
PRODUTIVIDADE TÓXICA: QUANDO O EXCESSO DE DEDICAÇÃO SE TORNA PREJUDICIAL
Numa sociedade de consumos e resultados, num mundo ligado ao fazer e executar, é fácil encontrar livros, artigos, milhares de páginas na internet sobre produtividade. Como ser produtivo, ser mais e melhor, como gerir o tempo e as tarefas, como ser reconhecido pelo fazer, entre tantos outros temas relacionados. O profissional moderno que precisa de cumprir tudo o que tem na sua agenda.
O termo produtividade tóxica surge justamente deste contexto de excesso do trabalho, da ausência de limites e do foco na conclusão de mais tarefas e melhor desempenho em menor tempo possível. Trata-se de um termo que remete para o excesso de preocupação e dedicação ao trabalho, quando não respeitados os limites e fronteiras fundamentais. Remete para uma dificuldade em parar e para a necessidade constante de superar expetativas a qualquer custo, colocando o bem-estar físico, mental e emocional em risco.
Nesta lógica, não é incomum nem sem sentido, que uma das principais características da produtividade tóxica, é o sentimento de culpa gerado pela impossibilidade de concluir as tarefas definidas. O desejo constante de executar mais e melhor e a insatisfação em não atingir a máxima eficiência gera a “culpa da baixa produtividade”, provocando ainda um elevado índice de ansiedade ou outros problemas associados.
Sentir-se culpado leva a uma distorção da realidade, em que o profissional deixa de conseguir percecionar os seus esforços, olhando constantemente para o que falta, o que ainda não fez, o que ficou aquém. Permanece o sentimento constante de insuficiência. Mantém-se ainda ligado ao trabalho por qualquer que seja o canal de comunicação e tem dificuldade ao aproveitar os momentos de lazer. Não consegue esquecer o trabalho e aproveitar eventos sociais, tendo a sensação de que não pode desfrutar de tempo de inatividade, uma vez que “deveria estar a ser produtivo”, levando facilmente a cenários de Burnout, perturbações de ansiedade, conflitos na vida familiar e depressão.
A fonte de toda esta culpa está em padrões impostos irrealistas, no foco do “eu” ideal, no aperfeiçoamento contínuo, na perfeição e na comparação com o outro. Viver focado nesta produtividade, tóxica e destrutiva, transporta para um lugar penoso que retira a qualidade de vida, mantendo apenas o trabalho como o centro da vida e das vivências do “eu”. A produtividade tóxica é um excesso, que tantas vezes esconde apenas a falta de si mesmo, podendo, frequentemente, ser utilizada como uma estratégia para evitar olhar para dificuldades na vida pessoal.
A produtividade pode ser algo maravilhoso num qualquer profissional, que promove o desenvolvimento de carreira e o reconhecimento do outro, no entanto, o modo como ela possa interferir nos relacionamentos e no bem-estar de cada um, não é. Quando a dimensão profissional e a realização das tarefas profissionais tornam-se mais importantes do que dormir o suficiente, estar presente num aniversário de um amigo importante, ter tempo para brincar com o seu filho todos os dias ou substituí uma relação conjugal, ela passa a ser tóxica e problemática.
Em tudo isto, esquecemo-nos ainda da dimensão humana. Não somos autómatos, desprovidos de quaisquer emoções e necessidades, e torna-se impossível ter níveis de produtividade sempre iguais. A procrastinação, as distrações, os imprevistos, o estado físico e emocional, interferem diariamente no foco e no atingir dos objetivos.
Ser produtivo de forma saudável, permite otimizar o tempo e a energia para realizar as tarefas necessárias de forma eficiente, considerando os limites, as pausas e as diferentes áreas da vida de cada um, não caindo em culpas baseadas em padrões irrealistas ou em vícios incontroláveis. É necessário estabelecer prioridades, planear o tempo, eliminar distrações e manter o foco para ser produtivo, mas também é necessário cuidar e respeitar o tempo para além do trabalho. Libertar-se de critérios de autoexigência que consomem a energia total, de expetativas e objetivos que ultrapassam o tempo diário.
O autocuidado, os momentos de lazer o tempo em família ou amigos, são cruciais para o equilíbrio de cada um, permitindo o aumento da energia física, mental e emocional e garantindo assim a chave para uma maior produtividade. Pratique exercício físico, cuide da sua alimentação e da sua saúde física, contacte com a natureza, socialize, mantenha-se próximo de pessoas com as quais se sente acolhido, sorria, procure momentos de prazer em que possa sentir-se bem e nutrir a sua tranquilidade.
Pense no seu bem-estar, priorize-se e organize-se, tenha equilíbrio, distinga o seu espaço de descanso e o espaço de trabalho, não se sobrecarregue, evite culpa ou comparações, mude o foco, respire e viva momentos novos. Seja paciente e respeite-se. Trabalhe em si para não se sentir culpado por não atingir padrões ou resultados de outros. Pratique o desapego profissional. Perceba que o trabalho não é o núcleo da sua identidade. Não descuide as outras áreas da sua vida. Não deixe que o tempo passe por si, sem o viver. Separe o que é bom do que é essencial e perceba que muitas vezes “a única coisa que precisa de fazer é parar e cheirar as rosas, nem tudo precisa de ser feito agora”.
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