A morte e o luto assim como a vida é um processo dinâmico, amplo e complexo que varia consoante a cultura, crenças, rituais e valores. É um processo natural à perda de alguém significativo. O conceito de morte aplica – se não apenas ao indivíduo que interrompe o seu ciclo de vida, mas também aos seus familiares, cuidadores e amigos. Um olhar diferenciado ao processo de morte e morrer, atende às necessidades de toda a raça humana e proporciona intervenções significativas quer nos sintomas físicos, sociais, emocionais e espirituais. O luto precisa por isso de estar associado à compreensão da finitude da vida e não ao sentimento de fracasso ou culpa, que alguns familiares podem sentir.
A experiência do luto varia conforme o sistema familiar e com a forma como falamos abertamente sobre o sucedido, obrigando a uma nova realidade e adaptação aos novos papeis familiares. Seja uma morte súbita, esperada ou violenta, ela irá influenciar a experiência e complexidade do processo de luto. Certo é que a morte e o luto, têm impacto, no equilíbrio familiar, que obriga a uma reestruturação dos padrões de interação e redefinição de papeis para compensar a perda. Trata-se de um processo adaptativo vivenciado por todos nós, ao longo da vida.
Esse processo passa por reconhecer a realidade da perda e processar emocionalmente a dor, é necessário por isso, que cada pessoa se reajuste a um novo ciclo de vida no qual existe uma pessoa importante que irá permanecer ausente fisicamente. É por isso tão importante que a família possa partilhar de forma aberta sentimentos, emoções e comportamentos. A experiência do luto é assim influenciada por fatores que vão desde a natureza da perda, relação com o que foi perdido, personalidade do enlutado, apoio social, cultural e experiências anteriores.
Não existe um número definido para as fases do luto, contudo, o modelo mais conhecido foi desenvolvido por Elisabeth Kübler-Ross, que propõe as cinco etapas: de negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Este modelo não deve ser visto como um processo linear e obrigatório, e cada pessoa pode vivenciar estas fases de forma não sequencial, com idas e vindas entre elas ou não passar por todas elas.
A Negação a pessoa recusa aceitar a realidade da perda, tentando afastar-se da situação para evitar a dor;
A Raiva a pessoa pode sentir raiva de si mesma, dos outros ou da situação, culpando alguém pela perda;
A Negociação a pessoa tenta negociar, muitas vezes com um poder superior, para reverter a situação ou ganhar mais tempo;
A Depressão, um estado de profunda tristeza e desânimo, onde a pessoa lida com a dor da perda e a ausência do seu ente querido;
A Aceitação, a pessoa reconhece a perda e começa a aprender a viver com ela, reorganizando a vida sem a presença do que foi perdido. Aceitar a perda não significa esquecer a pessoa ou que o sofrimento acabou, mas sim aprender a viver com a ausência e construir uma nova realidade.
O luto é um processo emocional difícil, e por isso a sociedade de uma forma geral tem dificuldade em lidar com a situação, muitas vezes usando palavras para o enlutado como:
“tens de ser forte” ou “a vida continua”, e que podem criar uma pressão para ter de seguir em frente, quando na verdade, o mais importante é permitir-se sentir! Existem nestas expressões uma expetativa implícita de que o enlutado tem de “superar”, quando na verdade não tem de existir um prazo para o mesmo! O enlutado apenas precisa de ser escutado sem julgamento, permitir – se expressar a sua dor e ser validado. Devemos normalizar o luto e partilhar a experiência com alguém em quem confiamos, aceitar significa aceitá-lo como parte inevitável da existência humana, reconhecendo que a dor da perda é a outra face de ter vivido com uma pessoa com quem partilhámos o amor e a conexão em vida.
A jornada do luto é única para cada pessoa, mas ao procurar apoio, as pessoas podem encontrar um caminho que honra a sua perda enquanto abraçam o potencial de cura e crescimento. Permite também, aprofundar a empatia, revelar força interior e levar a uma reavaliação das prioridades de vida. É necessário para quem fica, adaptar-se à nova realidade, processar a ausência de quem partiu e reconstruir um novo sentido de si e do mundo. É necessário que exista o entendimento das questões que permeiam a vida assim como o seu término. Deste modo as palavras que usamos e a forma como olhamos para o processo de luto, faz-nos compreender que a vida não se apaga no momento da morte pois cada instante vivido tem valor.
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