
Não será objetivo deste texto explorar as particularidades de uma corrida de fórmula 1, até porque os conhecimentos neste desporto não me permitem realizar grandes reflexões. Mas existem imagens dessas mesmas corridas que teimam em fazer me refletir nas analogias entre a corrida e a nossa vida quotidiana.
Grandes máquinas, imenso potencial, ritmo alucinante, aqui reside a primeira analogia.
O ritmo que nos é imposto por compromissos profissionais, relacionais, familiares é veloz…
Percebemos, ao olharmos para ao lado, que existem outros pilotos a bordo de outras máquinas. Estamos no “controlo” da máquina e sabemos que existem curvas ardilosas no percurso, que obrigatoriamente nos fazem tirar o pé do acelerador, algumas que implicam mesmo reduzir na caixa de velocidade, mas a tendência é, corajosamente, mantermo-nos ao volante, independentemente das condições climatéricas, obstáculos ou estado de cansaço.
Qualquer piloto sabe que uma corrida implica uma equipa e que no outro lado do auricular que transporta, existe um individuo que estudou a máquina, a pista, as mudanças climatéricas e os ajustes necessários para permanecer na corrida e quem sabe terminar em lugar de pódio.
A inteligência do piloto reside então em pontos específicos; na segurança que tem na máquina, nos diversos técnicos que compõem a sua equipa, na leitura da corrida e na capacidade de perceber a máquina que conduz (leia-se reconhecer os sinais que a máquina envia nomeadamente o comportamento dos pneus à entrada da ultima curva). Poderá estar uma equipa inteira a recomendar uma ida às boxes, mas a decisão final é do piloto, afinal é ele que tem a máquina nas mãos.
Aqui entra a segunda analogia. Muitas vezes me tem questionado o que é a Psicoterapia, e penso que ninguém quer uma definição da Wikipédia ou de um qualquer manual de psicologia. Há pouco tempo e durante uma sessão surgiu então esta ideia.
Naqueles minutos se ganham e perdem corridas, se terminam ou não corridas. Naqueles minutos, alguém (vou chamar-lhe de psicoterapeuta) analisa a máquina, identifica problemas nos pneus, na caixa de transmissão, no travão. Verifica o estado do piloto, confirma os seus recursos para permanecer na prova, e pode mesmo, em conjunto com o piloto decidir que aquela corrida não é para vencer, é para permanecer, mas a oportunidade de subir na classificação reside numa mudança mais estrutural na máquina e no piloto, mudança essa que ocupa mais tempo do que aqueles escassos minutos na boxe, ou seja algumas horas de oficina.
Muitas vezes nas imagens das corridas de Formula1, aquando da chegada do piloto às boxes, dão conta do piloto a tirar as mãos do volante, quase como num acto de entrega alicerçado no reconhecimento de competências, a alguém exterior e sobre o qual deposita total confiança para analisar as suas condições e as condições da máquina, num Leap of Faith.
Na nossa corrida de fórmula 1 são vários os elementos da equipa; esposo/a, pais, amigos/as, colegas, filhos/as, mas por vezes é necessário o chefe de oficina, aquele que possui conhecimento técnico da máquina, do piloto e da pista. Este muitas vezes disponibiliza ideias, ferramentas, alternativas, rompe com padrões habituais de condução, até então pouco profícuos, e promove novos padrões comportamentais impulsionadores de maior satisfação/gratificação durante a prova com uma ideia mais clara e realista sobre a classificação final.
Com esta analogia pretendo demonstrar qual o papel do psicoterapeuta no nosso processo de desenvolvimento pessoal, relacional e profissional e a inteligência emocional de quem a ele recorre em determinadas etapas nas várias provas da Vida.