Desde a nossa infância, para olhares mais atentos, desde a nossa conceção e gestação, que somos expostos a determinados acontecimentos e experiências que nos moldam enquanto adultos. Registamos memórias (mais ou menos conscientes) e emoções associadas, que quando dolorosas (traumas, perdas, separações, abusos, entre outras), levam-nos a passar por intensos processos emocionais que resultam em feridas emocionais invisíveis, que permanecem ao longo da vida e que afetam o nosso bem-estar emocional e psicológico diariamente. Somos todos sobreviventes de histórias que ninguém saberá.

Estas feridas emocionais manifestam-se em todos os comportamentos do adulto, sem que possa ter consciência de onde surgem e dos motivos pelos quais se comporta de determinada forma. O que é certo, é que o adulto de hoje é sempre o reflexo do que ocorreu na infância. A criança à qual lhe diziam que era caro o que ela tanto queria, é o adulto que hoje se sente culpado quando gasta o dinheiro em algo que não é tão necessário; a criança que se tornou responsável antes do seu tempo (cuidadora de irmãos, tarefas domésticas, regras em excesso, etc), é o adulto que está dependente de todos, menos de si mesmo; a criança que ouviu os seus pais falarem constantemente sobre dívidas, é o adulto que hoje dá muita importância ao dinheiro; ou a criança que foi muito criticada ou que sentiu que não era suficiente, hoje é o adulto que adito ao trabalho, para provar que tem valor.
E o que acontece quando todas estas experiências permanecem em nós? Criamos constantemente formas de sobreviver a esses momentos ou memórias traumáticas de dor, permanecendo, no entanto, tantas vezes no mesmo lugar. Adaptamo-nos, procurando inconscientemente as mesmas emoções sentidas ou, em alternativa, utilizamos estratégias diversificadas para evitar essa mesma dor. Estas ferramentas que são desenvolvidas ao longo da vida, sentidas como funcionais e benéficas, permanecem durante anos, contudo, ao longo do tempo tornam-se limitativas do desenvolvimento de cada um. Passamos a utilizar estas formas de reagir e viciamo-nos. A fuga, a dependência, a zanga, a rigidez, o controle, entre outras, não constituem um lugar de crescimento e superação do trauma.

O autoconhecimento e a consciência dos seus próprios processos internos e feridas emocionais, a perceção de si, a compreensão das suas emoções, a identificação de padrões de pensamento e de comportamento, são fundamentais no processo de transformação da dor em crescimento pessoal. É ao olhar para a dor e para o sofrimento que se torna possível perceber os conflitos internos de cada um, identificando os aspetos “esquecidos” no nosso inconsciente. A dor é um veículo para a compreensão, crescimento e cura de cada um de nós.
Quanto mais esperamos para resolver as nossas feridas, mais elas se agravam. Sempre que vivemos uma situação que vem despertar e tocar numa ferida, acrescentamos-lhe uma nova dor e iremos cada vez mais evitar tocar-lhe e olhar para ela. Torna-se um ciclo vicioso. Assim, o caminho está em aprender a lidar com as nossas feridas e com a dor de forma saudável e construtiva, enfrentando os nossos medos, fragilidades, emoções e vulnerabilidades. Pode escolher entre continuar a reagir, adotando comportamentos (tantas vezes inconscientes) que o ego desenvolveu para o proteger e que o mantém na zona de segurança e conforto, ou olhar para o que realmente o incomoda, solucionar o problema e tratar do seu Eu emocional e psicológico.

Ao compreender e ao aceitar os acontecimentos do seu passado e a sua própria história, ao aceitar que faz parte de ser-se humano, sentimo-nos preparados para continuar, encontrando na dor uma aprendizagem profunda para uma nova forma de estar e um caminho para uma nova ordem na vida. Num dos exemplos anteriores, o adulto que se sentia culpado por gastar dinheiro em algo que não é necessário, pode agora perceber que tem a consciência do essencial e desnecessário na sua vida, sendo um recurso importante, mas pode agora também entender que os medos dos pais não lhe pertencem, libertando-se das suas dores e permitir-se comprar algo para benefício próprio, num lugar de automerecimento e recompensa.
Não existe avançar, se não se permitir olhar para trás e tratar o que precisa ser tratado. Não existe construção e equilíbrio interior, se não se permitir conhecer as suas emoções dolorosas e compreender a sua origem. E é neste caminho que se aprende que tudo muda, e que o sol sempre aparece depois de um dia nublado, com a força e beleza do amanhecer, encontrando novas estratégias em direção a uma vida mais plena e significativa. Aquelas que foram as suas dores, são passíveis de serem transformadas em recursos pessoais e ferramentas valiosas para uma jornada de autodescoberta, crescimento e evolução pessoal.
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Sara Rodrigues
Psicóloga e Hipnoterapeuta Clínica
“No meio do inverno, eu aprendi que finalmente havia em nós um verão invencível”.
Albert Camus