Não te agarrei mas amar-te-ei para sempre...
O aborto aos olhos do coração
Um sonho interrompido…
Uma decisão difícil…
Uma dor indescritível…
Um aperto sufocante…
O aborto é um tema carregado de emoções e complexidade, permeando debates sociais, éticos e políticos, mas por trás de cada estatística e argumento, há histórias individuais de mulheres, homens, casais confrontados com uma partida inesperada ou uma decisão angustiante e suas consequências emocionais profundas.
Quando um casal enfrenta a decisão de realizar um aborto, tanto homens quanto mulheres podem experimentar um vasto leque de emoções intensas. Uma das emoções mais comuns expressas por ambos os parceiros é a incerteza. A incerteza pode manifestar-se como dúvida sobre a decisão a ser tomada, preocupação com as consequências futuras e ansiedade sobre o impacto emocional e prático da escolha. Essa incerteza, muitas vezes, está ligada à complexidade da situação e à dificuldade de prever todas as ramificações da decisão para as suas vidas e relacionamento.
“Não queremos trazer um filho ao mundo em circunstâncias tão difíceis.”
“Não podemos lidar com as pressões da sociedade ou da família.”
“Não queremos que o nosso filho cresça num ambiente instável.”
“Não queremos passar pela dor e pelo trauma de um aborto espontâneo ou de complicações durante a gravidez.”
“Não queremos ser julgados ou estigmatizados pela nossa decisão.”
“Não queremos trazer uma criança ao mundo se não pudermos oferecer-lhe tudo o que merece.”
Priscilla K. Coleman e outros pesquisadores debruçaram-se sobre o impacto do aborto na saúde mental da mulher. Um de seus estudos significativos, intitulado “The Psychological Pain of Perinatal Loss and Subsequent Parenting Risks: Could Induced Abortion Be Considered a Component?”, explora a relação entre aborto induzido e saúde mental, particularmente em termos de luto e trauma. Coleman sugere que o aborto possa ser considerado um tipo de perda perinatal, o que pode ter impactos significativos na saúde mental das mulheres, incluindo sintomas de depressão, ansiedade, transtorno de stresse pós-traumático e problemas conjugais.
De forma sucinta, segundo Coleman, existem dados relevantes a ter em consideração, nomeadamente:
Associação entre Aborto e Problemas de Saúde Mental: muitos estudos encontraram uma associação estatisticamente significativa entre o aborto induzido e problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, transtorno de stresse pós-traumático, abuso de substâncias e até mesmo suicídio.
Efeitos a Longo Prazo: os efeitos negativos do aborto na saúde mental das mulheres podem persistir a longo prazo, afetando o seu bem-estar emocional e psicológico durante anos após a interrupção da gravidez.
Luto e Trauma: o aborto pode ser vivido como uma forma de perda significativa, o que leva a sentimentos de luto não reconhecido e trauma emocional, especialmente se a decisão de abortar foi difícil ou se a mulher se sentiu pressionada a fazê-lo.
Necessidade de Suporte e Aconselhamento: é relevante a existência de rede de suporte e aconselhamento adequados para as mulheres que enfrentam uma gravidez indesejada ou que optam por interromper uma gravidez, bem como, ter em conta as possíveis repercussões emocionais e psicológicas dessa decisão.
Nancy Felipe Russo, autora de “Loss, Trauma, and Resilience: Therapeutic Work with Ambiguous Loss”, aborda o aborto como uma forma de perda ambígua. O conceito de “perda ambígua”, segundo Russo, refere-se a situações em que há uma falta de clareza ou certeza sobre a natureza e o impacto da perda. No caso do aborto, essa ambiguidade pode surgir devido à variedade de sentimentos e interpretações que cercam a decisão de interromper a gravidez.
Russo afirma que o aborto pode desencadear uma série de respostas emocionais complexas, incluindo luto, trauma e até mesmo sentimentos contraditórios de alívio e culpa.
Quando um casal enfrenta um aborto espontâneo, é comum que ambos os parceiros experimentem uma variedade de emoções e pensamentos complexos. Alguns dos sentimentos e pensamentos mais comuns incluem:
Tristeza Profunda: Ambos os parceiros podem sentir uma tristeza avassaladora pela perda do bebé, especialmente se estavam emocionalmente investidos na gravidez e tinham expectativas e planos para o futuro como pais.
“Eu sinto-me tão perdida.”
“Não sei como lidar com esta dor.”
“Estou devastado com a perda.”
Descrença e Choque: O aborto espontâneo pode ser uma experiência chocante e surreal para o casal, levando-os a questionar como algo tão devastador pode ter acontecido.
“Porque é que isto teve que acontecer comigo?”
“Não consigo encontrar palavras para expressar o que estou a sentir.”
Culpa e Auto-reprovação: Tanto a mulher quanto o homem podem sentir culpa e auto-reprovação, questionando se fizeram algo errado ou se poderiam ter evitado a perda.
“Não consigo parar de pensar no que poderia ter sido.”
“Sinto tanta culpa e arrependimento.”
“Sinto-me impotente.”
“Eu queria tanto ser capaz de proteger a minha companheira e nosso bebé.”
Vazio e Perda de Propósito: O aborto espontâneo pode deixar o casal com uma sensação de vazio e perda de propósito, inicialmente viviam a ansiedade de se tornarem pais e agora lidam com o vazio deixado pela perda do bebé.
“Sinto como se o meu coração estivesse partido.”
“Eu queria tanto este bebé.”
“Eu sinto-me vazia por dentro.”
Raiva e Frustração: Além da tristeza, é comum que o casal tenha sentimentos de raiva e frustração em relação à situação injusta e fora de seu controlo.
“Eu só queria poder abraçar o meu bebé.”
“Sinto uma mistura de tristeza e raiva.”
Medo do Futuro: O aborto espontâneo pode despertar preocupações e medos sobre o futuro da relação e da família, assim como a possibilidade de enfrentar futuras dificuldades para conceber ou levar uma gravidez a termo com sucesso.
“Eu não sei como vou superar isto.”
“Não sei como vou seguir em frente.”
Solidariedade e União: muitos casais encontram conforto e apoio um no outro, fortalecendo a sua conexão e união enquanto enfrentam essa experiência difícil juntos.
“Estou a lutar e a tentar entender porque isso aconteceu connosco.”
Davis aborda o aborto como um luto, um processo complexo e individual, reconhecendo a intensidade das emoções que os pais podem enfrentar ao passar por essa experiência. A autora sugere algumas estratégias práticas e emocionais para enfrentar a dor e encontrar formas de lidar com a perda, nomeadamente a procura de ajuda especializada para a compreensão do luto, o apoio emocional e o cuidado com o casal, no sentido de encontrar maneiras de se conectar e apoiar um ao outro.
O aborto é um assunto complexo e muitas vezes controverso que levanta uma série de questões emocionais, éticas e de saúde pública. Para as pessoas que passam por esta experiência, seja por escolha pessoal ou por circunstâncias médicas, emocionais ou sociais, o processo pode ser bastante desafiador e, por vezes, traumático.
Neste contexto, é essencial promover estratégias de acompanhamento eficazes que abordem as necessidades físicas, emocionais e psicológicas das pessoas que passam por um aborto. Essas estratégias não só fornecem apoio prático durante o procedimento em si, mas também ajudam as pessoas a enfrentar o processo de luto, a lidar com as emoções complexas que surgem e a recuperar de forma saudável.
Identifico algumas atividades que podem ajudar os pais, a mulher e o homem, a lidar com este período difícil e que podem ser úteis:
- Escrita Terapêutica: Escrever sobre os sentimentos, pensamentos e memórias relacionadas à perda pode ajudar os pais a processar as suas emoções e encontrar alguma forma de alívio. Manter um diário ou escrever cartas para o bebé perdido pode ser uma maneira de expressar o que estão a sentir.
- Meditação e Mindfulness: Práticas de meditação e mindfulness podem ajudar os pais a encontrar um espaço de tranquilidade num momento de dor e de sofrimento. A meditação ajuda a reduzir o stress, acalmar a mente e promover a aceitação e paz interior.
- Exercício Físico: A atividade física regular, como caminhadas, corridas, ioga ou qualquer outra forma de exercício que os pais gostem, pode ajudar a libertar endorfinas, a melhorar o humor e a reduzir os sintomas de stress e ansiedade.
- Arte Terapia: Realizar atividades criativas, como pintura, desenho, escultura ou qualquer outra forma de expressão artística, pode ser uma maneira poderosa de processar emoções difíceis e encontrar momentos de alívio e uma saída para a dor.
- Participação em Grupos de Apoio: Interagir com um grupo de apoio de pais que passaram pela mesma experiência de perda pode proporcionar conexão, compreensão mútua e apoio emocional. Compartilhar histórias, ouvir experiências de outras pessoas e receber apoio tende a ser reconfortante durante este período.
- Terapia Individual ou de Casal: Procurar aconselhamento ou terapia com um profissional especializado é benéfico para os pais. Um terapeuta pode oferecer um espaço seguro para, por exemplo, explorar emoções e desenvolver estratégias para lidar com o luto.
Em relação ao facto de enfrentar a perda de um bebé, seja por aborto, natimorto ou morte neonatal, é essencial lembrar que o luto é um processo único e individual para cada pessoa.
No túnel escuro da perda, onde as sombras da tristeza podem obscurecer o caminho, o amor que se nutre pelo bebé perdido torna-se uma luz eterna, iluminando os corações com esperança, lembrando de que, mesmo na dor mais profunda, o amor transcende a despedida.
Se está a passar por um momento difícil e gostaria de ter apoio adicional, não hesite em entrar em contacto. Estou aqui para oferecer escuta ativa, apoio emocional e recursos úteis para o/a ajudar a navegar por este período desafiador.