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Quando os pais não são os melhores amigos

Segundo Susan Forward em “Toxic Parents”, a relação parental tóxica é a que provoca dor emocional profunda nos filhos através de comportamentos abusivos, manipulativos ou negligentes.

Compreender como alguns dos comportamentos em adulto podem ter a sua origem nessa dor emocional gerada na infância, pode ser muito útil para ajudar, inclusive, a mudar a perceção de si próprio e da sua trajetória de vida, pois, é bem mais frequente do que se imagina a criança viver em contextos familiares disfuncionais e, não sabendo disso, sentir culpa por todos os sentimentos e emoções negativos sentidos em relação ao adulto que era suposto fazê-la sentir-se amada incondicionalmente.

Quando os pais ou os adultos responsáveis pelo cuidado e educação da criança são excessivamente exigentes, controladores, manipuladores, muito rígidos nas regras, desrespeitadores das suas fragilidades ou de momentos frágeis, emocionalmente ausentes, ou a ridicularizam ou humilham, podem provocar na criança ou adolescente momentos de profunda revolta, vergonha, zanga, impotência, frustração ou raiva que, normalmente, se transformam em culpa. Uma culpa que paralisa depois o adolescente ou o adulto, pois o filho sabe que ama os pais e que é amado por eles, mas, apesar disso, não conseguiu evitar a mágoa, ressentimento ou mesmo raiva por alguns ainda que breves momentos.

Para além disso, em função do meio familiar onde cresce e da relação que estabelecem com ela, a criança pode aprender que não é suficiente ou que não é merecedora de atenção e que, para ser amada, precisa de corresponder a uma expectativa à qual nunca consegue corresponder o suficiente.

“Os meus pais sempre foram muito meus amigos, só que quando eu não fazia como eles queriam, zangavam-se e castigavam-me.”

A criança pode também sentir-se insuficiente, incompetente ou inadequada e estar sempre à procura de aprovação externa, criando uma personalidade pouco consonante com quem é, com os seus valores, pois para ela o importante é ser aceite, ser vista, fazer parte e, para isso, o importante são os valores e crenças alheias.

Dois dos comportamentos com bastante impacto na autoconfiança e na construção da identidade do futuro adulto são a manipulação e a culpabilização, levando a possíveis estados de ansiedade, dificuldade em definir limites saudáveis nos relacionamentos ou até a depressões profundas no futuro, enquanto adulto.

“Os meus pais sempre estiveram disponíveis para mim em tudo. Aliás, agora que quero tornar-me independente não faço ideia do que fazer e nem de como fazer, pois, foram sempre eles que fizeram tudo por mim.”

A verdade é que os pais estão a fazer o melhor que sabem e que conseguem, porque, regra geral, querem genuinamente o melhor para os filhos. Amam os seus filhos e procuram educá-los o melhor que sabem, tendo em conta o que consideram na sua perspetiva (a perspetiva da sua experiência e lógica de vida) o melhor para eles, não tendo, por vezes, em consideração que os filhos são seres humanos em desenvolvimento que precisam de ser observados e acolhidos, que terão personalidades, gostos e lógicas de pensamentos porventura diferentes e até opostos aos seus.

“Como filha senti-me desapoiada, desamada e desamparada porque ao não concordar com a minha mãe, eu estava errada, ao não querer o que ela queria para mim, eu estava errada. Ao tentar dizer o que pensava a qualquer um deles, era desconsiderada e inferiorizada pela idade ou falta de experiência de vida e, como tal, nunca consegui trocar ideias objetivas do certo e do errado, do melhor e do pior, do possível ou do possivelmente inviável, fosse em que tema fosse.”

De tanto se sentir desvalorizado nas suas ideias ou comportamentos, é normal sentir-se mais tarde perdido enquanto adulto, pois a solidão emocional gerada em si mesmo é imensa.

Profissionalmente, até podem conseguir vir a ser bem-sucedidos, mas facilmente se poderão sentir vazios, inseguros e/ou angustiados nas relações afetivas.

“Havia em mim um único objetivo muito claro, sair de casa assim que possível para me autossustentar financeira e emocionalmente e poder ter outra vivência, longe dos “Tens de!” – Tens de aceitar, Tens de compreender, Tens de fazer, Tens de te submeter, Tem de ser porque a vida é assim e ponto final.”

Por outro lado, a ausência de regras e limites na educação e na vivência familiar para além de poder gerar comportamentos impulsivos e desregrados que poderão vir a refletir-se na vida adulta, também pode representar aos olhos dos filhos falta de atenção, amor e cuidado dos pais que, no olhar deles, não se preocupam com eles.

Ser um sobrevivente de contextos familiares tóxicos e manter-se emocionalmente equilibrado é possível, mas não é o mais comum. Procurar atividades que promovam a saúde e o bem-estar emocional ajuda imenso a lidar com algumas situações e a controlar a ansiedade, mas não resolve por si só na cura da dor emocional.

Se é pai ou mãe e se identificou com alguns dos comportamentos abordados ou se se reconhece como um sobrevivente de relações parentais tóxicas, procure apoio, marque uma consulta e seja o melhor de si!

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