Consideradas como um processo de construção de aprendizagens ou armazém de conhecimentos e experiências, localizado em várias áreas do cérebro humano, as memórias desempenham um papel fundamental na saúde mental, contribuindo para moldar a identidade, regular as emoções e influenciar o comportamento.
Este fenómeno acontece tanto com as chamadas “memórias positivas” (decorrentes de momentos felizes, do alcançar de objetivos, traçar metas e conquistar vitórias, que fortalecem a autoestima e a autoconfiança e proporcionam uma base emocional sólida), quanto com as “memórias negativas” (experiências traumáticas, atos de rejeição e frustrações, entre outros, que geram insegurança, medo, ansiedade e/ou depressão).
O papel fundamental que as memórias têm na saúde mental pode, assim, afetar-nos nas seguintes áreas e de várias formas:
Na formação da identidade: As memórias ajudam a moldar quem somos. Experiências passadas, boas ou menos boas, influenciam as nossas crenças (sobre nós próprios e sobre o mundo à nossa volta), valores e comportamentos, tendo previsivelmente impacto na nossa autoestima e autoconfiança.
Na regulação emocional: Recordar momentos felizes pode elevar o nosso humor e ajudar a lidar com o stress. Por outro lado, lembrar ou reviver memórias traumáticas pode causar ansiedade, depressão e criar outras dificuldades emocionais.
No processo de luto: Memórias de entes queridos que faleceram podem trazer tristeza, mas também podem oferecer conforto e ajudar no processo de luto, permitindo que as pessoas celebrem a vida da pessoa que perderam.
No aumento da resiliência: Lembrar superações passadas pode fortalecer a resiliência e a capacidade de enfrentar desafios futuros. Essas memórias podem servir como “lembretes” de que é possível ultrapassar as dificuldades atuais.
Em situações de trauma e transtorno: Memórias associadas a experiências traumáticas podem desencadear transtornos, como por exemplo a PTSD (perturbação de stress pós-traumático). Essas memórias podem ser intrusivas e causar grande sofrimento emocional.
No tratamento terapêutico: Em contextos terapêuticos, trabalhar com memórias pode ajudar as pessoas a processar experiências passadas e a modificar crenças disfuncionais.
Na interação social: Partilhar memórias com outras pessoas poderá contribuir para fortalecer laços e relações sociais e aumentar o apoio emocional, elemento vital para a saúde mental.
A forma como lidamos com as nossas memórias, ou seja, o nosso “arquivo de memórias”, e o modo como essas memórias são processadas, tem um impacto significativo na nossa saúde mental ao longo da vida.
Partilhar essas memórias com um terapeuta, em grupos de apoio ou com amigos e familiares, pode ajudar-nos a encontrar um significado para a vida, a ter uma melhor adaptação emocional, a produzir sensações de esperança e a reforçar a confiança nas nossas competências. Daí que se considere que as interações sociais são profundamente influenciadas pelas memórias.
Em contexto terapêutico, modelos e técnicas que envolvem o processamento de memórias podem ser bastante eficazes para ajudar os indivíduos a reformular crenças até então disfuncionais, bem como a lidar com os seus traumas.
Vemos assim que a relação entre o “arquivo de memórias” e a saúde mental é complexa, vital e multifacetada, pelo que exige uma abordagem profissional cuidadosa, de modo a promover um equilíbrio emocional saudável e a levar ao bem-estar psicológico.
Proporcionar a regulação emocional é um dos aspetos mais importantes da influência da memória na saúde mental. Aqui estamos capacitados para o ajudar nesse processo. Não hesite em recorrer a nós caso entenda necessário.
Gonçalo Duque Plaza
Psicólogo Clínico