
Esta é uma questão que de facto muito nos atormenta. E embora a necessidade de mudança esteja bastante presente na maioria das pessoas, o deixar para trás aquele que é atualmente o nosso presente, traz-nos também uma grande ansiedade. Como que resistíssemos a efetivar a mudança que sentimos que tanto precisamos. E porquê? Há uma frase que me faz muito sentido e que nos diz que:
O que me leva a falar de confiança… A confiança em nós, em assumirmos as nossas decisões, em confiar em nós ao ponto de sabermos que independentemente do que vier a acontecer e de que forma acontecer, eu estarei pronta para lidar, mesmo com os erros que eu possa cometer.
Na minha prática clínica, a CONFIANÇA é um tema muito comum e que acabamos praticamente sempre por abordar. Embora os contextos de cada pessoa sejam diferentes, bem como os motivos que as levam a procurar ajuda terapêutica, acabamos sempre por identificar uma limitação que as pessoas gostariam de eliminar das suas vidas: a falta de confiança para dar um determinado passo, para arriscar, tomar uma decisão, ter uma conversa, assumir um compromisso. E por isso considero que a confiança é um recurso essencial quando se trata de alcançar resultados e cumprir os nossos planos na direção dos nossos objetivos. Acima de tudo, há uma premissa que tenho como certa.
É que as pessoas que têm tanto receio da mudança são pessoas que olham para a mudança como uma perda e nunca para o valor que essa mudança trará.
São pessoas que se focam naquilo que vão deixar para trás, pois mudar pressupõe fazer uma escolha e inerente a qualquer escolha há sempre algo que temos de abdicar em função do objeto escolhido.
E esta escolha nem sempre é fácil.
E é por isso que se torna essencial que o foco da pessoa seja na parte positiva, no valor, em tudo aquilo que essa mudança lhe vai trazer, pois devemos pensar na mudança como movimento, mover-nos na direção do autoconhecimento, da nossa melhor versão, e não necessariamente naquilo que vamos deixar para trás.
E é isto que permite distinguir as pessoas que mudam, das pessoas que não mudam. Muda quem acredita em si próprio, quem não tem medo de se colocar em causa, de se sentir mais frágil. E isto acontece muito, por exemplo, perante uma mudança de emprego. Mudar de emprego pressupõe deixar para trás um contexto onde há partida nos sentimos confiantes no desempenho das nossas funções, sabemos aquilo que é esperado de nós e, portanto, temos a nossa identidade profissional consolidada, ou seja, é no fundo um contexto onde nos sentimos seguros. E é aqui que reside a nossa maior dificuldade perante a mudança. É quando nos focamos na segurança que sentimos naquilo que temos, na nossa zona de conforto! É o medo que nos causa pensar em sair da nossa zona de conforto que muitas vezes nos bloqueia e impede de avançar. Pois mudar implica rumar na direção do desconhecido, causando-nos desconfiança e desconforto.
No entanto, a confiança é ganha através de atos de coragem! Ter a coragem de romper com aquilo que nos incomoda, de deixar para trás o que nos causa desconforto. E para isso, é essencial estarmos motivados para a mudança, focando-nos no que realmente importa. Mudar não tem de significar necessariamente deixar de ser quem somos. Por vezes pequenas mudanças, nos nossos hábitos e rotinas, são suficientes para terem um grande impacto em nós e para nos fazer ganhar a confiança que precisamos para efetivar mudanças maiores.
Mudar significa olhar para o que queremos ser, para o que queremos ter, o que queremos atingir e colocarmos o foco nisso mesmo, pois aquilo que focamos aumenta, e assim tornar-se-á mais fácil não encontrarmos desculpas que nos impedem de concretizar a mudança que tanto desejamos.
Sempre que adiamos o que realmente queremos, estamos no fundo a procurar um conforto no que já temos, no que já conhecemos, um conforto ilusório.
E é natural que para sairmos deste conforto aparente, sejam necessários alguns incentivos, quer sejam internos (connosco próprios através do nosso diálogo interno), quer sejam externos – por exemplo através de processos de coaching.
É através de pequenas mudanças de comportamento e da introdução de novas informações que o caminho para a mudança pode começar a ser olhado pelo próprio como possível.
Desde a década de 1980, estudos e investigações sobre Psicologia do Desenvolvimento têm apontado a importância das relações familiares e outros ambientes relacionais no desenvolvimento das habilidades de mentalização e do desenvolvimento sociocognitivo das crianças. Entenda-se por mentalização a capacidade para compreender os outros, bem como a nós próprios, através da imaginação e atribuição de estados mentais. De acordo com os estudos realizados, será a capacidade de mentalização que servirá como um mecanismo materno que influencia a segurança do vínculo da criança ao longo do seu desenvolvimento sociocognitivo. É a capacidade dos pais em mentalizar o bebé que irá estimular a sua própria capacidade de mentalizar, permitindo que este desenvolva uma vinculação segura ao sentir-se pensado, individualizado e acolhido. E é desta forma que desenvolvemos a nossa capacidade, enquanto adultos, de nos conhecermos. Isto é, saber reconhecer/identificar quem somos, o que gostamos, o que significam as nossas reações, o que nos incomoda, o que nos magoa, o que nos deixa tristes, felizes ou entusiasmados.
Como se de um processo de coaching de tratasse. Aprendermos a ser os nossos próprios coaches, validando as emoções que sentimos e facilitando estratégias de resolução de problemas na presença de emoções negativas. Se eu conseguir identificar as minhas emoções, posso então decidir como as devo gerir, o que devo manter ou tentar mudar, para ter estabilidade, desenvolvendo em mim um sentimento de autoeficácia. Aumentar os nossos níveis de autoeficácia, a qual existe quando nos sentimos seguros e com competências para alcançar os objetivos que consideramos importantes, permite-nos aceitar os desafios, que muitas vezes, consideramos difíceis.
Podemos então concluir que, por vezes, o que nos impede de mudar/avançar pode estar associado a questões que nos vinculam à infância, a repetição de um padrão de vinculação familiar que foi estabelecido com os principais cuidadores e que vamos reproduzir enquanto adultos, tanto num contexto familiar como laboral. Quando não existe uma vinculação segura, as pessoas tornam-se mais dependentes, apresentando uma maior dificuldade em largar vínculos que já conhecem e já dominam. Resistem perante a perda de controlo que a mudança lhes pode trazer, pelo medo de perder os laços que a securizam.
Se sente que há algo que o/a está a impedir de avançar, contacte-nos. Não se adie. Merece caminhar na direção dos seus objetivos e essa capacidade está dentro de si. A psicoterapia é fundamental para ajudar a pessoa a encontrar dentro de si os recursos necessários que lhe permitam caminhar com confiança.