
Atravessamos uma das fases mais desafiantes das nossas vidas. A atual pandemia de Covid-19 é desafiadora em vários sentidos. É-nos exigida uma adaptação rápida à nova realidade, uma mudança de paradigmas e uma revisão dos nossos hábitos.
Nas famílias, pais e mães profissionais vêem-se confrontados com uma nova forma de trabalho – o teletrabalho. Reiventaram-se e adaptaram-se, da melhor forma que conseguiram, no sentido de encontrarem as melhores formas de trabalharem e, simultaneamente, educarem e gerirem as necessidades dos seus filhos.
Pais e filhos convivem agora 24h por dia entre aulas online, telescola, brincadeiras, tarefas, explicações, actividades físicas, reuniões, teletrabalho, avaliações, tarefas domésticas e algum descanso.
É importante perceber que o novo modelo de vida e estas novas dinâmicas familiares fazem cada pai e mãe refletir sobre a sua relação consigo mesmo e com a sua família. Certo é que se não estão bem consigo próprios, não estarão com ninguém, inclusive com os seus filhos.
As relações, nos últimos tempos, tornaram-se mais intensas. Esta intensidade reflete-se, inevitavelmente, na saúde mental e na diminuição do autocuidado.
O burnout parental está relacionado com o extremo cansaço sentido por pais e mães. Traduz-se na exaustão, distanciamento emocional, mudanças de humor, irritabilidade, falta de paciência, dificuldade em gerir emoções, sentimento de incapacidade e incumprimento do papel de pais. Esta não é uma situação exclusiva da mãe. Também o pai a sente.
As causas são diversas, mas, regra geral, estão aliadas à sobrecarga de funções dos pais. Voltando ao início, o teletrabalho tem contribuído sobremaneira para o desenvolvimento e agravamento deste sindroma. Quando pensamos na vida pré-quarentena, recordamos que o contacto diário com os filhos era menos intenso, motivado pelas vidas profissionais e educacionais de um lado e outro. Agora tudo mudou. Na maioria das situações, nunca pais e filhos conviveram durante tanto tempo, no mesmo espaço, num momento de tantas incertezas.
Apesar de estarmos longe de medir totalmente os impactos da Covid-19 na nossa sociedade, começamos a poder observar algumas mudanças. Percebemos também que foi necessário desacelerar. De fato, estávamos num ritmo de vida acelerado e numa espécie de “piloto automático”.
Porém, e voltando aos pais, estes mostram hoje, neste “novo normal”, um sentimento de culpa e irritação por não acompanharem devidamente a educação dos seus filhos, por não terem paciência, por assumirem novas funções, por considerarem que não lhes dão a segurança necessária e as certezas de um futuro melhor.
Hoje, como no passado, o importante não é a quantidade, mas sim a qualidade do tempo dedicado aos filhos. Mais do que estar permanentemente com os filhos, é importante dar-lhes também o seu espaço, permitindo-lhes também desenvolverem as capacidades de estar sozinhas e gerir o seu tempo e emoções. Também elas vivem esta mudança repentina.
E, não sendo possível mudar uma situação, há que encará-la e olhá-la de forma diferente. Mude a forma de ver a situação.
Não procure resposta para tudo. É preciso saber lidar com as incertezas. Não existem pais perfeitos. Nós não temos pais perfeitos. Não somos pais perfeitos. Não temos filhos perfeitos.
É importante ter cuidado para não repetir o modelo dos seus pais, ou seja, educar como foi educado. Cada família terá as suas características distintas e únicas. Selecione o que considera que faz sentido para si. Ser um modelo de pai ou de mãe não é uma exigência, nem tampouco uma meta.
Conversem mais. A comunicação resolve o conflito. Procure a comunicação assertiva. Elimine a comunicação tóxica. Estimule a escuta ativa e não a defensiva. Ouvir para compreender e não para defender. Baixe a guarda. Perceba que podemos aprender muito com os nossos filhos e que estes podem ajudar-nos no nosso processo de desenvolvimento.
Sempre que possível, guarde um tempo para fazer algo que lhe faz bem. Relaxe!
Procure baixar o nível de exigência consigo. Fique atento às autocríticas e julgamentos. Se os pais tendem a ser perfeccionistas, irão projetar nos filhos essa expectativa de perfeição, serão demasiado críticos e julgadores.
É importante perceber que a rotina e organização podem aumentar a obediência dos filhos que passam a ver o dia estruturado e a ter uma maior sensação de segurança. Os filhos podem realizar tarefas em família, participando nas tarefas, de forma a sentirem-se incluídos. Provavelmente, com a experiência de participarem na elaboração de determinadas tarefas, respeitarão melhor as regras, perceberão melhor os objetivo da rotina, organização e regras.
Os pais precisam dizer “não” sem culpa. Dizer “não” é também amar. Precisam estar atentos na forma como dizem “não”, a qual fará toda a diferente. Os filhos precisam aprender a lidar com limites, os quais fazem parte da vida. Sim, todos precisamos de limites, de respeitar regras, ser responsáveis, inclusive as crianças. Porém, a flexibilidade é também necessária. É necessário não ser rígido, – ponderar e encontrar um equilíbrio são fundamentais.
Se considera que está a atravessar uma dificuldade neste sentido, se sente angústia por não conseguir resolver a situação, procure ajuda de um profissional. Falar sobre o que sente é o melhor remédio para aliviar a dor, resolver os seus problemas e superar os desafios.
1 Comment
Muito bom conteúdo 🙏🥰
Parabéns Dra. Glaucia e obrigada por esta excelente reflexão.
Um beijinho