
Eis duas questões que considerei.
Se eu olhar para a imagem do lado direito, o que vou ver?
Se alguém ao meu lado olhar para a mesma imagem, o que vai ver?
E em relação á imagem, mas virada ao contrário (lado esquerdo)?
Coisas diferentes não é ?
Pois bem, aqui está a verdadeira dicotomia do ver e olhar, porque afinal não são definições iguais como a maior parte de nós acha, apesar de serem regidos pelo mesmo órgão: os olhos. Sendo uma das principais características do ser humano e tendo uma função determinante em toda a nossa vida, as informações que processamos com os olhos acerca daquilo que nos rodeia não está apenas nos olhos mas na maneira como usamos os olhos para observar o que nos rodeia.
São um órgão do ser humano como disse antes mas quando olhamos não estamos só a olhar, estamos a usá-los para obter informações, e mais, existe muito mais além do obter determinada informação ou focar-se em determinada coisa. Algo precisamente mais simples do que imaginamos: a verdade que dizem estar por detrás de um olhar, pois são os olhos que expressam exatamente aquilo que nós estamos a sentir, sendo primordial para a comunicação não verbal com o outro e querendo ou não, é algo que usamos todos os dias e é algo que nos ajuda muito na comunicação, não só a entender o outro, mas também a fazer com que o outro nos entenda.
Quando nos damos conta, percebemos que é impossível não comunicar através do olhar. É impossível que os nossos olhos não digam exatamente aquilo que por vezes nós mesmos tentamos esconder, no entanto entre ver e olhar existem algumas diferenças e é precisamente nestas diferenças que me baseio para hoje entender melhor este sistema no contacto com o outro e no contacto com o meio em que estamos inseridos.
Quando dizemos a alguém: “olha ali por favor. Vê aquilo”, estamos mais voltados para o sentido físico da visão, isto é, aquilo que é a principal função dos olhos: ver o que está ao nosso redor. No entanto, a questão não é assim tão linear pois quando pedimos a alguém que olhe para algo, não esperamos apenas que essa pessoa veja determinada coisa que dissemos mas que veja para além disso e para além do que é visível e lhe dê atenção: a chamada atenção e concentração.
Esperamos que a pessoa mantenha a atenção naquilo ou que olhe apenas por segundos e vire o olhar, pois já olhou e o ato já está concretizado?
Olhar vai para além do ver e implica perceber os detalhes particulares além da visão, tratando-se de uma manifestação inconsciente, enquanto ver é algo mais imediato e simples, sendo mais usado para a percepção de que algo existe e está ali.
Por exemplo, determinado objeto está ali e é vermelho. Isto é aquilo que estamos a ver. Ir mais além é perceber os detalhes, compreender o objeto, tornando-se uma experiencia única e individual para cada um de nós, como por exemplo “é preto, apresenta uma forma bidimensional e assemelha-se a um laço daqueles que colocamos nos presentes”.
O olhar necessita desta tal atenção especial, leva a perceber o outro e a mexer com o outro, pois consegue provocar reação, pois leva a pessoa a prender a atenção e a pensar sobre aquilo, podendo mesmo criar angústias.
Por exemplo, olhar nos olhos de alguém é o mais próximo que se pode “tocar os cérebros” pois é a única parte do nosso cérebro que está exposta ao mundo, segundo autores, ou esta frase célebre e conhecida mundialmente, “O olhar não mente”, pois sabe-se que os olhares expressam um universo rico de emoções e sentimentos.
Segundo o pesquisador Masataka Watanabe, do Instituto Max Planck, de Tübingen, na Alemanha, ver e olhar são acões distintas, pois envolvem duas áreas diferentes do cérebro: enquanto uma se destina a algo superficial, a outra encontra-se ligada a uma visão mais aprofundada do objeto em questão, da análise. Enquanto o lado direito é responsável pela imaginação e criatividade, o lado esquerdo é responsável pela memória e pelo passado.
Desta forma, podemos perceber que através do olhar já temos algumas pistas acerca do que estamos a fazer ou a pensar. Certo? Mais que isso, podemos ter a noção do que o outro sente e perceber como alguém se sente através do olhar, para mim é uma grande chave para nós humanos.
Percorrendo a época, sabemos que já em 1960, psicólogos desenvolveram estudos acerca do olhar e como as pupilas dilatavam quando eram estimulados por alguma coisa, quer seja ao nível de interesse intelectual ou emocional. Caso o contrário aconteça e tenhamos medo de alguma coisa ou nos sintamos inseguros, será que as pupilas também dilatam? A resposta é não, aí tendem a retrair-se, porque lá está, o homem é um ser complexo como bem sabemos, sabendo-se que na cultura ocidental, esta dilatação das pupilas era associada a algo atrativo a nível físico fazendo com que muitas mulheres usassem um extrato vegetal porá provocar esta dilatação – a beladona. Nestas culturas, as pessoas que mantinham o contacto ocular eram vistas como mais inteligentes e mais sinceras e detinham maior aprovação a nível social mas também sabemos que este contacto visual focado ou não pode ser uma estratégia que o nosso cérebro arranja para podermos por exemplo reter algo que uma pessoa diz, pois quando nos focamos em algo, é mais fácil absorvemos a informação. Como isto surge com as informações que queremos reter, também surge com situações que queremos evitar. Quando nos encontramos num dado momento perante algo que nos provoca medo, receio, a tendência é de desviar o olhar e o foco não fica ali.
Se eu tiver um teste para a semana e a professora estiver a fazer uma revisão acerca da matéria, eu vou estar atento se quiser tirar boa nota, certo? Mas se no entanto eu começar a pensar a meio na minha relação que está mal e que me tem angustiado muito, se eu me focar nessa imagem, o meu olhar não vai ser apenas direcionado aquela matéria mas a algo que está na minha mente e fica tudo mais confuso, porque á partida não vou conseguir prestar atenção a nenhuma das partes: aí está, para olharmos para determinada coisa com uma atenção mediada e tendo em conta os detalhes, temos de olhar com tudo o que envolve o olhar: o cérebro tem de estar destacado para aquilo.
Pode-se dizer que o olhar é o “colocar-se no lugar do outro”. É ele que permite uma das coisas mais importantes que existem na Psicologia: a escuta ativa e a Empatia que usamos todos os dias nas nossas consultas. É precisamente através desta empatia e esta escuta ativa que podemos ajudar alguém a olhar para algo de determinada forma, pois a percepção que a pessoa tem vai influenciar a maneira como pensa acerca disso e consequentemente o seu comportamento.
Então se a pessoa mudar a forma como percepciona algo, o que acontece? Os comportamentos também irão mudar, tornando-se então num ciclo vicioso: Eu olho o mundo, o mundo olha-me da mesma forma, mudamos, as coisas mudam á nossa volta e a forma de olhar o mundo muda. E aqui temos o que queremos: A mudança.
Quando existe este bloqueio e não conseguimos olhar para uma dada situação de forma a podermos analisar eficazmente essa mesma situação, o bloqueio está na forma como se olha e não no olhar de cada um de nós, porque tal como eu disse, os nossos olhos apenas são distintos na cor, tendo todos a mesma funcionalidade na vida do ser humano.
Por isso e desta forma, é fundamental desenvolver o olhar, pois ele traz transformação e compreensão.
Podemos ter em conta o seguinte exemplo: quando uma pessoa vê um filme. Todos na mesma sala vêm o mesmo filme mas a interpretação feita do mesmo vai depender sempre do olhar de cada um, da forma como olha e da forma como absorve determinada situação. Por exemplo, as pessoas que têm tendência a ter mais ansiedade, muitas vezes não conseguem parar e olhar para as situações pois estão fixos apenas no futuro e não no aqui e agora, podendo então levar a uma série de outros problemas, como por exemplo aumento da ansiedade e ataques de pânico.
Pois bem, sabendo a diferença entre ver e olhar, podemos ver exatamente que por vezes é nesta forma que surgem os problemas e que muitas vezes surgem as desilusões perante algo ou perante a vida. Então e se a forma de olhar mudasse? e se o que estiver errado seja apenas a maneira como se olha? Assim torna-se mais simples e é possível que a Psicologia nos ajude nisso. Através da consulta de Psicoterapia, é possível esta mudança e é possível percebermos porque forma não estamos a olhar da melhor forma para determinada situação. Fundamentalmente percebemos o que está a bloquear-nos e quando se percebe isso, torna-se mais fácil entender, compreender e mudar.
Fundamentalmente, o objetivo passa por identificar pensamentos, estímulos e experiências que levaram a pessoa a determinada situação, como por exemplo, medo, ansiedade, insegurança e dessa forma perceber e identificar as diferentes emoções e sentimentos, identificar comportamentos e crenças associadas para permitir assim ampliar a consciência acerca dos mesmos através do verbal e dessa forma levar a que a mente fique mais organizada e limpa. Quando algo está mais limpo e organizado, olhar o mundo também fica mais leve e mais saudável e consequentemente, o que sentimos também ficará mais organizado.
É na mudança que está a solução e ás vezes é no pedir ajuda que isto começa. Marque já hoje a sua sessão e comece a mudar a sua vida!