
Nós sabemos que o regresso às aulas sempre foi um momento de stress/ansiedade na nossa vida e na vida de alguns dos nossos cuidadores. Segundo o relato de alguns pais e crianças/adolescentes, nunca um regresso às aulas foi tão desejado e ao mesmo tempo tão temido, numa mistura de ansiedade e tranquilidade difíceis de fundir.
Não é fácil. Poucos negam a importância que as aulas presenciais têm para o desenvolvimento infantil e para o bem-estar psicológico das crianças. Há pais mais descontraídos, outros mais receosos, outros bastante preocupados e outros extremamente ansiosos ou mesmo em pânico com este regresso às aulas. Vários pensamentos surgem e todos são legítimos e válidos.
Uma coisa é certa, neste regresso à escola, os alunos e as suas famílias mudaram. Viveram-se e vivem-se mudanças no dia-a-dia: de economia, de emprego, de trabalho, de residência, de estrutura e de funcionamento familiar.
Crianças e jovens, e as suas respetivas famílias, tendem a precisar de ajuda para gerir as emoções, a sua saúde mental, a confiança, os modelos de comunicação e de relações humanas e sociais. Além disso, o afastamento social e isolamento retiraram um suporte eficaz ao stress.
Ou seja, o nosso stress diário é estritamente relacionado com os fatores ambientais, sociais e laborais, forçando as pessoas a adquirirem estratégias internas para lidar. O confinamento forçou a adaptação dessas estratégias em novas, de forma a, inconscientemente, minimizar o impacto do confinamento no nosso dia-a-dia. O regresso às aulas, leva a uma terceira adaptação, isto é, transformar novamente as nossas estratégias nas que estávamos habituados antes da pandemia, mas desta vez integrando tudo o que aprendemos nos últimos meses.
É importante haver suporte emocional, estratégias de coping, isto é, como a vida quotidiana é indutora de stress, é importante as pessoas adotarem mecanismos que facilitem a adaptação a contextos exigentes. Mecanismos comportamentais e cognitivos para lidar com o stress e a ansiedade, todas essas situações acima indicadas e outras mais, poderão, em determinado momento, tornarem-se potencialmente desequilibradas, mesmo para os alunos que não tenham tais registos, mas mais acentuado para alunos com maiores fragilidades. Poderemos observar situações polarizadas entre o extremo de variáveis positivas e negativas de forma desadequada, ou seja, ora um otimismo e um humor excessivo, ora um desânimo e um humor depressivo. Ora uma falsa perceção de invulnerabilidade à situação de risco, ora a crença persistente e recorrente de ser infetado ou vir a afetar os outros.
Se não se trabalhar para uma boa base mental, consciencialização, responsabilidade, crenças, equilibrar medos e ansiedades, pode-se constatar casos de absentismo, abandono escolar, problemas de aprendizagem, mas também dificuldades emocionais, relacionais, motivacionais e de ajustamento.
Eventuais dificuldades de atenção e concentração, assim como para problemas de comportamento e indisciplina, discriminação, exclusão social e estigma. Muitos destes problemas que já existiam serão potencialmente agravados ou acentuados pela situação de pandemia e crise económica e social.
A pandemia trouxe muita coisa má, alterou a nossa forma de viver, restringiu a nossa socialização e, sem dúvida, as crianças foram largamente prejudicadas com isso. Tentemos agora ver o copo meio cheio e aproveitemos o momento para lhes ensinar valores.
Sem dúvida que o mais fácil seria poder voltar, sem receios, à nossa “normalidade”, mas, não sendo possível, adaptemo-nos da melhor forma à nova realidade.
Dialogue com o seu filho sobre o retorno e escute como é que este se sente a esse respeito.
Ouça ativamente as suas preocupações e ampare, fornecendo possíveis sugestões para a gestão dessas mesmas preocupações. Valide as emoções do seu filho. É bem possível que surjam emoções contraditórias associadas a este regresso, como, por exemplo, entusiasmo e preocupação, uma conjugação confusa para crianças mais novas.
Existe uma relação direta entre o que as crianças sentem e a forma como se comportam e se as crianças se sentem bem, portam-se bem. Então como ajudá-los a sentirem-se bem? Aceitando as suas emoções! A firme negação das emoções pode confundir e enraivecer as crianças. Também as ensina a não identificar o que sentem e não confiam em si próprios.
As crianças estão entusiasmadas com este regresso às aulas. A maioria das que já regressaram estão felizes, mesmo com a alteração das regras e com as restrições colocadas. Claro que também há outras ansiosas, com medo e dificuldades de adaptação. É, então, a altura ideal para valorizar a importância da saúde mental e criar estratégias preventivas e promotoras de equilíbrio emocional e bem-estar psicológico. Intervenções promotoras do autoconhecimento, da identificação e expressão das emoções, da gestão emocional, da resiliência, de estratégias de coping, da autoestima, da gratidão, do otimismo, entre outras.
Os cuidadores podem arranjar estratégias para lidar com os medos, ansiedades e preocupações dos filhos. Se não conseguirem sozinhos, não hesitem em procurar ajuda psicológica. Os psicólogos existem para isso mesmo e a saúde mental não pode, nem deve ser descurada.
O Learn2be tem toda uma equipa disponível para o ajudar nas intervenções preventivas e promoção da saúde mental de toda a família. Seja em relação aos seus medos e dúvidas no retorno escolar, nas mudanças laborais, de possíveis alterações das rotinas e das relações interpessoais no contexto de trabalho, desafios particulares a grupos específicos (p. e., grupos de risco) e as várias questões associadas ao teletrabalho, nomeadamente na sua relação com a vida pessoal e familiar. Lembre-se, transformar cada desafio em oportunidade, é aprender e crescer e acredite que possui o que é necessário para os superar.