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Relacionamentos Tóxicos: Os dois lados da moeda!

O tema dos relacionamentos é um dos temas mais abordados na psicologia atual. Os relacionamentos têm um papel fundamental nas nossas vidas, moldando o nosso bem-estar emocional e psicológico, quer seja um relacionamento familiar, social, amoroso, profissional, entre outros. Contudo, estar num relacionamento saudável, numa construção de confiança, autonomia e respeito, exige um determinado nível de desenvolvimento pessoal muitas vezes difícil de atingir, fazendo com que muitas vezes se fique preso em dinâmicas de relacionamentos tóxicos e/ou abusivos

A nossa vida não é uma linha reta. Há pessoas que realmente têm algum tipo de transtorno e que de fato tratam o outro como objeto, como os narcisistas ou sociopatas. Nestes casos, falamos em relacionamentos abusivos, em que a pessoa tem consciência do que faz ao outro. Gostaria de deixar estes perfis para outra comunicação e centrar-me aqui em situações mais simples, mas igualmente destruturantes e prejudiciais e que efetivamente caracterizam uma relação tóxica.

Existem muitas outras maneiras de um relacionamento ser tóxico, tantas vezes de forma muito subtil ou indireta, que leva a uma maior dificuldade em reconhecer esta toxicidade. Saliento que não é necessário ser um relacionamento amoroso, pode ser uma mãe sobreprotetora, que acaba por ser tóxica por isso mesmo; pode ser um chefe inseguro, que tem medo que o colaborador saiba mais do que ele; pode ser aquele amigo que é muito carente e que não suporta que tenha outras amizades; entre outras. Há uma infinidade de pequenos sinais que talvez não os conheça e que vão muito além de sinais claros e comuns.

Um dos primeiros sinais que pode observar de uma relação tóxica é que uma das partes é emocionalmente imatura. São pessoas que emocionalmente sentem-se frágeis (que podem estar na posição do dominador ou na posição do dominado e submisso). Pessoas que são emocionalmente muito imaturas vão tender a fazer com que o outro sinta muita culpa dentro da relação, porque nunca se responsabilizam por nada. Tudo o que acontece, a responsabilidade é sempre do outro, da vida, do tempo, do governo, da chuva… só não é do próprio. Não que não possa haver coisas na vida que fogem ao nosso controlo, mas é preciso sempre perguntar-me qual é a minha responsabilidade nesta situação e assumir isso no meu dia-a-dia.

Outro sinal evidente é que normalmente um dos parceiros tem tendência a ser evasivo, com evidente desrespeito pelas fronteiras do outro. Há pessoas que têm dificuldade em aceitar que o outro tem vida privada. Não é porque estamos num relacionamento que o outro não direito à sua vida privada. O outro tem o direito. Porque eu o amor, isso não me apaga. Uma relação é feita de no mínimo três pessoas: eu, o outro e nós e há coisas que dizem respeito à nossa vida e há coisas que é só de um ou de outro e essas coisas necessariamente não se misturam aos nós. Se essa pessoa tem dificuldade em entender que tem e precisa ter uma privacidade, pode ser um indicador de uma relação tóxica.

Outro ponto, que por vezes passa pela justificação do “temperamento”, é a crítica constante. Há pessoas muito críticas dentro da relação. A crítica transforma-se num modo de comunicação e isso é extremamente tóxico, ainda que possa vir revestido no “é para o teu bem”, “foi com a melhor das intenções”. É preciso ter cuidado com pessoas que apenas sabem comunicar através da crítica e do julgamento e que acolhem muito pouco. O poder de acolhimento é muito pouco, como se ele ou ela não cometessem erros e imperfeições. É preciso saber acolher o outro. Se eu só critico eu vou cair na toxicidade das relações.

O outro ponto é a agressividade. Não falo aqui de ser agressivo fisicamente, mas de uma agressividade subtil, que por vezes também é desculpabilizado por “ele/ela é assim”. Estou a falar daquelas pessoas que todos têm medo. Não o medo da violência física, mas o medo da reação, da impulsividade, medo do “por qualquer coisa vai explodir”.

Outro ponto é a possessividade, e não estou a falar da possessividade explícita, mas aquela que vem na forma do “cuidado, eu só estou preocupad@ contigo”, quando na verdade é posse, que controla, limita a liberdade e vai sufocando e intoxicando.

Outro aspeto e que muitas vezes é de difícil perceção, é o gosto pela punição. O outro faz o que eu não quero, então eu vou punir. E como acontece esta punição indireta? Deixa de falar, mostra uma cara fechada, desaparece, nega sexo, recusa fazer coisas que o outro gosta, entre outras. E punir o outro não é uma reação normal? Não, é mais uma vez uma reação imatura! Punir quem eu amo nunca é uma reação normal, não importa o quando de raiva eu possa sentir. Conversar com o outro, falar da minha zanga, expor a minha revolta, dizer do meu descontentamento, até ir embora se essa for uma opção, mas punir quem eu digo que gosto e que vou a continuar num relacionamento com essa pessoa, não faz sentido. A punição é inimiga do amor.

E um último comportamento, não menos relevante, é a chantagem emocional. Outro comportamento, chantagem emocional ou jogos mentais (manipulação). Há pessoas que fazem com que a relação avance em função da chantagem emocional. “Se não fizeres isto, a relação acaba”, “Se escolheres aquela situação, eu vou embora”, “Se continuares aí…”. Tudo é chantagem. Quando existe um comportamento de chantagem para com a pessoa com quem estou no relacionamento, então estou a tornar essa relação tóxica. É mais um recurso infantil e imaturo.

É então fundamental ressalvar que o fato de vivenciarem esta situação, comprova que ambos os lados estão em desequilibro emocional, no sentido em que a aceitação continua deste tipo de comportamentos também evidencia um perfil de quem está do outro lado, que possui e vive conflitos emocionais profundos, tais como, baixa auto estima, dificuldade em estabelecer limites, medo do abandono, entre outras.

Neste lugar e desequilíbrio, longe da essência e do auto amor, surgem relações tóxicas, vividas no desrespeito, no abuso, na ausência de reciprocidade do outro, que têm na sua origem medos inconscientes que condicionam o próprio comportamento. Se não existe amor próprio, se não existe lugar de auto respeito, como esperar que o outro o faça consigo? Atrai para a sua vida “abusadores”, porque na verdade sente que não tem valor e que é nesse lugar que precisa de estar. Um padrão inconsciente, uma dor que não foi devidamente curada, que cria a sua realidade e ciclos repetitivos.

Procuramos, sem termos consciência, no externo, a falta da infância. Por exemplo, se mendigou por atenção e afeto e não recebeu, sente um vazio que lhe causa um buraco no coração e faz com que aceite abusos físicos, emocionais, psicológicos, para que não ser rejeitada/o. Faz de tudo para permanecer num relacionamento que tantas vezes lhe causa dor, insegurança e instabilidade, mas que acredita que é o “melhor do mundo” e que sem essa relação não sobrevive. O vazio é imenso. A dor da ausência do outro (mesmo que tóxico) ainda maior.

Acredito que esta perspetiva que não culpabiliza o “lado tóxico”, mas que traz à responsabilidade os dois lados, possa causar desconforto, mas talvez seja este o ponto principal da mudança. O relacionamento pode não ser tóxico por si só, mas também as partes envolvidas podem não estar prontas para iniciar um relacionamento de afeto.

É fundamental olhar para dentro, tornar consciente todos os medos, tristezas, angústias e sentimentos de desamor, desmerecimento inconsciente que fazem permanecer numa prisão emocional, que se prolongará no tempo e na vida. O apoio psicológico permite transformar as suas perceções sobre o amor, tratar e cuidar da sua “criança interior”, para que possa adultecer e tomar decisões baseadas no amor, e não mais na dor e no medo. Olhar para dentro, libertar programas internos e encontrar relações saudáveis, pautadas pela reciprocidade, equilíbrio, respeito, amor e paz.

Conte com o meu apoio neste processo, marque a sua consulta hoje e liberte-se daquilo que o(a) prende!

Sara Rodrigues
Psicóloga e Hipnoterapeuta Clínica 

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