Um olhar para repensar a tua relação com o álcool
Quantas vezes ergues um copo sem refletir no que estás realmente a brindar?
O álcool está presente nas celebrações e encontros sociais. Aproxima, alegra e relaxa. Mas quando o gesto se torna automático, o prazer partilhado pode tornar-se numa fuga silenciosa ao vazio interior.
Beber com equilíbrio não é abdicar do prazer, é escolher com clareza o que te faz bem. A felicidade não está no copo, mas no modo como o usas.
E se hoje parasses por um instante para te perguntar: qual é a tua verdadeira relação com o álcool? É um aliado pontual que respeita o teu equilíbrio emocional, ou um inimigo disfarçado que mina a tua paz silenciosamente?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o álcool causa cerca de 3 milhões de mortes anuais no mundo. Em Portugal, continua a ser uma das principais causas evitáveis de doenças, acidentes e violência, afetando não só quem bebe, mas também famílias, amigos e comunidades. Vidas interrompidas, relações quebradas e histórias marcadas pela dor.
Por detrás do copo: O que procuras? E a pressão social?
Quantas vezes o copo que tens na mão foi escolhido por ti e não pela pressão à tua volta?
A cultura do brinde, a expectativa do grupo e os hábitos passados de geração em geração podem ser silenciosos, mas influenciam fortemente as nossas decisões. Contudo, a resposta não está no copo, está em quem o segura.
Esse gesto aparentemente simples tem o poder de transformar uma celebração num momento tenso e gerar conflitos, mal-estar ou arrependimento.
Dizer “não” não é fraqueza, é liberdade. É proteger a tua paz e o bem-estar de quem te rodeia.
Antes de beber, escuta-te: o que procuras realmente neste momento?
O copo que temos nas mãos: prazer, hábito ou prisão?
Nem sempre é fácil perceber quando o simples prazer de beber se torna um hábito automático, ou quando esse hábito começa a controlar a tua vida.
O prazer de um copo ao jantar, ao final da tarde, num brinde entre amigos. São momentos que aquecem a alma e criam memórias felizes. O corpo gere bem essas quantidades, o equilíbrio mantém-se e não há sinais de alarme.
Mas, pouco a pouco, o copo vira hábito e surge noutros contextos: no fim de tarde solitário para relaxar, ao fim de semana por tédio, antes de dormir para aliviar a ansiedade. Sem perceber, o prazer cede lugar ao hábito e o hábito vira prisão.
A saúde física ressente-se: o fígado sobrecarrega, o sono perde qualidade, a energia e o humor oscilam. As relações enfraquecem, o trabalho sofre e, muitas vezes, sentimo-nos sozinhos, mesmo rodeados de gente.
Mas há esperança. A dependência não é sentença. Com ajuda, consciência e coragem, podes recuperar o controlo. O primeiro passo é parar e perguntar: “Por que estou a beber? O que procuro neste copo?”
Beber por prazer consciente é diferente de beber para escapar. A diferença está no propósito, não no gesto. Quando escolhes com clareza, respeitas o corpo e emoções, o álcool deixa de ser inimigo e volta a ser o que pode ser num contexto saudável: um pequeno prazer, não um refúgio.
A conexão humana como antídoto à dependência
A dependência não é só química nem uma questão de força de vontade.
Como lembra Johann Hari, o oposto da adição não é sobriedade, é conexão. Quando nos sentimos ligados e seguros, o risco de procurar refúgio no álcool diminui drasticamente. Por isso, cultivar relações genuínas e procurar apoio é fundamental.
A prevenção e recuperação exigem reconstruir laços humanos significativos. Cultivar amizades genuínas, criar relações saudáveis, envolver-se em atividades prazerosas e procurar apoio terapêutico e espiritual alimenta a nossa necessidade profunda de pertença e segurança.
E o que acontece no corpo quando bebemos álcool?
Além do fígado, que se sobrecarrega ao metabolizar o álcool e que pode sofrer danos a longo prazo, também o cérebro é afetado.
Quando ingerimos álcool, ele é rapidamente absorvido pelo estômago e intestinos, passando para a corrente sanguínea e chegando ao cérebro em poucos minutos. Lá, altera a comunicação entre os neurónios, afetando neurotransmissores como a dopamina e o GABA. A dopamina é o botão do prazer e da motivação do cérebro, que aumenta a sensação de prazer e recompensa, enquanto o GABA reduz a atividade cerebral, promovendo relaxamento e desinibição. Em pequenas quantidades, isso pode gerar uma sensação momentânea de bem-estar. Mas em doses maiores ou frequentes, o álcool começa a afetar negativamente o equilíbrio químico do cérebro, prejudicando o humor, o sono, a memória e a capacidade de tomar decisões conscientes.
A Ciência da Adição: Entre o Cérebro e o Comportamento
A ciência mostra que a dependência altera circuitos cerebrais ligados ao prazer e à recompensa, especialmente o sistema dopaminérgico. Estas alterações reduzem a capacidade de autocontrolo e aumentam a motivação para repetir o comportamento aditivo. A pessoa pode agir contra os seus próprios valores, afastar-se de quem ama e tornar-se refém de comportamentos que nem reconhece como seus.
Não se trata de proibir o prazer, mas de escolher com consciência. Cada copo conta, mas cada escolha ainda mais.
Porque a tua vida vale cada escolha consciente que fazes. Que brindes à vida. Com ou sem copo, mas sempre com presença.
Na Learn2Be acreditamos que ninguém precisa caminhar sozinho. Se sentires que é o momento de pedir ajuda, para ti ou para alguém que conheças, a nossa equipa está aqui para te apoiar, com empatia e profissionalismo.