
Como humanos, sempre fomos criaturas sociais, então não é de estranhar que sejamos adeptos das novas tecnologias, estando metade da população mundial (3,5 bilhões) registada em alguma rede social (Global Digital Statshot, 2019). Neste sentido, estas plataformas, de certa forma, já constituem uma força e um fenómeno social e cultural a serem considerados.
Onde está a atenção, está a oportunidade de negócio e a profissão de criador de conteúdos digitais é cada vez mais aceite, reconhecida e até bastante desejada pelos mais novos.
Apesar de haver distinções, devido à plataforma, tipo de conteúdo e objetivo, para este artigo, apesar de redutor, vamos chamar aos criadores de conteúdo – influencers. Podemos definir um influencer, de forma geral, como um perfil com milhares de seguidores nas redes sociais, que através do seu conteúdo e, por ter acesso a um grande público nessas plataformas, possui a capacidade de influenciar comportamentos, podendo ser remunerado por isso.
Na maioria dos casos, os influencers começam do zero, crescendo seguidor por seguidor. À medida que vão crescendo vão recebendo cada vez mais atenção e tornam-se modelos, com base nas suas personalidades, talentos e criatividade.
No geral, os influencers, independente do conteúdo optam por partilhar histórias pessoais, e opiniões o que contribui para que sejam vistos como confiáveis e acessíveis (Westenberg, 2016). Enquanto psicólogo, interesso-me pelo comportamento humano e tudo que envolva a saúde mental, tornando-se impressionante ver a quantidade de influencers, que em algum momento do seu canal dedicam um ou vários vídeos para falar sobre a sua saúde mental e contar experiências pessoais de problemas como ataques de pânico, perturbações alimentares, depressão ou até mesmo pensamentos suicidas. Por um lado, as estatísticas dizem-nos que 1 em cada 5 portugueses sofre de problemas de saúde mental (Almeida & Xavier, 2009) o que faz com que, neste caso, tenham apenas mais exposição, só isso.
A vida de um influencer, por mais excitante que possa parecer à distância, exige um enorme compromisso. Consigo pensar em alguns, como: pensar o que publicar, publicar conteúdo diferente todos os dias, a quantidade de horas de trabalho neste processo, quantas visualizações terá e como isso se traduzirá em termos financeiros. Quando um influencer não publica por poucos dias, isso pode afetar o seu posicionamento e, portanto, o quanto dinheiro ele ganha, fazendo com que parar seja algo mais difícil. Para além do dinheiro, os influencers também precisam de se preocupar constantemente com a sua imagem, concorrência, algoritmos que estão em constante mudança e também suportar os comentários negativos nas suas publicações.
Sabemos, na psicologia, que todo nós precisamos de stress, o problema começa quando estas pressões e stress constante, se tornam difíceis de suportar ou lidar e aí a tensão aumenta, não há mais nenhuma alegria nos desafios que enfrentamos diariamente e passa a existir uma forte angústia.
Além disso, todas estas imprevisibilidades fazem com que a rotina dos criadores de conteúdo possa não ser a melhor, existindo por vezes ausência de exercício físico, sedentarismo, alimentação desequilibrada e falta de sono. Este desequilíbrio constante traz consequências para a nossa saúde mental e física.
Todas as plataformas apresentam uma série de benefícios tanto a nível pessoal, como profissional, ao mesmo tempo existem algumas consequências preocupantes e cuidados a ter em conta na sua utilização, e muito mais quando fazemos delas a nossa profissão.
Então, por onde começar? Comece por construir e solidificar os pilares da saúde (alimentação, sono, exercício físico, meditação e relações) e inclua esses pilares na sua rotina. Ter rotinas produtivas e saudáveis é essencial para o nosso bem-estar e saúde mental.
O exercício físico, quando moderado, tem efeitos muito positivos para a saúde mental. Experimente fazer 15 minutos de caminhada todos os dias.
Uma boa alimentação para além de melhorar a nossa saúde física também é importante para mantermos uma boa saúde mental. Alimentos frescos, mais naturais, ricos em nutrientes, ajudam a melhorar o nosso humor.
Reserve tempo para ler, aprender e informar-se. Ajuda na memória, na criatividade e aumenta as suas competências.
Uma boa noite de sono promove inúmeros benefícios para a saúde mental e física. Dormir de 6 a 8 horas por dia, para além do descanso físico, ajuda a equilibrar as funções mentais.
Faça uma sessão de mindfullness, de 10 a 15 minutos por dia. Enquanto a sua respiração normaliza, o corpo e a mente acalmam e permitem-lhe estar mais focado e concentrado no presente.
Cultive boas relações. Passe tempo com as pessoas que são importantes na sua vida. Desenvolver e manter relações saudáveis e positivas são um fator protetor de saúde mental.
É importante que enquanto criador de conteúdo e pessoa, acima de tudo, aprenda a não se esgotar ou atingir pontos de rutura emocional. Se sentir que este pode ser o seu caso, um psicólogo pode ajudar a recuperar o equilíbrio emocional e a se sentir bem consigo mesmo novamente, bem como a fazer as alterações necessárias na sua rotina. Pode ser desafiador, com certeza, mas o seu bem-estar acabará por torná-lo mais produtivo e feliz.