
Quem somos, do que gostamos, o que queremos na vida, são questões que vão surgindo aos adolescentes e para as quais nem sempre existe uma resposta. A adolescência é a fase de descoberta de nós próprios e dos outros. Nesse sentido, coloca-se a questão:
Recorrendo á etimologia da palavra consciência, esta vem do termo latino conscientia, de consciens, particípio presente de conscire = estar ciente, com uma possível raiz formada de junção de duas palavras do latim; conscius+sciens: conscius, que sabe bem o que deve fazer, e sciens, conhecimento que se obtém através de leituras, de estudos, instrução e erudição.
Nesse sentido, consciência é uma qualidade psíquica, isto é, pertence à esfera da psique humana. Ser consciente não é exatamente a mesma coisa que pertencer-se no mundo mas ser-se no mundo e do mundo, e isso exige outras implicações.
Seguindo o raciocínio, a consciência poderá ter dois sentidos: a descoberta ou reconhecimento de algo exterior (objeto, realidade, situação) e as modificações sofridas pelo próprio Eu. É um processo dialético no sentido de mover-se “do Eu para o mundo” e “do mundo para o Eu” e inicia-se nos primeiros meses de vida na relação mãe-bebé.
Esta experiência da relação permite a construção de um esquema mental para a realidade exterior para que mais tarde exista a construção interna de significados, seguidamente a separação da mãe enquanto objeto de relação permanente (18 meses aproximadamente), para mais tarde se dar a diferenciação do seu viver do viver dos pais (aproximadamente aos 3 anos).
Por volta dos 3/ 4 anos a criança desperta para o prazer fora da família, i.e., sentimento de pertença ao grupo mas também a solidificação dos papéis e regras sociais (4/5 anos).
Observa-se posteriormente uma relativa estabilidade alcançada durante os anos de latência (termo usado por Freud que compreende o intervalo entre os 6 a 10 anos) concomitante ao período de escolarização da criança, onde a sua energia está investida nas atividades escolares e nas relações sociais, mas também, privilegiando a companhia dos pais.
Quando a adolescência começa (inicia-se aos 10 anos e compreende o período até aos 19 anos), pelo contrário, tudo é confusão, o que dá lugar a novas e variadas separações. Trata-se da confusão acerca do seu corpo que surge com os primeiros pelos púbicos cuja aceitação passa pela elaboração do luto pela perda do corpo infantil e da perda de imagem dos pais da infância (Aberastury, 1965).
Na adolescência produz-se também, para além de uma cada vez mais ampla integração social, a integração da sexualidade. É um período de criação de significados pessoais e aproximação à maturidade através de um plano de ensaios que testam a aproximação – separação com os seus maiores e com os pares, procurando congruência na relação entre os objetos externos e internos.
A consciência crítica diz respeito ao crescimento harmonioso entre duas dimensões, ou seja, a reflexão sobre si próprio e a atenção sobre o mundo. O crescimento unilateral de qualquer uma destas duas dimensões pode conduzir à perda da identidade (só consciência do outro) ou ao isolamento (crescimento apenas de si).
O autoconhecimento é a chave para alcançar esse grau de consciência que nos permite tomar decisões adequadas e que nos satisfazem.
A questão muitas vezes colocada é se realmente os problemas da adolescência são uma coisa dos tempos modernos, criando-se desta forma quase que um mito em redor da questão. Ora alguns entendidos referem que a principal novidade da adolescência de hoje em dia é que a puberdade (fase de transição da infância para a fase adulta, em que ocorrem mudanças biológicas e fisiológica significativas), acontece cada vez mais cedo, ao mesmo tempo que os deveres da vida adulta tendem a assumir-se cada vez mais tarde.
O grau de dificuldade na relação pais e filhos durante este estágio depende muito de como convergem os padrões de relacionamento e funcionamento do sistema familiar transmitidos ao longo dos tempos, a transgeracionalidade, com os stressores previsíveis e imprevisíveis deste período que suscitam ansiedade (quer dos pais quer dos adolescentes) e obrigam o sistema a se adaptar.
Para determinada família a adolescência pode ser vivenciada com maior sofrimento e, para outra, pode ser um estágio promotor de crescimento coletivo e individual de cada membro do sistema.
É fundamental neste contexto os pais estarem atentos à narrativa que estão a promover quando se dirigem ao adolescente de forma a não projetar os seus próprios desejos e sonhos. O papel da comunicação é extremamente importante nesta interação. É imprescindível existir da parte dos pais uma escuta ativa aos desejos e interesses do adolescente, validando os seus sentimentos tais como possíveis medos e inseguranças, procurando ajudá-lo a refletir sem impor opiniões. Torna-se necessário também, deixar de lado os pensamentos deterministas no que respeita a decisões para a vida no mundo laboral e promover flexibilidade suficiente para permitir perceber que a qualquer momento pode ser possível adaptar o percurso.
É certo e sabido que muitas decisões como esta são influenciadas pelos pares, contudo, é importante salientar que o grupo de pares capacita o meio para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional do adolescente. As amizades na adolescência são fundamentais para o processo de criação de identidade. O sentimento de pertença ao grupo dá ao adolescente a segurança necessária para lutar contra a angústia da solidão típica desta fase.
Nesse sentido, torna-se necessário às famílias ampliar fronteiras, reconfigurar o sistema com novas funções e tarefas que permitirão a individualização do adolescente, ou seja, o afastamento e aproximação conforme o grau de dificuldade para gerir as situações que vivencia.
Criar com o adolescente uma relação de confiança é fundamental para ativar processos criativos entre pais e filhos com o objetivo de despertar novos sentidos, cooperativamente, para melhoria das relações a partir de uma responsabilidade individual e coletiva.
Em caso de dúvidas, poderá sempre procurar um profissional da área para ajudar a encontrar respostas. Saiba que posso ajudá-la(o) neste processo de construção de identidade, marque a sua consulta hoje!