
Num dos artigos que escrevi – O que podemos semear para recolher bem-estar psicológico? – a resiliência é um dos temas ao qual dediquei algum tempo de reflexão. E recordando esse mesmo artigo, por resiliência entenda-se ter a capacidade para, perante uma adversidade, nos adaptarmos – psicológica, emocional e fisicamente – razoavelmente bem e sem prejuízo duradouro para nós próprios, para o nosso relacionamento com os outros ou para o nosso próprio desenvolvimento como indivíduos.
Face ao contexto que estamos a viver, e de acordo com a minha prática clínica, torna-se cada vez mais evidente a necessidade de ativar as respostas resilientes dos meus clientes de forma a sentirem-se mais confiantes consigo e consequentemente, na forma de lidarem com as situações à sua volta.
De facto, podemos pensar na resiliência como vital para sobrevivermos e até crescermos perante as dificuldades. Frequentemente, esperamos que as nossas vidas sigam numa determinada direção, contudo nem sempre isto acontece. Pelo caminho vamo-nos deparando com situações que nos podem obrigar a desviar desse mesmo caminho idealizado, o que nos pode levar a sentir zanga, frustração e até mesmo tristeza. É perfeitamente natural sentirmo-nos desconfortáveis com a incerteza inerente a qualquer mudança repentina. Mas recuperar – ser resiliente – significa que somos capazes de nos adaptar rapidamente, tornando-nos mais capazes de alavancar mudanças, resolver problemas e conflitos.
A nossa capacidade de recuperar o equilíbrio emocional em momentos nos quais somos desviados do caminho idealizado por pequenos contratempos, irá ser um importante indicador da forma como iremos lidar no futuro com adversidades maiores.
Se apresentarmos uma tendência para refletir e ficar obcecados com pequenos desafios com os quais nos formos deparando, como uma fila no supermercado ou no trânsito, isso não será um bom presságio no que diz respeito à forma como iremos lidar com questões mais importantes, como por exemplo, perder um emprego, enfrentar uma situação de doença ou até mesmo passar por um divórcio. A ruminação é um pensamento negativo, repetitivo, geralmente sobre coisas que não estão sob o nosso controlo.
A utilização deste tipo de estratégia encontra-se positivamente relacionada com o desajustamento psicossocial, ou seja, podemos pensar na ruminação como um sabotador do nosso equilíbrio emocional.
Acredito que neste momento esteja a pensar para consigo que de vez em quando até utiliza esta estratégia. Que dá por si a pensar e a focar-se em coisas que não estão sob o seu controlo. Tem toda a razão, é perfeitamente natural que aconteça. Mas lembre-se, é uma escolha sua! É uma escolha sua permitir que esse pensamento se mantenha de forma descontrolada e atinja níveis de ansiedade e stress incapacitantes ou, por outro lado, é uma escolha sua estar atenta a esse tipo de pensamentos e dizer para consigo própria, CHEGA!
Por vezes, podemos até pensar e dizer para nós próprios que o facto de estarmos obcecados a pensar sobre um determinado assunto, pode ser porque estamos a procurar uma solução eficaz para esse mesmo problema. Será realmente uma solução eficaz? Reforço, a escolha é sua! Pergunte a si mesmo: estou a focar-me em alguma ação específica que está sob o meu controlo, que posso fazer, ou em algo que está fora do meu controlo e que eu não posso modificar? Caso a sua resposta seja em algo que é externo a si, em algo que não está sob o seu controlo, é muito provável que esteja a utilizar a ruminação como estratégia.
Se sente que este é o seu caso, que muitas vezes se sente dominada pelos seus pensamentos, que não está a conseguir colocar-lhes um travão, estamos cá para a ajudar! É a sua vida e por essa razão cabe-lhe a si assumir a sua liderança. Só desta forma poderá encontrar o verdadeiro bem-estar.
Convido-a agora a refletir sobre algumas perspetivas no que diz respeito à forma como pensamos sobre as coisas.
Já reparou que os nossos estados emocionais têm gatilhos? Ou seja, que podem ser despoletados por determinadas situações ou acontecimentos?
Pois é, os estados emocionais têm gatilhos, que podem ser internos (pensamentos) ou externos (coisas que experienciamos). Mas, importa perceber que um mesmo gatilho pode levar a respostas muito diferentes, pois a diferença está na interpretação, ou seja, a sua reação emocional irá depender da forma como vê as coisas. Vejamos, se tivermos uma resposta emocional negativa a uma experiência específica, é porque estruturámos essa situação de uma forma que nos levou a criar esses sentimentos desagradáveis.
Ou seja, a forma como estruturamos as situações pode-nos ajudar a gerir melhor as nossas respostas.
Uma perspetiva interna é uma perspetiva que nos coloca a nós no centro de tudo. Culpabilizamo-nos por aquilo que correu mal, quando, na realidade, podem estar presente tantos outros fatores. Uma perspetiva externa é exatamente o oposto, é quando se coloca a culpa em tudo ou em todos, menos em nós próprios. Pergunto-lhe, qual destas perspetivas lhe parece a mais saudável? Será que a escolha de uma em detrimento da outra é a escolha acertada?
Não! A escolha acertada está no meio, ou seja, quando interiorizamos o suficiente para obter resultados e aprender com a experiência, mas não tanto ao ponto de assumir a responsabilidade por coisas que não estão sob o nosso controlo, que não foram da sua responsabilidade.
Compreendo perfeitamente que possa pensar que algumas das experiências pelas quais foi passando possam parecer totalmente negativas, no entanto, deixe-me dizer-lhe que é raro não encontrarmos algum valor, temos sim é de fazer um esforço para vê-lo. Aqui, em contexto terapêutico, podemos ajudá-la a desenvolver uma nova forma de olhar, a qual lhe permita reconhecer em si o valor que tem e que merece sentir.
Se nos focarmos apenas no lado negativo das situações, simplesmente submergiremos num estado profundo de tristeza, desamparo, no qual dificilmente conseguiremos aprender alguma coisa.
Coisas más, negativas, podem acontecer a qualquer pessoa. No entanto, existe uma tendência para quando as coisas correm mal, geralmente pensarmos que somos os únicos a quem algo de tão mau acontece. Deixe-me dar-lhe um exemplo, se por acaso já chegou atrasada a algum compromisso, e isso a estava a fazer sentir incomodada, ansiosa, porém quando chegou percebeu que outra pessoa também está atrasada. Como é que isso a fez sentir? Não se terá sentido melhor, mais aliviada? Este é um exemplo de mudança do pensamento específico (O que será que irão pensar de mim por estar a chegar atrasada? Sou má profissional por chegar atrasada) para um pensamento global (estar atrasado pode acontecer a qualquer um de nós, não é o fim do mundo).
Tudo se transforma, nada dura para sempre. Tudo aquilo que possa estar a viver neste momento, que possa estar a sentir, vai passar – assim como tudo aquilo pelo qual foi passando no passado. E para que isso aconteça, terá de aprender a desenvolver uma diferente forma de olhar, de pensar sobre as coisas. De assumir que independentemente daquilo que acontecer, irá ser capaz de lidar com isso, de superar a situação. Desenvolvendo esta forma de pensar sobre as coisas, automaticamente as nossas reações emocionais deixam de ser tão fortes e intensas, denotando-nos a capacidade de as gerir e não de sermos dominadas por estas.