Talvez esteja à procura de uma relação e se pergunte como escolher a pessoa certa ou talvez esteja numa relação e se questione se a pessoa que está ao seu lado é mesmo a pessoa certa para o resto da sua vida. Em ambos os casos, são questões importantes e que devem ser levadas a sério.
Escolher um parceiro romântico é um dos grandes desafios da nossa vida. Esta aventura de procurar e conhecer pessoas, umas mais interessantes que outras, pode ser frustrante, pode nos fazer desistir antes de finalmente encontrarmos o nosso caminho para o amor.
Antes de mais, deixe-me abrir aqui um parêntesis para lhe dizer isto: Não veja os erros como um fracasso. Como disse Thomas Edison: “Eu não falhei 10 mil vezes. Apenas descobri 10 mil maneiras que não funcionam”. Talvez muitas das coisas que já considerou como erros, na verdade, colocaram-no mais perto daquilo que deseja.
Então, vamos supor que já tem espaço na sua vida para manter um compromisso de uma relação, que está disposto a enfrentar os seus medos e que está emocionalmente disponível.
Como não existe uma fórmula mágica, uma aplicação de encontros infalível ou a força do destino que tome a decisão por si. É necessário sobretudo, disponibilidade para se conhecer melhor a si e ao outro, vontade e esforço de fazer acontecer e coragem.
Começamos por reconhecer os seus próprios valores, reconhecer os seus valores é uma etapa muito importante num processo de autoconhecimento, vai-lhe permitir conhecer-se melhor e tornar mais clara as tomadas de decisões na sua vida.
Antes de fazermos um exercício, gostaria de lhe dizer o que é um valor.

O que é um valor?
Um valor é algo que faz parte da sua essência/personalidade e não uma qualidade que gostaria de ter. Um valor, é algo que valoriza, que para si é essencial em determinado contexto. São os valores que muitas vezes justificam o porquê dos seus pensamentos, sentimentos e comportamentos. Não há certo ou errado, bom ou mau. O que você valoriza é o que valoriza – ponto final!
Os valores são como uma bússola, fornecem-nos uma certa direção. Então.
Vamos ao exercício, continue e escreva as suas respostas às perguntas a baixo:
1- Que tipo de relacionamento quer construir?
2- O que mais valoriza num relacionamento?
3- Como deseja se comportar nesse relacionamento?
4- Que qualidades pessoais, quer desenvolver?
5- Como trataria os outros, caso fosse o seu eu ideal?

As respostas a essas perguntas mostrarão o que realmente importa para si, o que valoriza num relacionamento. Assim terá uma noção de quão próximo ou distante está de viver de acordo com os seus valores. Como pode ver, não são perguntas fáceis. Mas são um primeiro passo importante para desenhar um novo mapa para onde quer ir. Como escreveu Lewis Carroll em Alice no País das Maravilhas – Se não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.
Identidade: conhecermo-nos a nós próprios
Nós somos o produto da nossa história, das nossas experiências e da interpretação que lhe demos. Conhecemo-nos melhor quando percebemos os esquemas que fomos criando e solidificando em nós. De acordo com Jeffrey Young, psicólogo e autor da teoria dos esquemas – esquemas são crenças e histórias centrais que construímos sobre nós mesmos e sobre os nossos relacionamentos. Um esquema é como se fosse uma lente através da qual vemos o mundo, organizamos as nossas experiências e interpretamos os eventos.
Essas histórias podem distorcer as nossas percepções e experiências com outras pessoas, o que nos pode levar a repetir padrões e comportamentos menos saudáveis.
Por exemplo, alguém com um esquema de abandono pode procurar de forma excessiva garantias/certezas, ficar dependente da outra pessoa, agir com ciúme e possessividade, e esses comportamentos podem realmente aumentar a probabilidade de que outros o abandonem. Criando um padrão.
Para além disso, estes esquemas também podem fazer com que as nossas escolhas de parceiro sejam influenciadas. As pessoas podem escolher um parceiro com um esquema semelhante ao seu, ou então um parceiro com um esquema inverso. Por exemplo, alguém com um esquema de abandono, que tem a crença de que os outros não são confiáveis e que mais cedo ou mais tarde vão acabar por o deixar. Pode ter mais tendência para escolher parceiros que tendem a autossacrificar-se na relação ou a serem mais dependentes, “garantindo” assim que é mais difícil serem abandonados.
Aqui estão alguns dos esquemas para casais:
- Abandono / instabilidade: a crença de que o seu parceiro não é confiável e que ele ou ela vai deixar de gostar de si ou ir embora.
- Desconfiança / abuso: a expectativa de que o seu parceiro irá prejudicar, negligenciar, trair ou abusar de si.
- Privação emocional: a expectativa de que, as suas necessidades a nível emocional não irão ser atendidas.
- Privação de nutrição – a ausência de atenção
- Privação de empatia – a ausência de compreensão
- Privação de proteção – a ausência de ajuda
- Deficiência / vergonha: a crença de que é de alguma forma defeituoso, inferior ou desagradável.


- Isolamento / alienação social: a crença de que não se encaixa, de que não pertence a qualquer sítio ou grupo. Tem a sensação de estar sozinho mesmo enquanto está junto com alguém, sente que não é visto e não é compreendido.
- Dependência: a crença de que seria difícil sobreviver emocionalmente sem o seu parceiro e que não será capaz de cuidar de si mesmo fora do relacionamento.
- Fracasso: a crença de que irá falhar no relacionamento (e nos principais aspetos da vida).
- Direito / grandiosidade: a crença de que o seu parceiro deve atender às suas necessidades e que tem o direito de contar com o apoio constante dele.
9. Auto-sacrifício / subjugação: a crença de que deve sempre colocar as necessidades do seu parceiro acima das suas – seja porque as necessidades do seu parceiro são mais importantes ou porque tem medo da rejeição.
10. Padrões implacáveis: a crença de que ambos devem atender a altos padrões de desempenho – na vida e no relacionamento. E se esses padrões não forem atendidos, merecem ser criticados e punidos por isso.
É importante termos conhecimento dos nossos esquemas e dos esquemas do nosso parceiro porque quando os nossos esquemas são acionados, reagimos de maneiras diferentes, reagimos para nos proteger da dor emocional. Se tiver esta consciência e identificar os gatilhos dos seus esquemas principais, estará um passo mais perto de mudar as reações que alimentam lutas e conflitos.
É muito tentador apressarmo-nos no amor. É muito tentador pensar que estamos prontos para amar porque queremos – e não há nada de errado em querer. Mas essa pressa sem conhecimento e reflexão pode levá-lo a não escolher da melhor forma.
Procure desenvolver o seu autoconhecimento, em conhecer os seus valores e o seu esquema. Existem pessoas que passam a vida inteira sem saberem quem realmente são e o que realmente querem. Um psicólogo pode ajudar nessa jornada e a ter um relacionamento melhor consigo e com os outros.
Referências Bibliográficas
Young, J. (2003). Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: Uma abordagem focada em esquemas. Porto Alegre: Artmed.
Young, J. E., & Behary, W. T. (1998). Schema-focused therapy for personality disorders. In N. Tarrier, A. Wells, & G. Haddock (Eds.), Treating complex cases: The cognitive behavioural approach (pp. 340-376). New York: John Wiley & Sons.