
A adolescência é um período de transição. Turbulência. Mudanças internas drásticas, conflitos variados, pressas ou amarras em ebulição. O adolescente vive a adolescência própria da época em que se encontra. Uma adolescência em 2023 não é igual à vivência da mesma etapa nos anos 90, 80, muito menos 50.
Crescer é a função a vida, no geral, mas na adolescência em particular. Crescer fisicamente e crescer mentalmente, numa fase longa do ciclo vital da família em que a capacidade de pensar adquire pela primeira vez um estádio mais alargado, ou seja, adquire formas mais abstratas e lógicas mais robustas que trazem uma consciência, ainda em formação, mais aumentada e capaz. É por isso, uma etapa marcada por buscas, fantasias, trocas e perdas. Onde há sofrimento e desilusão. Mas também, oportunidade de autonomizar e, como tal, um viver novo mais capaz.
Entrevista ao Dr. João Pedro Lagarelhos da Clínica de Psicologia e Coaching Learn2be – Programa Dr. Ajuda no canal Saúde +
O jovem nesta etapa turbulenta tem, muitas vezes e pela primeira vez, de lidar com o largar de papeis infantis e passar a assumir novas funções e papeis na vida familiar, social e escolar. Tem de lidar com perdas afetivas e ideias pré-instituídas em si do funcionamento diário, do mundo e dos outros. Novas formas de se relacionar. Novos desejos, expectativas sobre si e sobre os outros.
Neste percurso atribulado e novo para o jovem é comum surgir momentos de tristeza, inferioridade e isolamento. Um corpo novo que desconhece e uma separação face a antigas rotinas e cuidados para com eles podem ser sentidos com maior intensidade e ressentimento. Intensidade que é aliás palavra de ordem na adolescência, período marcado por sentimentos e emoções vividos com grande intensidade.
No entanto, estes são períodos que podem muito bem ser olhados como momentos de organização interna necessários, e como tal, momentos que podem ser transitórios e passageiros.
Ter momentos mais depressivos nesta etapa de evolução é por isso normativo não devendo ser confundido com qualquer estado psicopatológico mais grave. Embora, obviamente, possam ser sintomas e sinais que escondem qualquer coisa de mais profundo mas que o tempo permitirá também averiguar se é um estado passageiro ou um estado mais instalado. E neste último caso, falamos de uma depressão.
É comum que os sentimentos de angústia e depressão se confundam entre si. Por vezes, os mesmos coexistem em simultâneo.
A verdadeira depressão manifesta-se por sensações de impotência e desespero face à vida. Manifesta-se por uma apatia notória, tristeza e acima de tudo, falta de ânimo. É a persistência no tempo de sinais prolongados de tristeza, falta de ânimo, motivação, quebra escolar ou queixas físicas que deve alarmar para um possível quadro de depressão no adolescente.
O agir impulsivo, muito presente também nesta etapa de vida, pode esconder uma agressividade interna que em última análise pode corresponder a uma depressão vincada ou instalada. O contrário, a falta de acção, de socialização, de gosto e prazer pela vida também.
Na adolescência a percepção que o jovem em construção tem de si é fundamental. Uma autoestima, alimentada pelas relações que mantem e pelas capacidades nas várias áreas de atuação formam com impacto neste jovem, um autoconceito e como tal um sentir importante na gestão de momentos mais depressivos ou da instalação de um quadro depressivo.
Um adolescente precisa ser entendido. Precisa sentir-se acolhido, compreendido e apoiado. Todos os adolescentes procuram aprovação. Principalmente dos pares. E é com uma boa relação que o seu mundo interno pode ser organizado. Nesse sentido, uma relação terapêutica é um espaço organizador essencial.
Caso se reveja na temática acima abordada e necessite de uma avaliação ou acompanhamento para desbloquear um estado igual ou semelhante, não hesite em marcar uma consulta de psicologia do adolescente.