O caminho é, na minha opinião, algo que se vai construindo e que não está definido à partida: vamos fazendo escolhas e tomando decisões sem muitas vezes ter consciência do impacto que terão na definição deste caminho. E ainda bem que assim é, pois seria um caminho menos interessante se todas as escolhas fossem medidas e pesadas, e seria estranho até se conseguíssemos antever como é que estas influenciariam o nosso caminho. Sou da opinião, como diz a sabedoria popular, que o caminho se faz caminhando, que nada é permanente e que temos o poder de alterar a nossa realidade.
No entanto, é inevitável sentir que existem expetativas em relação a este nosso caminho. Diria que as duas forças que mais poder têm na definição destas expetativas são a nossa família e a sociedade em que nos inserimos. Creio ser inevitável que os pais tenham expectativas em relação ao caminho dos filhos, até porque, na prática, tomam inúmeras decisões em relação à vida dos mesmos, que têm o poder de definir partes do caminho. Contudo, a partir de determinada fase de desenvolvimento, passa a existir a capacidade para a tomada de decisão, condição necessária ao processo de autonomização e independência pelo qual todos devemos passar.
No que diz respeito à sociedade, existem alguns padrões e expetativas, que são partilhados e chegam até nós por diversos veículos. Do que vejo em consulta, sei que muitas pessoas se sentem pressionadas a corresponder a determinado estilo de vida, a construir uma carreira profissional bem-sucedida, a casar, a comprar casa, a ter filhos etc. E, por muito que esta possa parecer a ordem natural das coisas, o nosso caminho não deve nunca ser definido pela pressão de outros, pelo que “deve ser” ou pelo que “é suposto”, pois é aí que damos permissão a que estes outros definam o nosso caminho por nós. A questão que se põe, é que esta pressão causa sentimentos de angústia, e tem o poder de nos empurrar para decisões que na verdade não estão alinhadas com as nossas intenções, crenças ou vontades. É preciso clareza de pensamento e coragem para remar contra a maré ou para assumir uma posição “menos popular”, mas acredito que esta libertação e a possibilidade de nos sentirmos livres nas nossas escolhas é um passo na direção do equilíbrio e da felicidade.
Não é fácil chegar a este lugar. Tomar decisões e pensar sobre a nossa vida não é uma tarefa fácil, e é muito positivo ter um espaço terapêutico em que consigamos “sair da nossa cabeça” e entrar em contacto com as tais intenções, crenças e vontades. É estando disponíveis para o processo de auto-conhecimento, que seremos capazes de ir caminhando o nosso próprio caminho. Conte com o meu auxílio para percorrer esse caminho, o seu caminho. Marque a sua consulta hoje.
1. A utilização das aplicações de namoro aumentou durante a pandemia. Quais foram as principais alterações, esta e outras, no relacionamento das pessoas?
É verdade, a pandemia produziu uma série de efeitos que vão muito para além da saúde, e os relacionamentos e a forma de nos relacionar não foram exceção. Ao mesmo tempo acredito que, como a Marta disse de início, a pandemia não criou estes fenómenos, mas impulsionou-os.
As limitações, o distanciamento social físico e confinamentos, alteraram a forma como as pessoas se relacionaram e as principais alterações que sabemos foi ao nível do funcionamento dentro das próprias aplicações de encontros, aumentou o número de utilizadores, alguns estudos demonstraram um aumento do género feminino, aumentou a média de idade dos utilizadores e o tempo despendido nas aplicações também aumentou, comparado com anos anteriores. Para além disso, importa referir que com esse aumento de utilizadores, veio uma maior probabilidade de sofrer dos perigos que todas as aplicações e o mundo virtual nos traz.
Fora das aplicações de encontros, foi preciso uma grande adaptação de todos nós nas nossas interações sociais e provavelmente todos sentimos um aumento da ansiedade no que toca a encontros cara a cara, o nervosismo e a insegurança. Que podem estar relacionados com uma série de fatores externos, por exemplo a transmissão do vírus.
Ao mesmo tempo, tem muito mais a ver, com a nossa capacidade de adaptação, as competências sociais e características de personalidade que cada um já possuía, mas importa destacar o seguinte: Existem pessoas com muitas competências sociais o que torna mais fácil a interação com as outras pessoas. Por outro lado, existem pessoas com menos competências sociais e é muito provável que devido ao isolamento não treinaram estas competências, o que diminui as suas capacidades bem como a motivação para interagir com outras pessoas, e nesse sentido, sobretudo para essas pessoas, a pandemia veio agravar os sentimentos de insegurança e solidão.
2. Da vossa experiência parece-vos que estas aplicações vieram para ficar? Ou seja, mesmo que se volte ao ‘velho’ normal elas continuarão a ser bastante representativas na forma como se conhece outras pessoas hoje em dia?
Sim, sem dúvida. Essas aplicações e podemos incluir talvez as redes sociais, proporcionam-nos oportunidades excelentes de nos conectarmos. Por exemplo, nesta pandemia, não consigo imaginar como seria o mundo sem as redes sociais ou o espaço virtual.
Mesmo antes da pandemia, as aplicações de encontros, já registavam um aumento significativo de utilizadores, prevendo que tal tendência se mantenha. Muito devido à sua facilidade, por quebrar limites temporais, sociais e geográficos e porque acaba por ser uma solução como outra qualquer para conhecer novas pessoas.
Apesar dos diferentes objetivos que podem levar as pessoas a acederem a essas apps, existe um denominador comum, que é o facto de desejo de criar ligações com outros, seja de forma direta (conversar) ou indireta (ver perfis).
Somos seres sociais e como tal vamos sempre procurar estabelecer relações significativas, se tivermos ferramentas que proporcionam isso, vamos utilizá-las.
3. Quais são, atualmente, os principais desafios de quem está solteiro e quer conhecer pessoas novas?
Os desafios dependem da idiossincrasia de cada um. Mas pela minha experiência clínica e relatos de clientes, acredito que um dos fatores seja a crença de “amores líquidos” esta é uma ideia do sociólogo Zygmunt Bauman, que definiu o comportamento da sociedade, como tendo relações e intimidades múltiplas e fugazes – São mais líquidas do que sólidas.
Quando uma pessoa acredita nesta superficialidade das relações, quando acredita que a nossa cultura é cada vez mais descartável, isto constitui um desafio na forma como se relacionam, como confiam, como se entregam, tornam mais difícil criarem uma conexão profunda e significativa.
Outro dos desafios, muito impulsionado pelas redes sociais, é a quantidade de opções quando se trata de um possível parceiro(a), e isso nem sempre é bom, uma vez que quanto mais opções eu tenho, mais complicado fica o meu processo decisório e menos satisfeita eu fico com qualquer escolha que eu faça…porque aquele que não escolhi pode ser sempre melhor. Ou seja, um relacionamento menos que perfeito será abandonado com muito mais facilidade.
Nesse sentido, também a ilusão de que os outros são sempre melhores é outro dos desafios. Caímos no erro de comparar o palco dos outros com os nossos bastidores e isso, faz com que, não nos permitamos dar oportunidade a situações, trabalhos e relacionamentos porque estamos à procura do “perfeito”.
Para além disso, relacionado com o mundo virtual, temos uma série de novos desafios a enfrentar, como o ghosting (parar de repente toda a comunicação sem avisar), o catfishing (fingir ser alguém que não é), cyberstalking (usar a Internet para assediar ou ameaçar sistematicamente alguém) entre outros.
4. Hoje é mais fácil do que há 20 anos conhecer e encontrar a outra metade da laranja?
Não sei, sei que sem dúvida, o surgimento de sites e apps de namoro, mudaram o jogo. Com essas apps e tudo que existe, aumentou o número de potenciais parceiros o que em tese aumenta as probabilidades de encontrar a outra metade da laranja. As pessoas não têm limites temporais, sociais e geográficos, como acontecia há 20 anos atrás.
Há 20 anos atrás as pessoas conheciam-se através de redes sociais como a escola, trabalho, igreja, associações recreativas, ou outros grupos sociais. Hoje também se conhecem assim, mas existem mais redes sociais (tecnológicas) que podemos utilizar a nosso favor.
Ao mesmo tempo, esses conceitos de metade da laranja, cara-metade, está escrito nas estrelas, alma gémea, sentir o click, acabam por ser perigosos uma vez que passa a responsabilidade para o outro ou para uma entidade superior. Na verdade, se alguém está á procura do amor e quer encontrar aquela pessoa com quem possa passar o resto de sua vida, deve ter em mente que não existe uma fórmula mágica ou um algoritmo perfeito, devemos ser nós a criar a compatibilidade com tudo que isso implica.
É mais realista experimentar esse sentimento de cara metade, quando construímos uma conexão com alguém, em vez de uma que aconteceu por obra do destino. Na primeira foi feita uma escolha, onde temos de trabalhar para fazer o amor e a conexão acontecerem. Na segunda opção somos agentes passivos á espera que o amor aconteça. Qual acha que vai dar certo?
5. Quais os cuidados que os utilizadores destas aplicações devem ter? De alguma forma são comuns a conhecer pessoas novas de outra forma?
Sim, existem cuidados que são comuns. Ao mesmo tempo, quando falamos do mundo virtual – falamos de um mundo próprio que também tem as suas regras e existem cuidados que temos de ter. Onde estão muitas pessoas, existem também criminosos a tentarem-se aproveitar. Alguns cuidados passam por não nos expormos demasiado, ter atenção ás informações pessoais que partilhamos, marcar encontros em locais públicos, partilhar a localização com a alguém em quem confiamos (quando, onde e com quem nos vamos encontrar).
A nível psicológico também existem alguns cuidados, não nos podemos esquecer que essas apps são também um negócio e por isso são desenhadas para serem viciantes, é importante estabelecer os seus limites e perceber quando está a passar demasiado tempo nessas apps.
Outro dos cuidados a nível psicológico prende-se pelo fato de seremos verdadeiros sobre quem somos, claro que é natural querermos nos apresentar no nosso melhor, mas quando escondemos características e interesses que achamos que vão ser percebidos negativamente pelos outros e fazemos isso constantemente estamos a diminuir o nosso valor e com isso diminuímos a nossa autoestima.
Por fim, talvez diria que outro dos cuidados a ter seria definir os seus valores e o seu objetivo na utilização dessas apps, e ser honesta consigo mesma e com os outros. Estarei a utilizar essas apps para procurar uma relação séria, para me divertir ou fugir da solidão, da ansiedade ou do tédio?
6. Por outro lado, há casos de sucessos de casais que se apaixonam depois de se conhecerem desta forma. O preconceito contra esta nova forma de conhecer o outro e interagir está também a diminuir? Daqui a 10 anos vai ser tão usual conhecer alguém desta forma como num jantar de amigos?
Eu diria mesmo, que já o é. As apps de namoro são apenas uma forma de abrir portas para conhecer e namorar pessoas, a grande vantagem é a capacidade de simplesmente ajudar a conhecer mais pessoas.
Ao mesmo tempo, como psicóloga, a minha única preocupação prende-se pelo fato de pudermos vir a evitar cada vez mais as conversas difíceis, aceitar as nossas vulnerabilidades, sairmos menos da nossa zona de conforto e fecharmo-nos às diferenças. Agora, não acho que a comunicação digital ou este tipo de apps possa substituir o contacto humano. O ser humano necessita do contacto físico e emocional com outros seres humanos. É quase como se essas apps fossem como uma máquina de lançar bolas de ténis, que arremessa bolas contra nós enquanto treinamos os nossos movimentos. Ela cumpre o seu propósito, mas será que por ela existir diminui a experiência do jogo de ténis com outra pessoa? Acredito que possa ser um bom complemento, mas o jogo engloba muitos fatores, fatores esses que não podem ser reproduzidos pela tecnologia – é preciso sentir.
Como na maior parte das coisas na vida, existem lados bons e maus em todas as coisas. Quanto melhor as pessoas entenderem algo e como isso afeta a sua vida, melhor pode interagir com isso. E vir a ter encontros mais eficientes no futuro, assim como criar laços de relacionamento mais fortes e profundos.
Se este artigo ressoou consigo e sente que necessita de apoio na forma como encara o mundo virtual, marque a sua consulta hoje.
A sua mente tem uma série de referenciais que você considera como verdadeiros. Verdadeiros? Tem certeza? Não é bem assim! Mas não se aborreça com isso. Descobrir que algo em que acreditamos não é a pura verdade, como dantes pesávamos, é um sinal de que estamos evoluindo.
Você sabe qual é a diferença entre o cérebro e a mente? O cérebro é um órgão com bilhões de neurónios. É como o hardware de um computador. A mente é como o software, processa a informação. Ela está construída com todas as experiências de vida que tivemos, principalmente as que ocorreram no período intrauterino e na infância.
Existem vários caminhos sinápticos na nossa mente, por onde chegam as informações e por onde elas vão passando até ganharem significado e construírem a nossa realidade.
A sinapse é o processo de comunicação entre neurónios.
Os pensamentos, sensações, memórias e sonhos são o resultado das sinapses, ou seja, dos vários caminhos que influenciam nosso desenvolvimento e toda a nossa existência.
Imagine-se no meio de uma floresta, onde você já conhece vários caminhos, que outras pessoas percorreram, ou que você mesmo veio descobrindo em sua própria trajetória de conhecimento. Mas existem outros caminhos ainda desconhecidos, que podem ser melhores. Você ainda não consegue ver estes caminhos porque eles não estão abertos para sua mente. Estando mais consciente de si e do seu querer, você é capaz a ver esses novos caminhos que hoje não consegue enxergar. E consegue saber que, esses novos caminhos são boas vias para chegar ao seu objetivo com muito mais facilidade. Devemos abrir novos caminhos sinápticos, para conhecer o mundo de um modo diferente do que imaginamos, ou continuaremos presos às antigas certezas, que podem ser ilusórias e enclausurantes.
Depois de abrir um novo caminho ele deve ser usado muitas vezes, pois é preciso mielinizar, ou seja, fazer com que a comunicação entre seus neurónios fique mais eficiente. Como na floresta, se você deixa de caminhar na trilha, o mato volta a crescer. Se iniciou o estudo de uma nova língua, você deve repetir e repetir até internalizar esta nova língua. Por isso na basta entender.
Se você se propôs a meditar você terá de repetir esta experiência inúmeras vezes até surja os efeitos benéficos no seu corpo e mente.
Tudo isso tem por base as descobertas da neurociência.
O conhecimento que podemos adquirir de forma direcionada, ampliando a consciência, é um desafio para a vida, pois caminhamos com mais certeza que vamos em direção ao nosso propósito, e não ao que foi para nós definido.
Outro fator que entra na formação dos referenciais, são os traumas emocionais. Imagine-se na sua infância, as pessoas que você mais ama (seu pai ou sua mãe) reagem com uma cara feia, ou com uma zanga, ou até com um castigo, após algo que você fez ou falou. E você fica a pensar: “Fiz algo errado.” “Eles não gostaram do que eu fiz e agora não vão mais gostar de mim.”
Os pais e os familiares passam suas experiências para as crianças através das palavras, sentimentos e atitudes que geram referencias para toda a vida. Isso pode ocorrer dentro de uma dinâmica saudável ou doentia.
A primeira traz aprendizados importantes para ter sucesso, realização e felicidade.
A segunda gera traumas emocionais que vão dar muitos emaranhamentos na mente e atrapalhar os objetivos e decisões em nossa trajetória.
Nossa tendência é sempre comparar com o passado: basicamente o nosso ponto de vista vem do que aprendemos com os adultos de referência e das nossas próprias experiências. Quando aparece algo novo, um fato em que não se tenha um referencial, a tendência é comparar o novo com algo que já se conhece. Pensar assim nos dá conforto, controlo, segurança.
E se você quer ser uma pessoa inovadora, então é preciso mudar. O que mais você pode fazer com isso para levar a resultados diferentes? Olhar de outros ângulos. Assim você consegue ter experiências e dar significados novos ao que vê. Olhar para o presente e enxergar algo diferente para o futuro. Assim não fica preso sempre na vivência do passado. A perceção do novo é o presente. Sair de um padrão circular em torno do que aconteceu e conseguir evoluir para novas fases da vida, no presente e no futuro. Em síntese há duas possibilidades: uma é continuar as voltas e repetir o padrão “seguro” antigo; a outra é se abrir para a aventura do novo e promover mudanças através da ampliação da consciência.
Quais são os pensamentos, atitudes e falas que você trouxe de fora e incorporou à sua personalidade? Quais vieram do seu pai? E da sua mãe? E de outras pessoas? Quais você próprio desenvolveu? De que serve uma serie de valores que você acumulou e que vieram de fora?
Um exemplo simples: Supomos que você era adepto do mesmo clube de futebol do seu pai, mas de repente decidiu ser diferente dele. Isso é novo? Não.
Aqui pode ocorrer uma armadilha mental – ou eu me submeto e fico igual, ou eu fico rebelde e faço o oposto do que esperaram de mim para provar que ninguém me domina. Em ambos os casos, o grande referencial é do outro e eu não tenho o meu. Aliás será que você gosta mesmo de futebol?
Você pode ter sentimentos, atitudes e pensamentos semelhantes aos do seu pai em algumas situações. Mas pode também ter dinâmicas diferentes em outras. Não é tudo igual, nem tudo oposto. Suas decisões estão voltadas para o futuro ou para agradar ou desagradar seus pais?
Quando estamos incomodados deconfortaveis o que nós devemos mudar?
Nosso ambiente interno ou o nosso ambiente externo?
Os dois! Devemos escolher um para começar. Dando preferência ao ambiente interno, pois este é este que vai ter que mudar para conseguir fazer face ao desconforto que nos estamos sentindo. Independente do lugar para onde vamos o ambiente interno vai sempre connosco.
O ambiente externo é facilitador ou dificulta o nosso bem estar. Entao se for possível agir também no ambiente externo esta é a melhor soluçao. O nosso sistema nervoso vai agradecer esta mudança , vai interagir com todos os outros sistema do corpo contribuindo para o nosso bem estar.
Espero que esta leitura tenha ajudado você a aventurar-se por novos caminhos ou alargar o trilho recém descoberto na floresta da sua mente, transformando numa estrada que você poderá pavimentar para caminhar cada vez melhor. Se precisar de um suporte profissional nesta jornada, nos estamos aqui para o ajudar.
Percorrendo novos caminhos abertos para o seu conhecimento, você saberá cada vez mais a cada passo. Desejo a você uma boa e consciente jornada.
O conflito entre o caminho que nos é disponibilizado pelos nossos cuidadores e o caminho que vamos construindo na nossa trajetória desenvolvimental, é uma tensão que, de certa forma, nos acompanha ao longo de toda a vida. Construir o nosso caminho representa definir a nossa personalidade. O caminho que definiram para nós representa as oportunidades e, também, as limitações colocadas pelos fatores sobre os quais assenta a construção da personalidade: a herança biológica e o contexto social. Construir o nosso caminho significa ultrapassar as limitações impostas por estes dois fatores e, consequentemente, alcançar o maior grau de autonomia e unicidade enquanto indivíduo. Não alcançar um grau de autonomia satisfatório significa menor aproveitamento das oportunidades oferecidas pela maturação biológica e pela atividade dos agentes de socialização (família, escola, média). Este menor aproveitamento traduz-se por défices desenvolvimentais e/ou dificuldades adaptativas que ocasionalmente se traduzem pelo prejuízo do equilíbrio e bem-estar psicológico.
A construção da personalidade representa a consagração em indivíduo psicológico de um sujeito que inicialmente era apenas biológico. Esta consagração, guiada pela alteração progressiva das funções cerebrais, corresponde à aquisição e desenvolvimento da mente enquanto entidade reguladora do comportamento humano. A mente humana foi originada através da atividade que liga os indivíduos da espécie humana ao mundo, aos outros e a si mesmos. Uma atividade que sofreu evolução ao longo do tempo e que possibilitou a transformação dos homens primitivos no atual homo sapiens.
Isto quer dizer que a emergência e desenvolvimento das competências mentais de cada pessoa começam por acontecer a nível social, externo, na medida em que são inicialmente experimentadas e aprendidas na interação com as outras pessoas e com o mundo.
A mente humana não é o resultado de uma mera ramificação das forças biológicas e sociais que atuam no indivíduo, nem sequer da sua combinação. Ela existe como uma forma de relação pelo que deve ser vista como uma entidade relacional. Mais do que uma atividade isolada que é despoletada por processos internos, com reduzida importância prática na vida, a mente e os processos psicológicos são percebidos como processos promulgados na e, através, da atividade dos indivíduos. Dito de outro modo, as formas materializadas da atividade humana são transformadas em processos intrapsicológicos. Isso é visível nas diferenças entre diferentes povos que habitam o planeta. A sua atividade diferencial na relação com a natureza, os outros humanos e consigo próprios é projetada na construção de circuitos cerebrais distintos que, por sua vez, possibilitam formas diferenciadas de concetualização, compreensão e atuação. Embora contingente com as leis da natureza e do mundo vivo, o desenvolvimento humano é radicalmente distinto dos processos do resto do mundo vivo.
A transição da atividade intersubjetiva (relacional) para a atividade intrasubjetiva (mental), do plano externo para o plano interno de atividade, do plano social para o individual, ocorre através de processos de mediação. Mais precisamente, a interação social, mediada pelas ferramentas culturais e pelos símbolos, permite a apropriação do material social para o domínio do individual. A aprendizagem de uma língua constitui um excelente exemplo disto. Dotado da capacidade cerebral para aprender a utilizar linguagens, o cérebro de cada pessoa aprende esta ou aquela língua em função da atividade intersubjetiva disponível no contexto onde cresce e vive. Por isso uns humanos falam português e outros falam japonês. Por isso uns humanos falam uma língua e outros falam duas ou três.
Isto significa que a construção da personalidade, embora limitada pelas caraterísticas das oportunidades disponibilizadas pelos agentes do ambiente sociocultural em que cada indivíduo cresce, é profundamente ditada pela atividade individual.
Este desafio é, simultaneamente, o propósito fundamental da nossa atividade. Nem sempre conseguimos resolver as dimensões deste conflito que são importantes na nossa vida individual. É nesse momento que precisamos de ajuda. As dificuldades apresentadas pelas pessoas que pedem ajuda psicológica, o sofrimento que materializam no seu corpo, refletem a forma mais ou menos favorável como resolveram aquele conflito até ao momento atual. O psicoterapeuta exerce uma função de mediação que possibilita a reorganização dos processos mentais, intrasubjetivos, de forma a que a pessoa consiga modificar evolutivamente a sua atividade. A transformação dos seus modos habituais de atuação vai fazer diminuir os seus níveis de dificuldade e sofrimento. Posso auxilia-lo no processo, marque a sua consulta hoje.
Imagine que tinha a oportunidade de escrever uma frase no céu, onde todas as pessoas do mundo pudessem ver essa frase, o que escreveria?
Eu talvez escrevesse: tudo, exatamente tudo, gira à volta de pessoas.
Mesmo, numa perspetiva evolucionista, sempre foi fundamental para a nossa sobrevivência e sucesso – os outros. Para fabricar instrumentos, manter o fogo aceso, caçar com sucesso, proteger a tribo, para a reprodução e evolução da espécie sempre foi necessário a existência de cooperação entre os membros do grupo.
Sentimentos como gratidão, altruísmo, amizade, lealdade, confiança – são sentimentos que foram fundamentais para manter as sociedades coesas. E ainda hoje são de grande utilidade, inclusive para o nosso bem-estar.
Acredito que este é o grande insight: no fim das contas, são as PESSOAS que definem se a nossa vida valeu a pena ou não. A melhor refeição não é num restaurante com estrela Michelin, mas aquela que foi partilhada com alguém incrível. Que sentido tinha ser milionário, mas estar sozinho numa ilha? Nós não celebramos uma conquista na vida ou nos negócios com o nosso carro, nem apartamento, nós queremos estar rodeados pelas pessoas que são importantes na nossa vida.
Resumindo: Precisamos de pessoas e tudo gira em torno de pessoas.
Por isso é que a capacidade de influenciar o mundo de forma positiva é incrivelmente poderosa. Deixar o planeta um pouco melhor do que o encontramos tem um significado enorme para a vida das outras pessoas e por consequência para nós.
Sabemos por exemplo que uma mente saudável é altruísta. Sabemos também, e os estudos mostram-nos isso, que a gratidão influencia o nosso cérebro a nível biológico, através do aumento de neurotransmissores responsáveis pelo bem-estar psicológico. Quem ajuda os outros e quem agradece com regularidade mantém maiores níveis de bem-estar e emoções positivas.
Gosto muito de uma história, que penso traduzir muito bem esta ideia.
Há muito tempos atrás, numa distante e pequena vila, havia um lugar conhecido como a casa dos mil espelhos. Nessa vila vivia um cãozinho pequeno e feliz, que um dia descobriu essa casa e decidiu visitá-la. Quando lá chegou a saltitar, olhou através da porta da entrada com as suas orelhinhas bem levantadas e a cauda a abanar. Para sua grande surpresa, deparou-se com outros mil pequenos e felizes cãezinhos, todos com as caudas a abanar como a cauda dele. Ele instantaneamente esboçou um enorme sorriso, e foi correspondido com mil enormes sorrisos. Quando saiu da casa, pensou: “Que lugar maravilhoso! Vou voltar aqui muitas muitas vezes”. Nessa mesma vila, outro pequeno cãozinho, que não era tão feliz quanto o primeiro, decidiu visitar a casa. Chegou à casa e olhou desconfiado através da porta. Quando viu mil olhares desconfiados de cães que o observavam fixamente, rosnou e mostrou os dentes. Ele ficou em pânico ao ver mil cãezinhos bravos a rosnar e a mostrar os dentes para ele. Quando saiu, ele pensou: “Que lugar horrível, nunca mais volto aqui”.
Isto leva-nos igualmente à famosa teoria chamada “O Efeito Borboleta” em que o mero bater das asas de uma borboleta pode mudar os padrões climáticos do outro lado do globo, causando ou prevenindo furacões. Ou seja, às vezes o mais pequeno gesto pode ter um impacto gigante.
Se aplicarmos isso à nossa vida e ao nosso mundo, se espalharmos sorrisos, gestos simpáticos e empáticos, estamos a provocar um efeito de melhoria na nossa vida, na vida dos outros e no mundo. Nós somos potencializadores de sentimentos bons ou maus que as pessoas levam em si. Cada atitude positiva, cada gentileza, reflete no outro uma dose de bem-estar.
Incorpore essa gentileza na sua vida, talvez possa começar por sorrir mais, por mostrar gratidão por alguém, ou se voluntariar para uma causa que se identifica. Quando nos conectamos com pessoas, sentimos uma sensação de felicidade e orgulho por saber que causamos um impacto, e por mais pequeno que seja, é sempre significativo.
Gosto de pensar que quando fazemos isso acontecer, essa força positiva não fica por ali, existe um efeito de cascata, ao ajudar uma pessoa, essa pessoa irá tocar em outras e por aí fora até se espalhar pelo mundo. De alguma forma, é como se mudássemos o mundo à nossa escala.
Não podemos esperar que o mundo mude, devemos ser nós a mudar primeiro. Como disse Mahatma Gandhi “Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo”. Acredito que temos diariamente de ter atitudes positivas para com os outros, temos de apresentar no nosso rosto o nosso melhor porque isso vai-se refletir no outro.
Procure refletir a sua melhor versão. Um psicólogo pode ajudar nessa descoberta e atualização de si mesmo. Marque a sua consulta hoje.
O melhor conselho que alguém lhe pode dar é: Coma comidas mais saudáveis, faça exercício físico, durma bem, leia bons livros, estude, preste atenção às suas emoções, aposte nas relações, e faça o seu melhor. E acima de tudo lembre-se – você é, e sempre será, o seu maior investimento.
Podemos definir investimento como qualquer aplicação de recursos com o objetivo de produzir um retorno futuro. Quando falamos em auto-investimento, falamos em dedicar esses recursos para nós mesmos, de forma a desenvolver e adquirir competências que serão fundamentais para a nossa evolução. No fundo, são ações dirigidas a nós mesmos, que vão impactar positivamente a nossa vida, a vida de quem nos rodeia e o mundo.
Quando realizamos esse auto-investimento, o retorno vem na forma de mais saúde física e mental, maior bem-estar, surgimento de novas oportunidades, relacionamentos mais satisfatórios, maior autoconfiança e autoestima, e aumento de recursos/ferramentas que o ajudarão a superar obstáculos e atingir os seus objetivos.
O retorno é garantido, uma vez que este auto-investimento, é um investimento que não está suscetível à desvalorização. Pelo contrário, é o único investimento em que não há riscos de perdas e com o qual só tem ganhos.
Talvez isto não seja uma surpresa para si – Quanto mais investe em si, melhor se torna e por consequência melhor se torna a sua vida. Mas então deixe-me fazer-lhe as seguintes questões: Que investimento tem feito em si ultimamente? Quando foi a última vez que fez algo exclusivamente para si?
Estamos sempre numa correria constante, a resolver urgências, a colocar as necessidades dos outros à frente das nossas e por vezes esquecemo-nos do que é realmente importante. Esquecemo-nos muitas vezes de cuidar de alguém realmente importante: nós mesmos.
Comece a colocar as suas necessidades em primeiro lugar, e só depois as dos outros. Aprenda a cuidar de si como cuidaria de alguém que ama. O tempo que investe e dedica a si próprio não é uma perda de tempo, nem é um ato egoísta. Antes pelo contrário, quanto mais cuidar de si, melhor e durante mais tempo vai conseguir cuidar dos outros.
Eu acredito que todos temos um potencial ilimitado dentro de nós. Carl Rogers, um dos psicólogos mais conceituados, defende uma tendência para a autoatualização, isto é, a tendência que um organismo tem de desenvolver todas as suas possibilidades de crescimento. Assim como uma batata num sótão, mesmo num lugar frio e húmido, com pouca luz e quase sem nenhuma condição de sobrevivência, a batata brota, como se tivesse condições de tornar-se uma planta de verdade. Para Carl Rogers, essa força que impulsiona ao crescimento está presente, também, nos seres humanos. Uma força interior, uma tendência para nos tornarmos as melhores pessoas que podemos ser. E isso na minha opinião é algo bonito e inspirador.
Se chegou até aqui, quero que saiba que é uma pessoa única, especial e valiosa, que tem dentro de si essa força, esse poder para ser o melhor de si e transformar a sua vida.
Comece por aqui: Uma forma de começar a fazer as mudanças necessárias é processar o que está a acontecer internamente. Sente-se calmamente e sinta o que está a acontecer dentro de si, que emoções e pensamentos surgem, depois escreva numa folha como gostaria de ser? O que as pessoas irão ver quando for a sua melhor versão? Como se sentiria? O que precisa para fazer, construir, enfrentar o que hoje ainda não consegue? Responda a essas perguntas e descubra o que precisa melhorar, para que possa passar para o próximo nível.
Todos temos um caminho para percorrer, um potencial para desenvolver. Conhecermo-nos a nós próprios, e saber o que precisamos melhorar é determinante para que possamos evoluir. Na maioria das vezes, as nossas limitações, vem de medos, traumas ou crenças que precisamos desbloquear. Livre-se de tudo isso que impede o seu crescimento pessoal e felicidade.
Na verdade, existem muitas formas de investir em si, mas todas exigem a mesma coisa para funcionar: Tem que querer e aceitar as mudanças. Não é fácil, mas vale muita a pena.
Acredite em si, acredite no processo. As pessoas melhoram e mudam as suas vidas. Eu vejo isso todos os dias.
Comece já hoje, a investir em si, no seu crescimento, na sua realização. Coloque-se como prioridade e veja resultados fantásticos a acontecer. Lembre-se: você é e sempre será o seu melhor investimento. Cuide-se em todos os sentidos. Se sente que necessita de apoio na jornada, marque a sua consulta hoje.
Rogers, C. (1977). Tornar-se Pessoa, 4.ª edição, trad. M. J. Carmo Ferreira. Lisboa: Morais Editores.
Na sociedade atual, repleta de informação e exigências, formas de vida tantas vezes automáticas e distantes dos outros, somos confrontados com situações, relações, olhares, conversas, que nos magoam, que tocam nas nossas feridas mais profundas. Gerir estas zangas, angústias, mágoas internas, torna-se um desafio diário para cada de nós.
Escolher perdoar, é uma decisão difícil, à qual muitas pessoas resistem, mas que verdadeiramente possibilita o encerrar de ciclos na nossa vida. Permite não viver no passado. O ato de perdão, é a oportunidade de libertar as amarras que trazem um peso negativo ao nosso dia-a-dia. É ainda um exemplo de inteligência emocional e desenvolvimento pessoal. Tudo o que não esquecemos fica, permanece e desenvolve-se dentro do nosso Eu e não permite a liberdade de seguir em frente e de viver novas histórias, experiências ou vivenciar maior felicidade e satisfação na nossa vida.
Quando falamos em perdão, não implica necessariamente uma reaproximação entre a parte ofendida e o ofensor, tal pode até nunca mais acontecer. O perdão é um processo interno, sentido, pode até não ser verbalizado ou partilhado, e que começa pela aceitação de que o outro erra, falha, ofende, tal como Eu o faço ou farei. Não porque é “mau/má”, não porque Eu o sou, mas sim, porque somos humanos, com histórias de vida e emoções que nos modelam. É importante desenvolver a compreensão da fraqueza do outro, do próprio e permitir uma mudança de perceção sobre o acontecimento e/ou sobre aquela pessoa, sem julgamento ou punição. É olhar com empatia para o outro (ou para si próprio), com amorosidade e permitir-se ver a fragilidade da condição humana.
O foco no comportamento do outro como abusador ou culpado também retira do próprio a responsabilidade de que na verdade algo é “dele” e está “em si”. Permanece no vitimismo, tantas vezes com benefícios secundários, não reconhecidos.
“A ação do outro que interfere comigo, que ressoa em mim, tem em parte algo que é meu e que preciso olhar, perceber, descobrir e alterar”
E neste sentido o processo de perdoar nesta perspetiva terapêutica tem em si uma dimensão de autoconhecimento imensurável.
Não perdoar alguém ou muitas vezes aguardar até que o outro o faça ou reconheça o seu erro, é ficar preso no orgulho, no ego e em sentimentos de vingança, temperados de ódio e raiva. Ressentimentos, que geram úlceras emocionais, dificuldades de confiar no outro, sentimentos que não digeridos apenas limitam as nossas competências sociais, relações com o exterior e a nossa possibilidade de amar.
Decidir perdoar o outro (ou a si próprio) deverá ser entendido como um ato libertador e de amor próprio. Na verdade, não perdoamos pelo outro, mas por nós mesmos, para que seja possível superar dores e sentimentos negativos, num processo de autocura física, emocional e psicológica.
Quando relembramos o evento doloroso ou traumático que nos provoca essa dor, zanga ou ódio, quando não conseguimos sair desse lugar, estamos sistematicamente a rememorar essa mágoa, entrando em processos de auto-agressão e estados psicológicos de stress, ansiedade, depressão, raiva ou até dor física. Ao conseguirmos desistir da vingança e julgamentos e ao procedermos à ressignificação dessa experiência, própria do processo de perdão terapêutico, mudamos a interpretação ou o foco. Diferente do perdão litúrgico ou moral, o perdão terapêutico permite criar alterações profundas ao nível fisiológico, neuronal ou emocional e trazer novos sentimentos para o nosso dia-a-dia, como a compaixão, o alívio, a generosidade e a leveza. É verdadeiramente um processo de autocura.
"Em última análise, precisamos amar para não adoecer.”
Perdoar o vizinho quando não disse “bom dia”, perdoar o colega de trabalho porque não respondeu como gostaria, perdoar os pais pelas crenças menos boas ou mágoas transmitidas, o filho quando não respondeu adequadamente, o conjugue porque não manifestou afeto naquele dia que precisava, é a chave para viver a vida de uma forma mais plena. Quando perdoamos, quando conseguimos olhar e avaliar conscientemente aquela situação, pessoa ou experiência de uma outra forma, com emoções mais positivas, possibilitamo-nos a mudança individual e o nosso bem-estar físico e emocional.
Estudos realizados por psicólogos especialistas em neurociência do comportamento, demonstram a existência de mudanças na estrutura do cérebro geradas pelo perdão (novas sinapses e novas formas de pensar) e indicam o impacto da capacidade de perdão no aumento do nível de serotonina, na redução da pressão arterial, na qualidade do sono, entre outras dimensões (Kathleen Lawler-Row, 2005), o que gera processos curativos evidentes.
É o sair do instinto da vingança, da dor e do ressentimento, que permite desenvolver o instinto do perdão, como um meio de romper com ciclos (auto)destrutivos, aprendendo estratégias de compaixão, bondade e amor, como forma de resolução de conflitos inter e intrapessoais e enquanto método de gestão de emoções internas.
Aprender, integrar ou desenvolver um processo de perdão (de si ou do outro) é um ato de coragem, de libertação, de autoconhecimento e de autocura. Guardar em nós sentimentos e experiências negativas, torna-nos a pior versão de nós mesmos. Perdoar é elementar na construção de uma vida mais segura, equilibrada, saudável e amorosa.
O convívio humano e a pacificação na sociedade seriam difíceis de haver se as pessoas não tivessem disposição para perdoar e serem perdoadas. Dessa forma, as crianças precisam ser ensinadas concernentes ao perdão, o qual é necessário tanto para pessoas quanto para instituições, pois, caso contrário, poderão ser suscitadas guerras e contendas. Na família, apenas o perdão com mutualidade tem potencial de torná-la duradoura e alegre; nas entidades educacionais, o perdão entre professores e alunos se faz preciso para uma adequada compreensão do aprendizado; na seara trabalhista, funcionários e empregadores devem saber se perdoar (OLIVEIRA, 2003).
No contexto da psicologia, a definição do perdão é, basicamente, “uma decisão consciente de liberar sentimentos de ressentimento em relação a uma pessoa que o prejudicou, independentemente de ela merecer isso ou não.”
Para percebermos melhor o poder do perdão é preciso, antes de tudo, compreender que perdoar tem a ver com o fato de que o mundo não gira apenas ao seu redor. Sim, você é aquele cujo ego foi ferido e que executará a ação de perdoar. Mas, além de pensar apenas em si mesmo, você também precisa ter a visão sistêmica e se colocar no lugar da outra pessoa.
De acordo com Neto, Ferreira e Pinto (2006), perdoar pode ser encarado sob várias perspectivas, desde acontecimentos contextualizados entre indivíduos a uma peculiaridade de disposições que sobrepuja injustiças entre pessoas. Vem sendo concebida convencionalmente como uma construção teológica no cenário da maior parte das religiões do globo terrestre, constituindo um elemento necessário, tendo em vista aprimorar a saúde espiritual, de sorte que as culturas relacionam o perdão com a acepção religiosa ou transcendental.
O ato de perdoar é importante, pois nos livra de maus sentimentos como o rancor, a raiva e a vingança. Quando esses tipos de sentimentos negativos dominam a pessoa, o pior dele se manifesta, desencadeando danos físicos e psíquicos a si mesmo e aos que o cercam.
Estudos mostram que o perdão entre indivíduos pode ser encarado como uma conduta moral que colabora para a qualidade de vida do ofendido e do ofensor, sendo relevante para a permanência dos relacionamentos sociais e afetivos. A ação de recebimento do perdão constitui uma direção tendo em vista a diminuição da culpa e do pesar ocasionado pela prática de um ato injusto e a vontade de ser admitido como merecedor do perdão. O ofensor deve admitir que cometeu a injustiça, sentindo pesar pela atitude injusta e manifestar respeito pelo ofendido, entendendo que este é quem decide perdoar, podendo precisar de um tempo para tal.
Perdoar é uma atitude madura, faz parte do nosso processo de desenvolvimento humano. Principalmente para quem sofreu uma traição ou algum tipo de violência. Certas situações deixam marcas profundas em qualquer pessoa. E, consequentemente, uma mágoa grave e um grande rancor se instalam.
A questão do perdão vem despertando interesse da ciência, visto que alguns pesquisadores creem que pode elevar a qualidade de vida e o aspecto psíquico no decorrer da existência humana. Relaciona-se o perdão com alguns benefícios, dentre os quais estão: paz psíquica, diminuição do estresse, aumento da alegria, redução da tensão arterial, amenização de dores crônicas, aprimoramento do sistema imune, prolongamento existencial, perspectiva de mundo mais otimista, capacidade de instituir novas relações.
Perdoar pode ser concebido como a aptidão de sobrepujar o remorso, a mágoa e a vingança no que se refere ao ofensor, sendo reputado como uma das cruciais qualidades, de modo que o Novo Testamento o relaciona com a genuína salvação humana. Possui grande relevância para perpetuidade dos relacionamentos e para a saúde psíquica da pessoa ofendida, podendo elevar a qualidade de vida mental e corpórea (MENEZES, 2009). O perdão constitui um elemento implícito da qualidade de vida psicológica, corpórea e relacional, colaborando para a incidência de baixos graus depressivos e ansiosos, possuindo enorme relevância para a religião cristã, na qual é reputado como alicerce dogmático (GOUVEIA, 2009).
Quando alguém nos faz o mal, o melhor remédio para isso é perdoar e seguir a vida. Guardar rancor por um tempo prolongado gera sérias implicações em nosso bem-estar emocional, mental e físico.
O perdão é caracterizado como uma forte predisposição de uma pessoa para perdoar outra, seja qual for o momento ou ocasião, traduzindo-se em uma peculiaridade psíquica contínua que oscila de sujeito para sujeito. Possui sua devida importância, pois colabora para saúde psíquica e corpórea, proporcionando benefícios para a sociedade como um todo. A partir do instante em que pessoas experenciam a ausência do perdão, através de atos emotivos de amargura, ressentimento, raiva, ódio, temor, vingança e retaliação, podem exibir problemas de saúde psicológica.
Mendonça et al. (2021) abordam que indivíduos que perdoam possuem predisposição a Pressão Arterial (PA) mais baixa em relação aos que não perdoam, havendo estratégias de aprendizagem para o perdão que podem promover a redução da PA. A partir do momento em que não se pratica o perdão, ocorre a elevação do tamanho do coração, da PA, do processo respiratório e de gordura no sangue, de sorte que essas constituem as mesmas manifestações sintomáticas do estresse e da raiva. A diminuição do ódio, do estresse e hostilização provocada pela atitude de perdoar ocasiona um aprimoramento relevante na saúde psíquica e corpórea.
Quando não se superam os sentimentos negativos e o pessoa não perdoa, isso atinge o aumento de emoções tóxicas, raiva e estresse, o que pode conduzir a um aumento das reações fisiológicas como elevação da PA e da frequência cardíaca.
Diante disso, o perdão contribui para melhoria da saúde espiritual e mental da sociedade, especialmente para o bem-estar do ofensor e do ofendido, constituindo um elemento significativo para continuidade das interações sociais, traduzindo-se num componente que traz melhorias nos aspectos físicos e psíquicos, promovendo a paz comunitária.
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Se abriu este artigo provavelmente alguém ou algo na sua vida o magoou, e essa dor, angústia e sofrimento ainda estão algures dentro de si. Talvez até consiga definir um antes e um depois dessa mágoa, dessa fase horrível. Talvez tenha sido o dia em que descobriu algo doloroso, uma conversa difícil, o fim de uma relação, o dia em que um amigo o desiludiu, talvez tenha sido uma acusação, traição, violação, agressão, manipulação… enfim, o dia em que tudo mudou.
Também por isso, talvez se pergunte na maioria dos dias se é mesmo possível seguir em frente depois de algo assim? se algum dia deixará de ter aquela sensação? Se é mesmo possível criar uma vida feliz novamente?
Se até agora ninguém foi gentil o suficiente para lhe dizer isto, eu digo – Lamento muito, mesmo, por tudo o que aconteceu consigo.
Ao mesmo tempo, ficar preso à culpa e deixar definir a sua vida para sempre pelo que outros fizeram só aumentará a dor. Pior, projetará essa dor nos outros. Outros esses que não merecem isso. Quanto mais a nossa dor nos consome, mais ela nos controla.
Não deixe isso acontecer. Não troque mais a sua paz, a sua integridade, a sua estabilidade emocional e todos os seus sonhos. Esses eventos e essas pessoas já causaram dor suficiente.
Judith Herman no seu livro Trauma and Recovery explica que não somos responsáveis pelo mal que nos fizeram, mas somos responsáveis pela nossa recuperação. Ou seja, a melhor forma de se libertar não está em obter vingança, ou lutar intensamente contra a injustiça do que foi feito. Mas sim, no poder de decidir como vai viver o resto da sua vida. Ao assumir a responsabilidade de se curar, está a dar um passo gigante no sentido de se fortalecer e fazer as pazes com o passado.
Até porque você já não é a mesma pessoa, naquele momento fez o melhor que sabia com aquilo que tinha e com aquilo que era. Agora é outra pessoa e cabe a si decidir como vai seguir em frente.
Isso significa aprender a perdoar aqueles que o injustiçaram e também sobretudo a perdoar a si mesmo. Claro que o perdão não é um feitiço mágico que faz ficar tudo bem imediatamente, mas é o princípio de tudo. Se continuar preso a sentimentos tóxicos de ressentimento, se não conseguir se livrar do rancor, na verdade está a impedir-se de ter uma vida melhor.
Um aspeto importante no que diz respeito ao perdão, é que nem sempre tem a ver com a outra pessoa, na maioria das vezes antes de perdoar outra pessoa, pode ser necessário perdoar-nos a nós mesmos.
Sem esse auto-perdão, será difícil progredir na sua vida, uma vez que a culpa, a raiva que sente de si mesmo faz com que o seu cérebro continuamente lhe diga que não é bom o suficiente e, eventualmente, começa a acreditar, o que faz baixar a sua autoestima e autoconfiança.
Perdoar a si mesmo, significa estar disponível para fazer as pazes consigo e isso é algo maravilhoso. Restabelecer a relação que tinha consigo mesmo, voltar a gostar de si e a reconhecer o seu valor. Desculpar-se apropriadamente e pedir (ou oferecer) perdão permitirá livrar-se da dor e seguir em frente com o resto da sua vida.
Nós somos um produto da nossa história, mas o que fazemos daqui para a frente conta muito. A sua história de vida não deve ser uma história de dor ou de vítima. Há muito mais em si, há muito mais para ver, descobrir e experimentar.
Talvez uma das partes mais difíceis de seguir em frente é: deixar ir. Mas talvez seja possível deixar ir aquilo que devemos, aquilo que nos magoa, mas carregar connosco o que é bonito, significativo e verdadeiro. E talvez essa versão seja o que nos levará a um lugar de paz e tranquilidade.
Pode ser necessária alguma ajuda profissional para realmente deixar esses sentimentos negativos desaparecerem, mas o processo irá dar-lhe um alívio incrível. Lembre-se: o melhor momento é o agora. Seja o protagonista, realizador e produtor da sua vida.
O perdão constitui uma das mais exigentes ações humanas, uma exigência bem patente na condição a alcançar para emitir um perdão verdadeiramente efetivo. Este tipo de comportamento exige que, apoiada na vontade em perceber o ofensor com compaixão e benevolência, a pessoa consiga superar os juízos e afetos negativos relativos ao ofensor, apesar de reconhecer que tem direito a tais juízos e afetos. Deste modo, a pessoa opta por descartar juízos e afetos negativos em detrimento de juízos e afetos positivos. Importa referir que, por vezes, a pessoa causa danos a si própria o que exige o autoperdão.
A condição apresentada evidencia a complexidade do perdão pois inclui dimensões afetivas, de ressentimentos ou raivas, dimensões cognitivas, de rejeição ou condenação e, dimensões comportamentais, de manifestação de compaixão e benevolência ao invés de retaliação ou vingança. A maior parte de nós dirá que este comportamento apenas está ao alcance de pouquíssimas pessoas. Para se perceber como podem alcançar esta competência é necessário conhecer como ela se modifica ao longo do desenvolvimento.
O desenvolvimento do perdão pode ser descrito de forma resumida em 6 estádios evolutivos. Numa primeira fase a pessoa admite o perdão se puder castigar quem a ofendeu (perdão como vingança). Num segundo período, a pessoa perdoa se voltar a ter o que perdeu na ofensa (perdão como restituição). Numa terceira fase a pessoa perdoa para fazer o que é esperado pelos outros (perdão como expetativa social). Numa quarta etapa a pessoa perdoa para cumprir uma exigência definida por referências ideológicas imanadas pelas instituições sociais, educativas, religiosas, jurídicas, políticas, etc (perdão como expetativa legal). Num quinto período a pessoa perdoa porque é um modo de restabelecer a harmonia interpessoal e diminuir os conflitos sociais (perdão como harmonia social). Finalmente, na sexta etapa, a pessoa perdoa porque é uma ação que promove um verdadeiro sentido de amor no convívio entre as pessoas (perdão como amor).
Esta sequência evolutiva, expressa uma centração inicial na própria pessoa nas duas primeiras etapas: orientação para o castigo (1) e para o interesse próprio (2). De forma evolutiva, a pessoa adota uma centração em aspetos interpessoais nas duas etapas seguintes: orientação para a aprovação interpessoal (3) e para a manutenção do sistema institucional visto como um todo (4). Finalmente, ela alcança uma centração moral: orientação para o maior bem comum (5) e orientação para um ideal a alcançar na relação (6).
A capacidade progressiva de incluir critérios de reversibilidade e reciprocidade nos seus juízos cognitivos, permite a transformação de um pensamento egocêntrico, sempre mais direcionado para a própria pessoa e para os seus prejuízos, num pensamento com descentração social e, consequentemente, maior capacidade para considerar os outros. Finalmente, os juízos utilizam um pensamento mais abstrato que é capaz de considerar dimensões gerais como o Maior Bem Comum. Porém, a transformação cognitiva é acompanhada por uma outra modificação nesta sequência evolutiva. O abandono de afetos de cariz negativo, como a raiva e o ressentimento, a favor de afetos mais positivos orientados para a consideração dos outros e, particularmente de elementos fundamentais na regulação do convívio social como a empatia e a compaixão, é uma competência decisiva para o desenvolvimento do perdão.
Estas competências asseguram a possibilidade de a pessoa superar o ressentimento ao ofensor que lhe causa sofrimento, fundamental para alcançar um estado psicológico de tranquilidade e bem-estar. Este raciocínio pode igualmente aplicar-se ao autoperdão, nos casos em que a pessoa permanece em estados psicológicos determinados por emoções de vergonha e/ou a culpa, ou causados por julgamentos que a levam a assumir a responsabilidade de um dano causado a si própria. Enquanto a pessoa não se perdoar vai permanecer em estado de sofrimento. Aceitar os limites da condição humana, da possibilidade de acerto e de erro ou de alcançar ou falhar metas definidas, é um estado fundamental de consciência para ter mais saúde e qualidade de vida.
É importante que a pessoa consiga reconhecer as suas emoções e sentimentos, seja em relação a outra pessoa, seja em relação a si mesma. Isso vai ajudá-la a perceber porque tem determinados pensamentos, frequentemente com uma natureza repetitiva. Após esse reconhecimento, a pessoa deve tomar uma decisão sobre o que pretende fazer com esses sentimentos. Pode permanecer num funcionamento de vítima indefesa, o qual causa muito sofrimento. Esta escolha permite que o ofensor, ou o comportamento considerado errado ou impróprio no caso de ser autoinfligido, continuem demasiado presentes na mente da pessoa o que alimenta o mal-estar emocional. De modo distinto, a pessoa pode aceitar a situação o que lhe permite eliminar a presença do ofensor na sua mente, ou do comportamento alvo de autocondenação, o que lhe permite assumir o controlo da situação, passando de vítima a protagonista. Ao abandonar as ideias de castigo, dirigidas a outrem ou a si mesma, a pessoa consegue abandonar as cargas tóxicas acopladas à situação vivida, aumentando o bem-estar e confiança. Estas operações psicológicas são difíceis e, frequentemente, exigem a realização de um trabalho psicoterapêutico.
Muitas vezes as pessoas mantêm juízos negativos sobre comportamentos emitidos no passado, esquecendo que as condições em que avaliam esses comportamentos no presente diferem daquelas em que os cometeram. É preferível a pessoa aceitar o que aconteceu, perdoar-se a si própria ou, até, perdoar quem teve comportamentos negativos consigo. Tem de ser verdadeiramente uma ação de perdão, ao invés de um mero esquecimento, pois não são a mesma coisa nem geram efeitos semelhantes. Quando a pessoa opta pelo mero esquecimento é frequente manter sentimentos de ressentimento a si ou ao ofensor. O esquecimento é uma espécie de perdão “oco ou vazio” pois não garante à pessoa a modificação suficiente do seu estado psíquico. É necessário um perdão emocional, no qual existe uma substituição de emoções negativas por emoções positivas e orientadas para o outro. As emoções são fundamentais nos processos decisórios pois permitem uma melhor priorização dos objetivos e. particularmente, mobilizam energia e dão direção ao comportamento. Para perdoar verdadeiramente é preciso ter empatia e/ou compaixão, a si ou ao ofensor. A pessoa apenas abandona o sofrimento em favor de um estado de verdadeira e estável tranquilidade quando emite julgamentos apoiados naquelas emoções.