
A necessidade de uma presença humana efetiva na vida dos bebés e das crianças, promotora de uma experiência relacional afetiva, constitui uma condição necessária do desenvolvimento humano saudável. As experiências relacionais precoces, caraterizadas pela proximidade física e emocional, têm uma função de suporte do desenvolvimento normativo e de proteção dos fatores de risco ambientais.
Na fase inicial da vida os bebés não têm competência para regular os seus estados emocionais pelo que dependem dos cuidadores para desenvolverem a capacidade de expressar a satisfação e a angústia. Esta necessidade de regulação externa nos bebés faz com que a promoção da (auto)regulação emocional seja um objetivo fundamental das relações precoces entre cuidadores e filhos.
Esta realidade exige que esses adultos tenham a capacidade de compreender e responder adequadamente às necessidades dos bebés. Dito de outro modo, os bebés necessitam de cuidadores responsivos. A forma como os adultos respondem às necessidades dos bebés e o tipo de ligação afetiva formada entre ambos vai definindo um padrão de vinculação.
De um modo geral os cuidadores aprendem rapidamente a ler os sinais emitidos pelo bebé e a assegurar um comportamento capaz de conter a angústia expressa em limites razoáveis. Este comportamento responsivo faz emergir no bebé sentimentos de segurança, auto-controlo do comportamento e capacidade de focar a sua atenção num determinado estímulo. Habitualmente, os padrões de interação entre adulto e bebé vão sendo transformados à medida do desenvolvimento de competências do bebé e, reciprocamente, dos ajustamentos que o adulto vai introduzindo. Os padrões de vinculação definidos neste período vão organizar a capacidade de auto-regulação emocional e comportamental na vida futura.
No segundo ano de vida os bebés aumentam a participação ativa na relação com os adultos. Por exemplo, começam a expressar comportamentos que elicitam respostas específicas aos cuidadores. Esta atividade intencional permite aos bebés o reconhecimento progressivo da sua capacidade para manter a sua regulação emocional e comportamental e a satisfação das suas necessidades. Este reconhecimento permite a formação do sentido básico de individualidade no bebé.
A assunção da individualidade, produto do cuidado responsivo dos adultos e da capacidade de o bebé aproveitar as condições ambientais oferecidas, faz emergir a expressão da auto-estima na sua dupla valência de auto-confiança e expetativa face aos outros. A auto-estima constitui a base da auto-regulação e da motivação para buscar objetivos.
Nos anos seguintes, habitualmente designados de primeira infância, as crianças vão adquirindo auto-controlo, tolerância à frustração e um conjunto de emoções sociais como a vergonha, a culpa ou o orgulho. O papel dos cuidadores deve agora incidir sobre como ajudar as crianças a antecipar e lidar com as situações e a desenvolverem atitudes que permitam recuperar o equilíbrio quando estão em stresse.
Tendo em conta a realidade descrita podemos afirmar que as relações precoces são uma espécie de progenitores dos processos desenvolvimentais patológicos, tanto os que se manifestam de forma mais imediata (infância) como aqueles que apenas ganham expressão em momentos posteriores do ciclo vital (adolescência, adultez). De fato, as relações precoces são marcadores do disfuncionamento e integram o núcleo central dos critérios de disgnóstico de muitas perturbações mentais.
Embora existam diversos modelos sobre as relações precoces e as funções da educação parental é relativamente transversal elegermos a expressão de afetividade e a orientação do comportamento como as categorias principais do comportamento parental. A expressão afetiva, além de efetivar a ligação fundamental do bebé ao mundo humano, promove o sentido de segurança pessoal e facilita a construção dos mecanismos de auto-regulação do comportamento. A orientação do comportamento é representada pelas atitudes de apoio à iniciativa e exploração progressivas do ambiente, à supervisão das condições de segurança em que essa atividade é efetuada, e ao feedback transmitido nas situações bem e mal sucedidas que acontecem na vida dos filhos.
Como está proposto no tema deste artigo, a educação deve ser feita com amor e firmeza. Isso significa que são absolutamente necessárias uma expressão afetiva suficiente e responsiva e uma supervisão comportamental clara e consistente. A existência de uma expressão com baixa disponibilidade afetiva, amor condicional, rejeição, hostilidade, maus tratos físicos e/ou psicológicos contribui para a formação de diversos tipos de perturbações mentais. Do mesmo modo, a falta de uma supervisão firme que estabeleça objetivos e limites claros e promova relações de causalidade entre comportamentos e consequências assim como o excesso de autoritarismo, rigidez e estilo punitivos também contribuem para um desenvolvimento patológico.
A expressão afetiva e a orientação firme do comportamento devem assegurar a capacidade das crianças resolverem as tarefas críticas do desenvolvimento infantil. A primeira dessas tarefas é a formação de uma auto-estima positiva que expressa os sentimentos de segurança na exploração do ambiente. Essa segurança é muito alimentada pela ligação afetiva positiva estabelecida com os adultos que assumem o papel cuidador. Quando a criança não recebe a atenção que necessita aprende que não pode esperar cuidado e proteção e desenvolve uma visão negativa do ambiente. Isso leva-a a reagir com desconfiança, sentimentos de desproteção, medo de abandono e, eventualmente, hostilidade.
A segunda dessas tarefas consiste no desenvolvimento da competência social. Esta tarefa, embora também alimentada pelas relações com os adultos, depende igualmente das relações com os pares que constituem um segundo cuidador na vida humana. As habilidades mais sofisticadas que são necessárias para competir, cooperar, negociar, defender-se, construir regras e normas de conduta, questionar o que é injusto, desenvolvem-se fundamentalmente nas interações com os pares. A existência de comportamentos afetivos negativos no contexto de pares prejudica significativamente o desenvolvimento saudável.
Por exemplo, a rejeição no grupo de pares é significativamente preditiva de problemas de rendimento e abandono escolar, de ansiedade e depressão, de comportamento disruptivo e/ou delinquente, de abuso de substâncias, de suicídio, etc. As crianças rejeitadas pelos pares podem desenvolver incapacidade para estabelecer relações simétricas de colaboração onde a gestão do controlo inclui lidar com níveis significativos de incerteza. Isso pode fazer com que desenvolvam problemas na relação com a autoridade, falta de competência para expressar aceitação ou tendência para expressar rejeição, necessidade excessiva de chamar a atenção sobre si.
A terceira tarefa crítica do desenvolvimento infantil á de aquisição do otimismo aprendido. Quando os esforços da criança lhe permitem alcançar os objetivos e os adultos significativos assinalam esse fato de maneira consistente e adequada, ela desenvolve um sentido de competência e uma motivação intrínseca. Estas valências favorecem a autonomia, a curiosidade, o desejo de aprender, a motivação para a realização e a capacidade de segurança para lidar com as situações difíceis. Quando os adultos mostram crítica excessiva ou rejeição perante os fracassos da criança. Esta não desenvolve autonomia, tem dificuldade em lidar com a incerteza e responde às dificuldades com ansiedade e ineficácia e tende a antecipar resultados negativos.
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