
A nossa mente é fascinante, ao contrário de outros animais, os humanos passam muito tempo a pensar, o cérebro humano é capaz de ter milhares de pensamentos por dia. A maioria desses pensamentos não são sobre o que está a acontecer no momento, mas são sobretudo acerca do que já aconteceu no passado, do que pode acontecer no futuro ou do que pode nunca acontecer.
Isto porque o nosso cérebro não foi programado para nos deixar mais felizes, a evolução preparou-nos para estarmos constantemente preocupados, a pensar em possíveis problemas e perigos. Dessa forma conseguimos sobreviver, reproduzir e garantir o futuro da espécie. Este tipo de pensamento apesar de desagradável, é bastante útil, pois permite-nos encontrar soluções para os desafios antes de acontecerem. Ao mesmo tempo essa capacidade de nos preocuparmos com o futuro também pode funcionar contra nós, gerando constantes pensamentos negativos. Mas já não vivemos em planícies e não temos de caçar para comer, o que significa que podemos treinar o nosso cérebro a ter pensamentos mais ajustados e mais positivos.
O psiquiatra Daniel G. Amen (2013) faz uma analogia entre as formigas e os pensamentos negativos. Algumas formigas num piquenique são naturais e fáceis de lidar, muitas formigas num piquenique podem arruinar esse momento. Os pensamentos negativos funcionam da mesma forma, se forem demasiados tornam-se prejudiciais.
Provavelmente já se sentiu atormentado por pensamentos negativos que não queria ter, como por exemplo “Eu nunca faço nada bem”, “sou um falhado”, “não vou conseguir”, “alguma coisa má vai acontecer, é sempre assim”, “ninguém gosta de mim”, “vou perder o controlo”. Chamamos a este tipo de pensamentos de pensamentos negativos automáticos, porque são espontâneos, rápidos e nem sempre temos consciência deles, eles simplesmente aparecem na nossa mente (Beck, Rush, Shaw, Emery, 1979; Beck, 1997, 2011).
O problema é que a nossa mente, mente! E muitos pensamentos automáticos não correspondem à realidade, então precisamos identificar este tipo de pensamentos, questioná-los e modificá-los para pensamentos mais ajustados à realidade.
Em primeiro lugar, é importante ter consciência de que nós não somos aquilo pensamentos. Em última instância somos aquilo que fazemos. Como já vimos, também é importante perceber que os pensamentos e a realidade não são a mesma coisa. Se pensar imensas vezes, durante todo o dia, e desejar com toda a força que a sua relva seja cortada, no final do dia ela estará na mesma e terá que a cortar você mesmo.
Em segundo lugar, tentar reprimir ou evitar esses pensamentos não funciona, é como lutar com uma bola numa piscina. Tentamos empurrar a bola para debaixo de água, no entanto a bola volta sempre ao de cima, então continuamos a segurá-la com força debaixo de água. Mas lutar dessa forma faz com que a bola fique sempre ali perto de nós e ao mesmo tempo é cansativo e inútil. Se largássemos a bola, ela iria aparecer com toda a força e provavelmente não iríamos gostar. Mas se conseguirmos deixá-la flutuar por um tempo sem agarrá-la, ela pode eventualmente se ir afastando para o outro lado da piscina. E mesmo que isso não acontecesse, pelo menos poderíamos aproveitar a energia, usar os braços e nadar, em vez de gastar tempo e energia a lutar com a bola.
Em terceiro lugar pensamentos são importantes, eles podem influenciar a forma como nos sentimos emocionalmente e fisiologicamente, assim como nos comportamos. E tudo que é importante devemos tomar conta e não deixar ao acaso. Assuma uma atitude proativa em relação aos seus pensamentos, da próxima vez que notar um pensamento negativo, reconheça-o, desafie-o e transforme-o. Faça isso de forma consistente e irá começar a ter pensamentos mais ajustados à realidade e com eles melhores sentimentos.
1) Tenha consciência dos pensamentos
O primeiro passo é prestar atenção a esses pensamentos, muitas vezes eles são acompanhados de uma mudança de humor. Fique atento. Quando perceber os seus pensamentos, anote-os num caderno ou no seu smartphone, desta forma vai ser mais fácil tomar consciência deles e conseguir ajustá-los.
2) Questione os pensamentos
Como vimos, os pensamentos nem sempre são verdadeiros, precisamos de testar a sua validade e utilidade.
Questione-se: Quais são as evidências a favor e contra este pensamento? Qual é a utilidade deste pensamento? Não aceite todos os pensamentos, enfrente-os e não deixe que eles limitem a sua vida.
3) Substitua-o por um pensamento mais ajustado
Transforme os seus pensamentos negativos em algo mais positivo e provavelmente mais realista. Por exemplo, quando comete um erro no seu trabalho e pensa “Vou ser despedido. Sou um fracasso no meu trabalho”, talvez um pensamento mais realista e ajustado seria “Cometi um erro, erros acontecem, mas sempre cumpri o meu trabalho de forma eficiente, vou enfrentar isto como já fiz no passado”.
[Bónus] – Faça aqui o download da sua ficha de registo de pensamentos para o ajudar a ter pensamentos mais ajustados e positivos.
A boa noticia é que não precisa de ser tornar um monge, viver a sua vida toda no Tibete nem ler mil livro de auto-ajuda para acalmar a sua mente e ter pensamentos mais positivos. Comece a pôr em prática estas dicas, treine a sua mente e desfrute dos resultados. Quando conseguimos corrigir estes pensamentos negativos e substituí-los por outros mais apropriados, temos mais hipóteses de viver uma vida mais feliz e mais bem-sucedida.
Por outro lado, podem existir momentos que sozinhos não conseguimos, então se de alguma forma se sentir oprimido por pensamentos negativos ou sentir que eles estão a afetar significativamente a sua vida, considere a ajuda de um profissional. Um psicólogo pode ajudá-lo a restruturar o seu pensamento, gerir as emoções e mudar a forma como se vê a si, aos outros e ao futuro.
Amen, D. G. (2013). Mude de cérebro, mude de vida. Lisboa: Pergaminho.
Beck, J. S. (1997). Terapia cognitiva: teoria e prática (S. Costa, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas.
Beck, A. T., Rush, A. J., Shaw, B. F., & Emery, G. (1979). Cognitive therapy of depression. New York, NY: The Guilford Press.
Beck, J. (2011). Cognitive Behavior Therapy. Basics and Beyond. New York, NY: The Guilford Press.