilidade consciente da pessoa, vai expressando-se repetidamente o que acaba por realimentar a ansiedade que a gera.
Apesar da sua lógica questionável ou irracional eles permanecem ativos na consciência e influenciam as suas decisões. Por vezes irrompem subitamente sem qualquer relação com a atividade ou contexto em que a pessoa se encontra, manifestando-se em momentos inoportunos. Incentivam as pessoas a fazerem avaliações sobre situações que habitualmente geram autocrítica, culpa, vergonha ou dúvida que, consequentemente, alimentam a sua repetição. Estes pensamentos têm, por isso, uma natureza ruminante que se revela prejudicial na medida em que assumem o controlo da consciência e afetam a função da atenção ou, até, da memória e do raciocínio.
Estes pensamentos involuntários que cumprem uma função parasita estão normalmente associados a medos ou inseguranças que geram sentimentos de dúvida, preocupação, pessimismo, ameaça, impotência, excesso de responsabilidade, perfecionismo, superstição, etc. Isto significa que eles são fundamentalmente a expressão ideativa de emoções que causam desconforto nas pessoas o que as leva frequentemente a desenvolver ações que visam restaurar o conforto e segurança. Estas ações de natureza compulsiva podem ser apenas mentais, de repetição de palavras ou ideias ou de contagem de objetos, ou podem ser comportamentais e visar a manutenção do asseio e higiene, do controlo de contágio, de verificação de situações, de criação e manutenção da organização no contexto onde a pessoa vive e trabalha.
A existência de pensamentos involuntários, com uma natureza repetitiva e improdutiva, acompanhada ou não de ações de natureza compulsiva, deve constituir motivo de avaliação. O objetivo é identificar a possibilidade de a pessoa estar a desenvolver pensamentos obsessivos que diminuem a sua qualidade de vida e, em casos mais pronunciados, causam sofrimento psíquico e perturbação mental. Na maioria das vezes, a ocorrência deste tipo de fenómeno mental recomenda a realização de psicoterapia com vista a um reajustamento dos processos emocionais e cognitivos.
A psicoterapia vai ajudar a pessoa a identificar as causas dos pensamentos parasitas, um auto-conhecimento que vai ajudá-la a modificar a forma de lidar com eles. Um dos aspetos mais importantes é aumentar a capacidade de reconhecer a dimensão irracional e pouco realista que os suporta e a falta de utilidade que os carateriza. Ao mesmo tempo, o processo transformativo gerado pela psicoterapia vai ajudar a pessoa a melhorar a perceção de si e a capacidade de enfrentar os estímulos desafiadores, permitindo-lhe desenvolver a segurança suficiente para impedir a emergência de sentimentos que se vão constituir em gatilhos emocionais que despoletam pensamentos obsessivos.