Este é um tema delicado e que deve ser observado e analisado com respeito pela sua delicadeza e importância no panorama emocional das nossas vidas.
Dou comigo muitas vezes em consultas a abordar este assunto pela importância que acredito que devemos conferir à saúde mental e emocional de tod@s.
Acredito profundamente que tod@s nós temos na vida alguma situação ou alguém que em maior ou menor grau nos feriu, desiludiu ou surpreendeu pela negativa por alguma razão e o resultado acabou por ser um afastamento, daqueles afastamentos em sinal de protesto, de auto-proteção ou de simples fuga ao desconforto.
Quantas vezes damos connosco e ouvir chavões como: “Perdoar é importante” e a repeti-los para nós mesmos na expectativa de que por muito ouvir o nosso sistema emocional consiga realizar o perdão e seguir em frente com a tão prometida leveza que supostamente se segue ao perdão?
E quantas vezes até já o tentamos fazer, real ou imaginariamente e nem sempre sentimos a tal da leveza e a prometida paz de espírito?
É que talvez falte explicar uma parte, um daqueles detalhes de que ninguém fala e que é simplesmente fundamental para se perceber este processo que é tudo menos fácil ou rápido nas nossas vidas.
Talvez nunca ninguém lhe tenha dito que:
– Sim… Perdoar é importante…. mas isso não significa que os relacionamentos irão voltar a ser o que eram;
– Sim… Perdoar traz leveza… mas só quando já percebemos e aceitamos que o pós perdão não contém em si a necessidade de voltar a fazer parte das vidas das pessoas a quem se perdoou e vice-versa;
– Sim… Perdoar é importante… mas só quando aceitamos que é um ato único e exclusivamente autónomo e individual e que não significa que vá mudar nada na reação do outro ou na sua percepção sobre o acontecimento nem que vá provocar a mínima mudança no comportamento de nenhum dos envolvidos;
– Sim… Perdoar traz leveza… mas essa é a leveza que só sentirá se aceitar a liberdade de seguir em frente sem a necessidade de que a(s) pessoa(a) que perdoa o/a acompanhem nessa estrada de vida que é sua, porque provavelmente eles não o farão e ainda assim, a estrada estará à sua espera para ser percorrida… tantas vezes a solo… mas LIVRE!
É por todas estas questões que perdoar não é fácil, nem rápido, nem tranquilo… Muito pelo contrário… Perdoar é um processo de auto-conhecimento, auto-aceitação e valorização fundamentais para quem tem estradas a solo para percorrer sem nunca esquecer que a liberdade é uma conquista diária de si mesmo, uma construção de bases fortes e seguras que podemos escolher criar nas nossas vidas, para nós, por nós e em nós.
Perdoar é acima de tudo um processo de maturação muito intenso e dinâmico internamente pelo qual temos que passar se quisermos libertar-nos das cordas onde inconscientemente nos deixamos aprisionar pelas mágoas, pelas desilusões e pelo sofrimento.
Perdoar é escolher libertar a dor e viver o Amor, o próprio… aquele que deve superar todos os outros.
Por isso perdoar envolve por norma 2 ou mais pessoas mas na realidade a libertação é feita de modo única e exclusivamente individual num processo de busca interior e de conhecimento e desenvolvimento pessoal, e por isso é tão difícil fazê-lo!
Quantas vezes já deu consigo a pensar em situações do passado que gostava de já ter perdoado mas que simplesmente decidiu ignorar, na expectativa de que evaporem no tempo?
Acredite que conheço bem a sensação de impotência quando decidimos ser verdadeiramente honest@s connosco mesmos e sabemos dentro do coração que ainda não conseguimos perdoar a situação A ou B acontecida há não sei quantos anos.
É por isso que lhe garanto que vale a pena dar início a este processo de auto-descoberta com a promessa de muitas surpresas pelo caminho atribulado dos medos numa escalada interna até ao topo da montanha das nossas capacidades individuais… porque só nesse lugar seremos capazes de acreditar que a liberdade nos habilita a voar.