
Já parou para pensar no que vê e olha? Já sentiu o que os seus olhos vêm quando gira em torno de si próprio? E o que o seu coração diz quando olha para lá do horizonte? Já escutou o que os seus olhos observam?
Ver é identificar algo ou alguém no imediato sem atenção especial, não estimula a experiência nem a vivência. É um sentido, uma ação involuntária.
Olhar significa direcionar os nossos olhos para algo ou alguém e prestar atenção, um olhar com um genuíno interesse. Por conseguinte, lento, rigoroso, analítico, traz sensação, sentimento, sensibilidade. É observar com cuidado.
Vivemos na emergência de olhar tudo o que nos rodeia e o nosso espelho com dedicação, acolhimento e genuinidade, sem medo, sem julgamento, com olhar curioso e vontade de aprender, de viver.
“ O medo cega (...) são palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegamos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos” (...) Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”
José Saramago
Segundo Christian Dunker, “as pessoas olham para a própria vida como se fosse uma empresa a ser medida pelos resultados.” Todos os dias uma corrida sem fim. Vemos mas não olhamos. Ouvimos mas não escutamos. Sentimos mas desvalorizamos. Estamos rodeados de pessoas mas não relacionamos. Pensamos mas não refletimos. Sobrevivemos e não vivemos. Vazio. Solidão, um sentimento universal que afeta a todos em algum momento da vida. A solidão pode estar associada à separação e pode-se manifestar em sentimentos de abandono, insegurança, inutilidade, falta de esperança, rejeição, infelicidade e dor. Num dado momento da vida emerge a urgência de parar mas, quantas vezes não fugimos dos nossos olhares?
Por isso, por vezes, não somos capazes de olhar com clareza tudo o que está à nossa volta. Somos constantemente invadidos por pensamentos de culpa e arrependimentos de algo que aconteceu no passado, de traumas, ou de insegurança do futuro.
Precisamos de aprender a olhar com consciência. A consciência é um “estado de alerta ou reconhecimento do eu e daquilo que o rodeia. Se substituirmos eu por própria existência, o resultado é uma frase que engloba alguns aspetos da consciência que considero essenciais: consciência é um estado mental em que temos conhecimento da nossa própria existência e da existência daquilo que nos rodeia. A consciência é um estado mental – se não houver mente, não há consciência.” (António Damásio)
Assim, olhar com consciência é olhar com responsabilidade e com sentido. Desde o início da nossa existência, tudo o que fazemos é dar sentido às nossas experiências. A melhor forma de fazer isto acontecer é conhecer a nossa mente, é procurar comunicar-se com o outro, com a vida, consigo próprio.
“Sua visão ficará clara somente quando você puder olhar para o seu próprio coração. Quem olha para fora sonha; quem olha para dentro desperta.”
Carl Jung
Do mesmo modo como se olha, irá olhar o que o rodeia, irá olhar o mundo, e quando existe esta mudança de olhar, quando existe “novas lentes de visão”, tudo muda, incluindo o mundo. A forma como olha e interpreta todas as situações da sua vida determina como irá agir, reagir e sentir. Sendo assim, olhe para si com carinho, trace metas, faça planos, priorize, sonhe muito, reveja algumas atitudes, pratique o desapego do que não é relevante. Permita-se a cuidar de si, a arriscar, a errar, a conhecer, a aprender, a recomeçar, a descansar. Cuide do corpo e da mente.
Permita-se a aceitar o que olhos do coração lhe falam; foque no seu propósito de vida; pratique o auto-cuidado; promova a empatia e espere o melhor.
A meditação mindfulness, também conhecida por atenção plena, dá-nos o tempo e o espaço para olhar, sentir e estar totalmente consciente de onde estamos e do que estamos a fazer.
Partilho consigo uma forma de praticar esta técnica:
1- Procure o seu lugar: sente-se num local que lhe proporciona estabilidade e seja confortável para si.
2- Observe as suas pernas: se estiver sobre uma almofada no chão, cruze as pernas confortavelmente à sua frente. Se estiver sentado em uma cadeira coloque a planta dos pés a tocar no chão.
3- Corrija a postura: a nossa coluna vertebral tem uma curvatura natural, que deve ser mantida. A cabeça e os ombros podem descansar confortavelmente sobre as vértebras.
4- Estenda os braços à frente do corpo: deixe as suas mãos caírem sobre as pernas.
5- Abaixe um pouco o queixo e deixe o olhar cair suavemente para baixo ou permaneça de olhos fechados.
6- Relaxe: traga sua atenção para a respiração ou para as sensações em seu corpo.
7- Respire: inspire, expire, acompanhe o ar. Procure dirigir a sua atenção para a sensação física da respiração, o ar que se move pelo nariz ou pela boca, a subida e a queda da barriga ou do peito.
8- Sua mente vai se agitar: não se preocupe, quando perceber a sua mente a vaguear, sem julgamento, apenas retorne sua atenção gentilmente à respiração.
9- “Acorde”: observe qualquer som no ambiente, observe como seu corpo se sente, seus pensamentos e emoções. Faça uma pausa por um instante e decida como gostaria de continuar com o seu dia.
“A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em olhar para as mesmas com novos olhos.”
Marcel Proust
Relembro que você não está sozinho, conte connosco para o ajudar neste processo de desenvolvimento pessoal. Convido-o a caminhar para esta descoberta de um Novo Olhar.