
– Carla F., 43 anos, gestora numa empresa multinacional, com uma carreira bem sucedida. Continua a procurar uma relação emocionalmente gratificante e duradoura, após numerosas tentativas fracassadas. Sente que acaba, invariavelmente, por se entregar demasiado às relações, e que essa entrega contribui para o afastamento e o desinteresse dos companheiros.
– Miguel V., 29 anos, informático, numa relação estável. Vai tornar-se pai no primeiro trimestre do próximo ano. Apesar da gravidez planeada e de ser um desejo seu de longa data, vive atemorizado pela perspectiva. Receia não ser capaz de lidar com as exigências e, ao mesmo tempo, pelo tempo livre que deixará de ter.
Poder-se-ia dizer que estes dois exemplos são relativamente comuns e frequentes. Sim, o ser humano aspira partilhar os seus afectos e emoções, por um lado, e teme o desconhecido, a incerteza, o futuro, por outro.
Porém, quando procuramos causas mais profundas, muitas vezes deparamos com “feridas invisíveis” que afectam o nosso quotidiano, influenciam as nossas atitudes, a nossa forma de encarar e lidar com as situações. Essas feridas podem ser traumas emocionais e/ou psicológicos que não são visíveis, geralmente causadas por experiências dolorosas, como negligência, abusos, perdas, tragédias ou outros eventos traumáticos. Há feridas da infância, feridas de relacionamentos, feridas de traumas ou feridas de perda.
As feridas invisíveis podem manifestar-se de várias formas, incluindo ansiedade, depressão, baixa autoestima, dificuldade em estabelecer relacionamentos saudáveis, desencadear comportamentos autodestrutivos e dificuldade em lidar com o stress.
Essas feridas podem estar enraizadas no passado, mas continuam a afectar a saúde emocional e o bem-estar das pessoas ao longo da vida.
Carla F. não consegue que as capacidades e competências, que tão bons resultados deram no plano profissional, funcionem na sua vida pessoal e amorosa. Pelo contrário, parece que quanto mais tenta encontrar uma relação, mais depressa esta colapsa, acentuando a sua frustração, ansiedade e sensação de “nunca vou conseguir”.
Miguel V. vê os dias a passar e sente o adensar das dúvidas sobre a alegria de algo que sempre desejou: “Vou ser um bom pai? Ou vou ter de trabalhar tanto que serei ausente e intolerante? E se o bebé não me deixar dormir, como conseguirei trabalhar?”.
Um possível tratamento para as feridas invisíveis é a terapia psicológica, em que o indivíduo pode explorar eventos traumáticos passados, identificar padrões de pensamento e comportamento negativos, e aprender estratégias saudáveis para lidar com as emoções. A abordagem terapêutica varia em forma e em duração, dependendo das necessidades individuais, mas pode incluir terapia cognitivo-comportamental, terapia focada nas emoções, terapia de exposição, terapia de grupo ou outras.
O que não devemos fazer é negligenciar ou menosprezar as feridas invisíveis, porque estas nos causam dor e têm impacto no nosso dia-a-dia, podendo impedir-nos de viver plenamente, de nos sentirmos seguros, calmos, tranquilos, de nos conectarmos com os outros, ou mesmo de alcançar os nossos objectivos.
1 – Reconheça as suas feridas:
O primeiro passo para a cura é reconhecer que tem feridas. Muitas vezes negamos ou ignoramos as nossas feridas porque não queremos lidar com a dor que, mesmo sem termos consciência, nos provoca.
2 – Expresse as suas emoções:
Uma vez que reconheceu as suas feridas é importante expressar as suas emoções, seja através da escrita, da arte, da música ou da terapia. Expressar emoções ajuda a libertar a dor e a iniciar a cura.
3 – Cuide de si mesmo:
É importante cuidar de si física, mental e emocionalmente durante o processo. Isso significa comer bem, dormir o suficiente, fazer exercício e praticar actividades de que gosta.
4 – Procure ajuda profissional:
Um terapeuta pode ajudá-lo a identificar as suas feridas, a expressar as suas emoções e a desenvolver estratégias saudáveis.
Se se sente só, deprimido, ansioso, pense que não está sozinho e que é capaz de sair desse estado. Merece ser amado e feliz.
Milhões de pessoas sofrem de feridas invisíveis e não precisa de sofrer sozinho. Há ajuda para si. Pode curar as suas feridas e aprender a viver melhor.
Gonçalo Duque Plaza
Psicólogo Clínico