A época actual vive uma marcada fragilidade na manutenção das relações, principalmente nas relações de casal. Há um fenómeno individualista cada vez mais marcante. As tecnologias ligam o mundo e afastam as pessoas. É mais fácil dizer “olá” ao colega de curso emigrado em Londres do que “amo-te” à mulher na sala. Há uma admiração enorme pela vida partilhada nas redes sociais, vida muitas vezes (quase sempre) virtual, ficcionada, trabalhada para ser perfeita, do que pelas imperfeições ou frustrações diárias da vida real. Há assim um individualismo maior impulsionado pela necessidade de obtenção de prazer imediato, sem riscos (será?!) ou frustrações.
Inevitavelmente (e ainda bem) há um encontro real entre duas pessoas que, por variadas razões, acabam por ficar juntas. Sem virtualidades, sem namoros online, falamos aqui do namoro terreno offline. Mas só o amor verdadeiro, a paixão real, a admiração, o cuidar do outro e o interesse real pela outra pessoa poderá salvar este encontro entre duas pessoas durar para sempre de forma saudável, genuína e plena. E viverão felizes para sempre?
Pensar sobre esta questão requer lembrar que a relação de casal é pautada pela reciprocidade absoluta. Quando conhecemos alguém pelo qual sentimos amor há uma alegria e uma admiração imensa. Há um caminho que se constrói a dois que surge diante de nós, há uma força imensa em nós por sermos amados e por amar-mos.
Depois há duas grandes fases no viver com alguém – a paixão e o amor. O ideal é que andem cruzadas o máximo de tempo possível.
O QUE É DO AMOR? O QUE É DA PAIXÃO?
A paixão ligada à fantasia, à atracção física, ao pensar constante no outro, à ânsia de pertença nos seus braços, como sendo uma metade que deseja encontrar a sua outra parte para ser completa, feliz e realizada.
O amor, esse tem de ser real, verdadeiro, com admiração pelo outro, pelo o que é na realidade, com os seus defeitos, fragilidades, competências, medos, com os seus momentos altos e momentos baixos. Facilmente se percebe que a individualidade não permite um amor verdadeiro. A relação tem de ser a dois, uma partilha, uma adaptação constante. Tudo isto são privilégios de viver a dois mas que precisa ser alimentado, regado, exactamente como uma planta que senão for regada acaba por morrer.
Tudo isto deve ser verdadeiro assente no amor e na admiração pelo outro.
A falta de admiração pelo outro é, para mim, a grande “pedra no sapato” dos casais porque magoa a relação e afasta o amor.
Quando fiz a minha primeira sessão de terapia de casal, lembro-me que a primeira conclusão que escrevi, no final da mesma, foi: “ela não se sente admirada por ele!“.
Nos casais seguintes várias vezes me surgia a questão da admiração ter-se esgotado a dado momento da relação. Ao longo destes anos tenho verificado que a admiração é de facto crucial num bom relacionamento conjugal. No inicio de qualquer relação a admiração de um pelo outro é importante neste aproximar de pessoas, de histórias, de vidas. Nas conversas iniciais, nos passeios juntos, nas idas ao cinema é comum um dos dois, de preferência um mais confiante que diga as coisas que sente sem medos ou amarras, dizer: “admiro a forma como lidaste com tudo“, “admiro a garra com que te dedicas ao teu emprego“, “admiro a coragem que tens“, etc..; Com o passar dos anos essa admiração desvanece-se, tornam-se prisioneiros da rotina, do hábito conhecido, vultos e sombras a vaguear juntos na mesma casa.
Quando admiramos o outro fazemos coisas que nem reconhecemos em nós, dizemos frases poéticas, estamos onde não seria possível estar a horas que nem nós acreditaríamos que pudéssemos estar. Um dia, quando essa admiração acaba, fazemos coisas por obrigação, dizemos que sim de modo automático sem ouvir, estamos por acaso ou não estamos sem saber.
Os problemas surgem quando não conseguimos perdoar o outro, quando o outro idealizado não corresponde às nossas fantasias, quando culpamos o outro constantemente apontando um dedo firme ditatorial, quando o desejo diminui ou já desapareceu, quando nos desresponsabilizamos pelos nossos actos e culpamos o outro pela nossa miserável fobia e ressonâncias pessoais, quando o sentimento de pertença não tem lugar marcado.
A relação de casal organiza-se como uma unidade de pertença, isto é sempre obrigatório porque esta relação resulta das dinâmicas contribuições da personalidade de cada um dos membros.
Assim, quando fugimos do amor com medo de poder vir a sofrer ou quando não estamos dispostos a amar porque os prazeres físicos imediatos são priorizados estamos a fugir da felicidade e os problemas surgem. Os problemas surgem e os casais morrem!
7 CHAVES FORMAM O CHAVÃO “FELIZES PARA SEMPRE”:
– Chave da Comunicação: A comunicação é crucial e é impossível não comunicar. Comunicamos com palavras, com silêncios, com estar presente, com ignorar, com a roupa que vestimos, com a posição que escolhemos ao adormecer. Partilhar o que sentimos com o outro, ser assertivos no nosso diálogo é fundamental na relação a dois. Ser verdadeiro e falar sobre tudo é fundamental. Quando se partilham fragilidades não se está a perder credibilidade na relação, está-se a fortalecer laços e confiança, a ser genuíno, está-se a dizer: “confio tanto em ti e na nossa relação que estou totalmente entregue“. A comunicação saudável no casal deve ter presente a escuta interessada no outro, ao invés de estar centrado na resposta que lhe irá dar.
– Chave da Aceitação: Aceitar o outro no seu real sentindo de ser, quebrando as idealizações, as esperanças depositadas, as crenças construídas. Aceitar o outro como ele é, não o que gostaríamos que fosse. Aceitar a personalidade do outro distinta da nossa e mesmo assim admirá-lo por isso, fundamentalmente, amá-lo;
– Chave da Individualização: Cada um dos membros do casal deve ter tempo para si, fazer actividades só suas que lhe confiram prazer e sentimentos de individualidade. Desta forma, estará mais saudável consigo e mais aberto e confortável na relação a dois;
- Chave da Construção: Uma relação deve ter uma construção constante do “nós” e não apenas do “eu”. Deverá haver uma busca do que realiza a relação a dois, do que a torna saudável e completa, uma colaboração entre duas pessoas que se gostam e caminham lado a lado. O casal não deve nunca procurar conduzir a sua vida independentemente da vontade do outro, não deverá estar excessivamente auto-centrado, a individualidade é essencial, mas o casal desenvolve-se e vive se for alimentada a construção da sua relação.
O casamento está muitas vezes ligado a crenças baseadas na obrigatoriedade de uma relação fusional em que a ideia de que o outro não pode fazer o que sente, muitas vezes diferente do sentir do outro, ou não pode fazer algo sozinho leva com o tempo a uma comunicação disfuncional. A soma das duas individualidades do casal formam um terceiro elemento, o Nós (eu + tu = Nós) e é esta construção que tem de ser feita sempre juntos;
– Chave da Diversão: Casais felizes são pautados por comportamentos de diversão juntos. Rir muito, conversar imenso, programas a dois, projectar o futuro. Esta diversão conjunta ajuda no cumprimento de objectivos em comum, orientando desta forma o bom funcionamento do casal;
– Chave da Acção: Os casais devem clarificar fronteiras com família de origem, amigos, colegas e devem-se articular com os seus próprios modelos individuais. Agir enquanto casal é destrinçar-se dos modelos de conjugalidade da família de origem, é alimentar a relação diariamente, é mostrar interesse pelo outro, é agir na direcção em que ambos caminham. assumindo o compromisso com propósito de vida. Uma relação em que ambos agem no sentido que a mesma cresça e se desenvolva, é uma relação harmónica com interacções recíprocas;
- Chave da Negociação: Articular os seus modelos individuais com a conjugalidade é essencial. A negociação, ainda que inconsciente, dos modelos adoptados enquanto casal é necessária para uma comunicação e evolução do processo de casal. Esta negociação é muito importante no fortalecimento das ligações positivas que os juntam, é deste modo que a relação evolui e se mantém junta.
METACOMUNICAÇÃO PRECISA-SE!
Por vezes, os casais pensam que por discutir há uma demonstração de que a relação não é o conto de fadas idealizado. E não é! Nenhuma relação é perfeita a todo e qualquer instante e torna-se necessário frisar, o facto de que discutir é completamente normal, lembremo-nos que o casal é composto por personalidades diferentes (o que por si só já pressupõe discordâncias) e que discutir tem, igualmente, bases neurológicas instintivas relativas à parte primitiva do nosso cérebro, como tal, espectável.
Metacomunicar significa comunicar sobre o que estamos a comunicar. A explicação ao outro do que estamos a tentar dizer ou fazer é crucial na relação de casal. Esta necessidade de se especificar as interacções que temos vindo a fazer enquanto casal não é simples e nem sempre estamos atentos à sua relevância. Outra questão, igualmente importante, prende-se, novamente com a chave da aceitação. Aceitar o amor, aceitar a paciência, aceitar o tempo, aceitar o outro. Aceitar. Sem pressas e sem mágoas. Todas as pessoas têm o seu tempo toda a gente tem a sua história pessoal e como tal as suas simbolizações. Para que este processo seja efectuado de modo funcional há que clarificar o que é dito, há que amplificar as semelhanças entre os membros do casal, ambos precisam perceber o que estão a fazer e a dizer, ambos precisam entender como o outro interpreta o que é dito, feito, sentido (metacomunicação).
Este processo não é nada simples e os casais entram em comunicações disfuncionais, em respostas ríspidas automáticas como modo de funcionamento adquirido e difícil de alterar. A terapia de casal apresenta-se como um modo de introduzir mudanças na resolução das crises conjugais, muito ampliadas pelas questões referidas anteriormente.
Assim, de forma breve poderemos afirmar que o Psicólogo ou terapeuta de casal irá permitir que o casal reflita sobre a relação e expresse o que sente num espaço neutro, seguro e próprio. Juntos, casal e terapeuta, percorrem o caminho necessário para que o casal se mobilize para a resolução adaptativa dos seus problemas. O grau de flexibilidade das personalidades individuais é muito importante neste processo de descobrir os padrões relacionais conturbados, ou mesmo, patológicos.
Ultrapassando os ruídos, as singularidades de cada um e percebendo-se enquanto casal, diferente dos modelos de conjugalidade que observaram enquanto cresciam, olhando para a sua personalidade, percebendo-a, melhorando-a, relativizando aspectos, comunicando e expressando-se emocionalmente é possível acreditar que se viva com alguém para sempre.
Quando a base de sustentação do casal for o amor e admiração pelo outro e se se utilizarem as várias chaves relacionais, o casal terá em conjunto os seus momentos menos bons, alguns mesmo maus, e momentos em que viverão felizes para sempre.
Invista na sua felicidade, em si e nas suas relações, marque uma sessão de Psicoterapia Individual ou de Terapia de Casal para trazer ao de cima o melhor de si próprio, para garantir que faz o que está nas suas mãos, para garantir a sua felicidade e o sucesso das suas relações.