
A busca pela consulta de psicologia e pelo início do processo psicoterapêutico, é muitas vezes desencadeado por uma vontade urgente de mudar algo na nossa vida. Em muitas das primeiras consultas, as pessoas conseguem verbalizar que sentem que algo tem de mudar, que certo comportamento ou hábito tem de deixar de existir, ou que determinado pensamento ou emoção tem de deixar de ter tanto espaço na mente. Todos nós, em algum momento da nossa vida, já nos sentimos desesperados ou exaustos com determinados padrões comportamentais ou hábitos, e há momentos em que a mudança nos parece urgente e necessária. Contudo, rapidamente somos apanhados pela passagem do tempo em que esta urgência perde força e nos convencemos que foi só um “momento de fraqueza” ou uma “fase má”, e que tudo irá passar. Desculpamo-nos, e caímos em loops de pensamentos ora de vitimização ora de empoderamento, à espera do próximo momento de desespero ou exaustão.
Este processo também acontece durante a terapia. Há momentos em que nos sentimos muito mais tranquilos e que nos faz sentido deixar as sessões, muito em parte porque já nos esquecemos da agitação inicial que motivou o nosso pedido.
Comparo este processo às tão conhecidas e célebres resoluções de ano novo. Aquele momento em que fazemos uma revisão ao nosso ano (e à nossa vida) e sentimos muita urgência em mudar certos comportamentos. “É este ano que vou começar a fazer exercício”, “vou comer de forma mais saudável”, “vou estar mais vezes com os meus amigos”, “vou passar mais tempo em família”, “vou aprender uma língua nova”, “vou ter mais tempo para mim”, etc. etc. etc.
Basicamente porque mudar significa sair da nossa zona de conforto, e por muito que esta já não esteja a satisfazer as minhas necessidades, abandoná-la significa perder conforto, perder aquilo que nos torna “nós”. O mais engraçado e paradoxal, é que também sabemos que somos seres em permanente evolução e com capacidade para sermos sempre melhores, e ficar na nossa zona confortável é uma sabotagem constante destas ideias.
Este termo de zona de conforto está intimamente relacionado com um comportamento que todos nós conhecemos: a procrastinação. A pergunta dos 100 000 euros é: como ganhar à procrastinação?
Se quisermos que as nossas resoluções se concretizem, antes de identificar aquilo que queremos atingir, devemos conseguir identificar aquilo que nos limita, quais os hábitos que não estão a contribuir para o nosso crescimento. No fundo, o que é que estou a perder se continuar nesta zona de conforto que tão bem conheço? Também me devo perguntar “o que quero realmente?”, pois só a partir desta resposta é que vou conseguir delinear de forma concreta os passos para lá chegar.
Uma das estratégias que nos permitem ultrapassar este estado mais letárgico, é escrever as nossas intenções. As intenções são mais do que resoluções. Quando pensamos em resolução estamos já na esfera do comportamento, e saltámos dois passos essenciais – as nossas emoções e sentimentos e os nossos pensamentos. Se estas duas dimensões não estiverem mapeadas e conscientes, terei muita dificuldade em alterar simplesmente um comportamento, que é o último passo desta “cadeia psicológica”. Ao escrever e tomar conscientes as minhas intenções, será muito mais fácil pensar sobre os comportamentos que me permitiram concretizá-las.
Outra estratégia que tem resultados interessantes é o escrever uma carta ao meu futuro eu (o de dia 31 de Dezembro de 2021). Nesta carta vou agradecer e parabenizar o meu futuro eu da concretização das suas intenções, ideias e projetos para o ano de 2021. Esta estratégia vem da psicologia positiva, e baseia-se na ideia de compromisso, ou seja, logo no início do ano estou a comprometer-me com o meu futuro eu, que não vou naturalmente querer desiludir.
É um trabalho muito interessante a nível psicoterapêutico e que permite uma maior consciente e possibilita a mudança.
Resta-me desejar-lhe um Feliz Ano de 2021, e quem sabe, ainda nos encontremos este ano.