
Já todos sentimos na nossa vida uma sensação de ausência de segurança interior, que pode advir de falta de conexão interna, ou até a influência de factores externos. Antigamente, focava-se com mais ênfase a segurança física, política e económica, mas atualmente começou a haver um maior foco também sobre a segurança interna e em como isso afeta a nossa forma de estar e sentir (Gierszewski J., 2017). Ainda assim, a sensação de segurança interna será influenciada por factores externos e internos.
Quanto aos factores exteriores que influenciam a segurança interior, podem considerar-se desde o contexto de trabalho, ambiental e de família, principalmente quando este último é com uma base disruptiva e disfuncional. Estes fatores dividem-se em categorias: económica, nutrição, saúde, ambiente, pessoal, política. Além disso, a segurança humana foi geralmente definida como proteção contra ameaças tais como: fome, doenças e repressão, bem como proteção de eventos traumáticos no dia-a-dia. Desta forma, é possível estabelecer a ideia da segurança humana como capacidade de satisfazer necessidades pessoais, bem como como garantia de oportunidades de desenvolvimento dignas. Abrange não só as necessidades sociais, como também o desenvolvimento psicossocial humano também (Gierszewski J., 2017).
Acredito ainda assim, que independente dos factores externos, que a maior resposta e solução é interior. A segurança pessoal pode estar relacionada com a liberdade, dignidade, apoio às necessidades e ajuda humanitária.
Considero a segurança como a água do rio, que procura sempre contornar os desafios que passam pelo caminho, de uma forma simples já que compreende que a única constante é a mudança e adapta-se a ela, fluindo normalmente.
Um exemplo prático que testou a minha segurança interior, aconteceu quando comecei a viver sozinha aos 17 anos e senti algum desconforto e tive de aprender a lidar com ele, aceitar essa dor como força para encontrar a segurança interna. Outro exemplo, aconteceu quando fui para o Brasil sozinha com o objectivo de estudar teatro e descobrir o psicodrama e ter de lidar com o desconforto de estar sozinha num país desconhecido, sem conhecer ninguém e sem as melhores as condições económicas, apenas a trabalhar com o meu projecto online. Sonhei com o que vivi, viajar por algumas zonas do brasil inicialmente, viver em frente a praia, ao lado de uma cachoeira, estudar teatro, trabalhar online diariamente numa ilha no brasil de fácil acessibilidade ao centro e para a escola que estudava. No entanto, estava longe das pessoas que amava de Portugal, com dificuldades económicas para sustentar tudo e na maior zona de desconforto que alguma vez tive, colocando em risco o meu bem-estar. O que antes pensava que era um grande sonho que queria viver, tornou-se uma grande aprendizagem, uma vez que percebi que o que mais desejava não era o que realmente queria de alma e cheguei à conclusão que ás vezes o que achamos que mais desejamos, não é o que realmente queremos. O mais importante é o processo e a resposta ao nosso desejo está bem dentro de nós, a liberdade que procuramos é interna.
Conheci-me na total zona de desconforto, fora da linha da segurança externa e foi aí que me reconheci, reencontrei e evolui. E agora esboço um sorriso com um lágrima ‘’envergonhada’’ a fluir, a transmitir-me que embora tenha sido muito duro teve fim, mesmo pensando na altura que não tinha, tudo é temporário quer as fases boas quer a menos boas.
Por vezes, não temos outra solução senão rendermo-nos e aceitarmos a dor das circunstâncias. Depois desse processo de contacto com a vulnerabilidade, libertarmo-nos dessa dor e aí estarmos abertos a novas oportunidades, com o nosso ser mais evoluído. Guardo no meu ‘’bolso’’ todas as pessoas e experiências menos boas e as boas para quando quiser revisitar, pois todas guardo com carinho e fazem parte da pessoa que viveu, errou, evoluiu e que sou hoje.
Por vezes, há uma linha muito ténue entre a tragédia e a comédia. Exemplo disso é uma viagem que eu fiz a Andorra na viagem de finalistas com 17 anos. Na altura, fui andar de snowboard na neve com os meus melhores amigos, aventureira como sou, quis ir para as pistas mais perigosas e resultado disso, é que acabei por me perder, sair da zona das pistas à noite e aperceber-me disso apenas quando já tudo estava fechado. O que poderia ter sido aterrorizador, transformou-se numa história de superação e que hoje recordo com um sorriso. Na altura estava muito assustada, sozinha mas com esperança que tudo ia ficar bem. Tive a sorte de alguém aparecer aleatoriamente e me ajudar a voltar para o lugar de partida. Além de ter experimentado snowboard, andei pela primeira vez de mota de neve com a pessoa que me encontrou e levou e eu que sempre quis andar de mota de neve. Quando cheguei perto dos meus amigos, sem perceberem o que tinha acontecido ainda, perguntaram-me: ‘’onde estavas?’’, pelo que a minha resposta foi um sorriso e, logo depois, contei-lhes o que passou.
Em jeito de conclusão, agora passado dez anos, enfatizo a importância de termos maior consciência para não nos colocarmos em riscos desnecessários de factores externos que também têm influência na nossa segurança interna. Considero que esta segurança interna, tem muito mais a ver com as nossas escolhas e face as nossas escolhas adaptar-nos às circunstâncias externas e aprendermos com os nossos erros e acima de tudo conhecermos um eu mais evoluído.
Para finalizar, uma outra viagem que fiz, desta vez para Londres, sozinha, em que fui ter com dois melhores amigos e fomos todos a um parque, eu, dois amigos e o namorado de um deles. Estávamos distraídos na conversa, o que resultou em nos perder-nos no caminho. Então, já que estávamos perdidos, sugeri sentar-nos e ficarmos onde estávamos e meditarmos de mãos dadas em roda e assim foi e no final alimentamo-nos do que tinhamos trazido para piquenique e deitamo-nos na relva a falar e olhar para o céu e, só depois, já de noite procuramos a saída, que conseguimos encontrar e ainda ficamos com a memória de um momento muito bonito de partilha. Somos as pessoas com quem nos cruzamos e as experiências que vivenciamos. Acredito que é nesse espaço também que chegamos à segurança interna.
Relembrando, que independente do contexto externo, a resposta está sempre no nosso interior e o nosso potencial e segurança é muito grande, só precisamos de sentir e conectar com ele.
Gierszewski J., 2017. Personal Security within the Human Security Paradigm. SECURITY DIMENSIONS International & National Studies NO. 23; 2017 (51–66). https://www.researchgate.net/publication/323684711