
Muitos de nós gostariam de ter uma dieta equilibrada, outros gostariam de conseguir equilibrar o tempo que é dedicado ao trabalho e o tempo que é dedicado à família, outros procuram o equilíbrio na relação amorosa…aliás, diria que muitos de nós até procuram equilíbrio em mais do que uma destas dimensões ao mesmo tempo. É um desafio permanente, e temos muitas distrações no dia-a-dia que nos fazem resvalar para o desequilíbrio. Provavelmente sentimos mais vezes que as nossas necessidades estão desequilibradas, e que é muito difícil sai deste estado.
Jon Kabat-Zinn, organizou as 9 atitudes mindfulness, que podem servir como orientação quando nos sentimos em desequilíbrio, e que são atitudes que quando enraizadas nos permitem viver de forma mais consciente, mais atenta, tranquila e alinhada. Na verdade, algumas delas são vistas como qualidades quando descrevemos pessoas (“ele é muito paciente”, “ela é generosa”, “ele consegue deixar-se ir” etc.), e por isso, acho que vale mesmo a pena tentar praticar estas atitudes. A ideia que quero deixar-lhe com este texto, é que possa pensar um pouco sobre estas atitudes, sobre a forma com as pratica (ou se não as pratica de todo), e que leve consigo aquilo que mais sentido lhe fizer. Algumas destas atitudes podem parecer mais desafiantes, e para praticarmos algumas delas, temos de mudar um bocadinho o nosso mindset.
1. Não Julgamento – Praticar esta atitude é um enorme desafio, porque quando começamos a prestar atenção ao que está na nossa mente, rapidamente descobrimos que temos opiniões e ideias sobre tudo, e que somos ótimos a avaliar os comportamentos ou ideias dos outros.
Estamos constantemente a julgar a nossa experiência: “gosto disto”, “não gosto daquilo”, “quero isto ou não quero aquilo”, e tudo aquilo que vemos ou ouvimos “o que aquela pessoa disse não faz sentido nenhum”, “não percebo como é que alguém pode gostar de a, b ou c”, como um fluxo constante de julgamentos sucessivos. Contudo, não somos capazes de não avaliar ou de não julgar algo, mas podemos estar cientes de quão críticos somos. Não tecer julgamentos não quer dizer que de repente ficamos ignorantes, sem opiniões. Quer antes dizer que vamos cultivar o discernimento, enquanto capacidade de ver o que acontece, não para julgar e sim reconhecê-lo e compreendê-lo em relação à nossa experiência.
2. Paciência – A atitude de paciência, em mindfulness, é uma forma de sabedoria, demonstrando que entendemos e aceitamos que às vezes as coisas devem desenrolar-se no seu próprio tempo. Uma criança pode tentar ajudar uma borboleta a emergir abrindo a sua crisálida, mas a borboleta não beneficia disso. Qualquer adulto sabe que a borboleta só pode emergir ao seu próprio ritmo e que o processo não pode ser apressado.
3. Mente de principiante – A mente de principiante ajuda-nos a ver tudo como se fosse a primeira vez: levantar-se, tomar banho, tomar café, cumprimentar o parceiro, ver o sol. Essa atitude em relação à vida faz-nos ver cada momento como real, novo, único e diferente de todos os outros. Esta atitude, permite-nos parar o modo “piloto automático”, romper com pensamentos pouco funcionais e comportamentos pouco ajustados. É uma ótima forma de nos mantermos curiosos em relação ao que vai acontecendo à nossa volta, e recuperarmos algo que “invejamos” nas crianças: o entusiamo de sentir tudo como se fosse a primeira vez, mesmo já o tendo experienciado inúmeras vezes.
4. Confiança – Desenvolver uma confiança básica em si mesmo e nos seus sentimentos é uma fonte de equilíbrio. Confiança é ao mesmo tempo ser confiável e confiar, e é um reconhecimento de que não estamos no controlo de todas as coisas da nossa vida, mas que ainda assim, conseguimos chegar onde somos esperados.
5. Não esforço – O não-fazer permite que as coisas sejam realmente abarcadas na nossa consciência, sem que tenhamos que nos envolver com elas, sem ter que fazer algo acontecer ou procurar experimentar algum estado em específico. É simplesmente estar com a vida, momento a momento, sem nenhum plano ou objetivo, é deixar que as coisas aconteçam quando não as podemos controlar.
6. Aceitação – A aceitação não é de todo ser passivo, mas antes praticar o reconhecimento ativo de que as coisas são da forma que são. Muitas vezes perdemos tempo e energia a negar o que é um facto. Procuramos forçar as situações, de modo que elas sejam como nós gostaríamos, o que cria mais tensão e impede a mudança positiva. A aceitação não significa que temos de gostar de tudo e abandonar princípios e valores. Não significa que tem de se resignar e tolerar tudo. A aceitação tranquiliza-nos, e é o primeiro passo para qualquer mudança ou persecução de objetivos: para chegar onde quero, tenho de aceitar onde estou.
7. Não-apego – Largar, soltar, “abrir mão” são formas de deixar as coisas serem o que são, de aceitar as coisas como elas são. Quando prestamos atenção à nossa experiência interior, descobrimos que há certos aspetos que a mente quer manter, e outros que quer afastar. Se agradável tentamos prolongar a nossa experiência, se desagradável tentamos apagar ou fugir, se neutra ficamos entediados. A alternativa, seria, intencionalmente, largar esta tendência, deixando as coisas acontecerem como têm de acontecer.
8. Gratidão – Praticar a gratidão, permite-nos apreciar o momento presente com um sentido de reverência e de humildade. Ao diminuir a velocidade, e trazer gratidão para o momento presente, podemos experimentar uma sensação de prazer e de foco nas pequenas coisas boas da vida. Mesmo quando as coisas estão a correr mal, podemos agradecer por estarmos vivos, e por podermos aprender com esses eventos. A gratidão é sempre uma (boa) opção.
9. Generosidade – Quão poderoso é dar algo a outra pessoa, algo que a fará mais feliz, sem esperar nada em troca? Quando somos generosos, demonstramos que realmente nos interessamos e que oferecemos o nosso tempo (ou qualquer outro recurso) a alguém que não a nós mesmos.
Muitas das vezes em que estes temas surgem em consulta e se fala da aceitação, do não esperar um resultado em particular, lembro-me de uma cena icónica do filme “O Homem que Sabia de Mais”, de Alfred Hitchock, em que Doris Day canta o tema “Que Sera, Sera (Whatever Will be, Will be). Deixo abaixo o link, para ouvir com atenção.