
A capacidade de imaginar situações, tanto no curto prazo como em tempos mais diferidos do presente, apesar de ser uma fantástica competência específica dos humanos, pode trazer dificuldades difíceis de contornar. Uma delas é representada pelo acesso á consciência de pensamentos de cariz negativo e repetitivo cuja natureza involuntária e prejudicial confere um significado parasita. Estes pensamentos, com um conteúdo organizado em torno de pessoas ou situações expressam preocupações, dúvidas e/ou vulnerabilidades, todas elas uma expressão de vulnerabilidade, insegurança ou, até medo.
O pensamento, uma das mais belas ferramentas da mente, nem sempre está salvaguardado do controlo necessário que assegura a bondade das operações de compreensão, avaliação e decisão efetuadas pelas pessoas. A existência de ansiedade ou angústia, decorrente de emoções ativadas pela perceção de ameaça nos diversos graus de intensidade, afeta de maneira significativa o pensamento provocando vieses de tendência negativa. Ao invés de uma ferramenta nuclear de apreciação da realidade, transforma-se num refém de emoções que o transportam para a visão negativa da realidade, presente ou futura. Uma visão que, carente da controlabilidade consciente da pessoa, vai expressando-se repetidamente o que acaba por realimentar a ansiedade que a gera.
Apesar da sua lógica questionável ou irracional eles permanecem ativos na consciência e influenciam as suas decisões. Por vezes irrompem subitamente sem qualquer relação com a atividade ou contexto em que a pessoa se encontra, manifestando-se em momentos inoportunos. Incentivam as pessoas a fazerem avaliações sobre situações que habitualmente geram autocrítica, culpa, vergonha ou dúvida que, consequentemente, alimentam a sua repetição. Estes pensamentos têm, por isso, uma natureza ruminante que se revela prejudicial na medida em que assumem o controlo da consciência e afetam a função da atenção ou, até, da memória e do raciocínio.
Estes pensamentos involuntários que cumprem uma função parasita estão normalmente associados a medos ou inseguranças que geram sentimentos de dúvida, preocupação, pessimismo, ameaça, impotência, excesso de responsabilidade, perfecionismo, superstição, etc. Isto significa que eles são fundamentalmente a expressão ideativa de emoções que causam desconforto nas pessoas o que as leva frequentemente a desenvolver ações que visam restaurar o conforto e segurança. Estas ações de natureza compulsiva podem ser apenas mentais, de repetição de palavras ou ideias ou de contagem de objetos, ou podem ser comportamentais e visar a manutenção do asseio e higiene, do controlo de contágio, de verificação de situações, de criação e manutenção da organização no contexto onde a pessoa vive e trabalha.
A existência de pensamentos involuntários, com uma natureza repetitiva e improdutiva, acompanhada ou não de ações de natureza compulsiva, deve constituir motivo de avaliação. O objetivo é identificar a possibilidade de a pessoa estar a desenvolver pensamentos obsessivos que diminuem a sua qualidade de vida e, em casos mais pronunciados, causam sofrimento psíquico e perturbação mental. Na maioria das vezes, a ocorrência deste tipo de fenómeno mental recomenda a realização de psicoterapia com vista a um reajustamento dos processos emocionais e cognitivos.
A psicoterapia vai ajudar a pessoa a identificar as causas dos pensamentos parasitas, um auto-conhecimento que vai ajudá-la a modificar a forma de lidar com eles. Um dos aspetos mais importantes é aumentar a capacidade de reconhecer a dimensão irracional e pouco realista que os suporta e a falta de utilidade que os carateriza. Ao mesmo tempo, o processo transformativo gerado pela psicoterapia vai ajudar a pessoa a melhorar a perceção de si e a capacidade de enfrentar os estímulos desafiadores, permitindo-lhe desenvolver a segurança suficiente para impedir a emergência de sentimentos que se vão constituir em gatilhos emocionais que despoletam pensamentos obsessivos.