Chegou a altura do ano em que muitas pessoas começam a alinhar objetivos, listar mudanças e a manifestar os desejos para o ano que entrou. No entanto, as resoluções de Ano Novo falham, na maioria das vezes, não por falta de desejo, mas por excesso de ambição, que por norma não está alinhada com o nosso funcionamento. Objetivos irrealistas, mudanças demasiado exigentes e dificuldade em abdicar do prazer imediato em prol do prazer a longo prazo criam o cenário perfeito para abandonarmos estas resoluções, muitas vezes, antes de as colocarmos em prática.
A mudança sustentável raramente acontece através de uma grande renovação. A evidência aponta para uma mudança mais eficaz, quando aplicamos micro-hábitos de forma consistente, adaptados à realidade de cada um de nós, ao nosso contexto emocional e à fase de vida.
No entanto, existem alguns fatores que interferem na integração desses hábitos, e é sobre isso que iremos falar: o uso correto da motivação para criarmos resoluções de Ano Novo e de vida mais realistas e concretizáveis.
Existe uma ideia muito comum e profundamente irrealista, de que a motivação é algo constante, espontâneo e externo. Mas esta crença, por não nos ajudar a manter alinhados com os nossos objetivos, é uma das maiores fontes de frustração e de autocrítica, que promovem pensamentos como “Não sei o que há de errado comigo”.
É um processo interno, dinâmico, que se constrói a partir de valores, propósito e escolhas conscientes, sobretudo nos momentos em que é difícil continuar. Manter-se motivado não é sobre sentir sempre vontade e entusiasmo, mas sobre criar significado. Ela direciona-nos. Diz-nos para onde vamos e porque vale a pena continuar, mesmo quando não apetece. Tal como a sua origem: a palavra motivação vem do latim “movere”, que significa “pôr em movimento”, no fundo é a motivação que nos move na direção de algo.
O ser humano precisa de sentido. Quando aquilo que fazemos está desligado do que é importante para nós, a ação transforma-se num esforço vazio. É aqui que entra a verdade interna: a motivação sustentável nasce da coerência entre comportamento, valores, propósito e identidade. A pergunta que nos auxilia na formação dessa motivação raramente é “como me mantenho motivad@?”, mas sim: “Isto está alinhado com quem eu sou e com a vida que quero construir?”.
E é neste ponto que entra a disciplina: É frequente ouvir que a disciplina é mais importante do que a motivação. Embora a autodisciplina seja essencial, ela não se sustenta sozinha a longo prazo. A motivação funciona como se fosse a bateria da autodisciplina. Quando existe um motivo claro, ligado ao propósito pessoal, a disciplina deixa de ser uma imposição e passa a ser uma escolha consciente, mais leve.
A motivação atua no momento antes da ação, dando sentido ao esforço e depois da ação, reforçando a continuidade através da sensação de realização, coerência e progresso. Sem este ciclo, a disciplina tende a tornar-se rígida, pesada e emocionalmente desgastante — o oposto de uma experiência de liberdade.
Muitas pessoas sabem o que precisam de fazer, mas sentem-se bloqueadas. O que pode ser resultado de padrões como a vitimização, a procrastinação associada à ansiedade, dificuldade em gerir o tempo e prioridades, e a atribuição a outros da sua própria responsabilidade. Estes padrões enfraquecem a motivação porque rompem a conexão connosco próprios. Recuperar motivação passa, frequentemente, por devolver à pessoa a sensação de protagonismo da própria vida e autorresponsabilidade saudável, sem culpa.
Além disto, vale a pena pensar que a motivação não é apenas psicológica — é também fisiológica. A alimentação, o exercício físico e o sono têm um impacto direto na energia, no humor e na capacidade de autorregulação:
Quando estas áreas estão cuidadas, o cérebro deixa o modo de sobrevivência e torna-se mais disponível para escolhas alinhadas com o propósito, as que nos motivam.
Cuidar do corpo é, também, um ato de verdade e conexão interna, aumentando a nossa disponibilidade mental e emocional para nos mantermos disciplinados e focados.
A motivação não aparece, ela cria-se com base naquilo que somos e que queremos ser. Ela nasce de dentro, do empoderamento pessoal e de um propósito vivido, não apenas idealizado. Quando a motivação está ancorada na conexão, na liberdade de escolha consciente e na verdade pessoal, torna-se mais resiliente às oscilações naturais da vida.
Manter-se motivado não é sobre perfeição. É sobre coerência.
Não é sobre sentir sempre vontade, mas sobre continuar alinhado, mesmo nos dias em que é difícil ou que falhamos.
E não é sobre pressão — é sobre criar uma vida que faça sentido, que nos faça sentir bem. A verdadeira motivação não nos força. Ela aproxima-nos de quem realmente somos.
Se sentes que sabes o que queres mudar, mas tens dificuldade em sustentar esse caminho, talvez seja o momento de o fazer acompanhado. Marca uma consulta de coaching e encontra connosco um espaço seguro para clarificar propósito, fortalecer escolhas e objetivos e construir uma motivação que venha de dentro.
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