O Verão é, para muitas pessoas, sinónimo de mais leveza, energia e bem-estar. Os dias tornam-se mais longos, a luz mais intensa e o tempo convida ao convívio, ao movimento e ao contacto com a natureza. Mas por que razão tantas pessoas se sentem tão melhor nesta altura do ano? A resposta está, em grande parte, na forma como o cérebro reage à luz solar, à mudança de rotina e à exposição a ambientes naturais, como o mar. A ciência tem vindo a aprofundar este fenómeno, revelando mecanismos biológicos e psicológicos que explicam os efeitos positivos do Verão no humor e na saúde mental.
A luz natural é um dos principais reguladores do ritmo circadiano, o “relógio interno” do nosso organismo. Quando os olhos recebem luz solar, especialmente de manhã, esse sinal é enviado ao cérebro, que coordena processos fisiológicos como o sono, a temperatura corporal e a libertação de hormonas.
Com dias mais longos e maior exposição à luz, há uma diminuição da produção de melatonina (hormona do sono) durante o dia e um aumento da libertação de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, que estão diretamente ligados ao humor, à motivação e à sensação de prazer. Estudos têm demonstrado que a produção de serotonina no cérebro é significativamente mais elevada durante o Verão, o que ajuda a explicar a sensação de maior bem-estar nesta estação.
A serotonina é um neurotransmissor essencial para a regulação do humor, do apetite, do sono e até da ansiedade. A sua produção é estimulada pela exposição à luz solar, e a quantidade disponível no cérebro tende a ser mais elevada nos meses de Verão.
A vitamina D, produzida na pele através da exposição solar, desempenha também um papel importante na saúde mental. Esta vitamina atua em várias áreas do cérebro, incluindo aquelas relacionadas com o humor.
Nesse sentido, durante o Verão, o aumento da exposição solar promove a síntese natural de vitamina D, o que pode representar um contributo adicional para a melhoria do estado emocional.
A proximidade ao mar — ou a outros espaços como rios ou lagos — tem sido associada a níveis mais baixos de stress, ansiedade e sintomas depressivos. Estes ambientes, frequentemente chamados de blue spaces, naturalmente oferecem estímulos visuais e sonoros que promovem o relaxamento e a atenção plena.
Alguns estudos indicam que viver próximo de zonas costeiras está associado a uma melhor saúde mental, especialmente em populações mais vulneráveis. O som rítmico das ondas, a vista do horizonte e a brisa marítima têm efeitos restauradores sobre o sistema nervoso, contribuindo para a regulação emocional e a sensação de calma.
Para além de todos os benefícios já mencionados, o Verão também favorece mudanças comportamentais com impacto direto no bem-estar. Durante esta estação, há uma maior disponibilidade de tempo ao ar livre, um aumento da atividade física e maior frequência de encontros sociais que contribuem à sua maneira para a libertação de substâncias como endorfinas e oxitocina, que fortalecem os laços sociais e promovem emoções positivas.
A prática regular de exercício físico, mesmo de forma leve, está associada à redução da ansiedade e sintomas depressivos, enquanto o contacto social reforça o sentimento de pertença e protecção emocional — fatores fundamentais para a saúde mental.
Concluindo, o Verão oferece-nos condições naturais que favorecem a saúde mental: luz solar abundante, contacto com o mar, convívio social e maior liberdade de movimento. Estes fatores, combinados, promovem alterações neuroquímicas no cérebro — como o aumento da serotonina e da dopamina — que influenciam positivamente o humor e a energia emocional.
Com uma atitude positiva e consciente, é possível aproveitar esta estação como uma oportunidade para restaurar o equilíbrio interno, cultivar emoções positivas e reforçar os laços com o corpo, com os outros e com a natureza.
O verão é mais do que uma estação do ano. É uma vivência sensorial e emocional que desperta em nós uma sensação de leveza, liberdade e presença. Com os dias mais longos e o sol mais intenso, somos naturalmente convidados a sair, a mover o corpo, a conectar-nos com a natureza e, sobretudo, connosco próprios. Mas o que torna realmente esta estação tão impactante para o nosso bem-estar e porque devemos levar o “modo verão” para o resto do ano?
A exposição solar é, talvez, uma das maiores dádivas do verão. A luz do sol estimula diretamente a produção de serotonina, um neurotransmissor crucial na regulação do humor, associado a sensações de calma, prazer e estabilidade emocional. Esta substância ajuda-nos a sentir mais tranquilos, motivados e conectados ao momento presente. Além disso, a radiação ultravioleta favorece a síntese de vitamina D, nutriente que desempenha um papel essencial na prevenção de sintomas depressivos, no equilíbrio hormonal, especialmente na regulação do cortisol, a hormona do stress, e no reforço do sistema imunitário.
Mas a influência do verão não se limita à luz. A proximidade com o mar tem igualmente um efeito transformador. O som das ondas, a vastidão do horizonte e o cheiro a sal criam um ambiente profundamente terapêutico. A ciência tem confirmado aquilo que intuitivamente já sabíamos: estar junto ao mar reduz os níveis de ansiedade, melhora a qualidade do sono, induz uma atenção mais plena e promove sensações de pertença e paz interior. Algumas práticas terapêuticas que recorrem à água do mar, têm mostrado benefícios antioxidantes, anti-inflamatórios e imunomoduladores, aplicáveis em condições que vão desde a dor músculo-esquelética até ao alívio de estados de exaustão emocional.
E não é que até a alimentação muda? O verão altera naturalmente os nossos comportamentos alimentares. O calor convida a refeições mais leves e coloridas, onde frutas, vegetais frescos, sumos naturais e saladas ganham protagonismo. Estes alimentos são ricos em vitaminas do complexo B, ómega-3, magnésio e antioxidantes, os nutrientes indispensáveis ao bom funcionamento do cérebro e que auxiliam a regulação do nosso humor. A alimentação no verão é, assim, mais do que uma escolha sazonal, um lembrete de que o que comemos influencia diretamente a forma como nos sentimos. Estudos demonstram que dietas ricas em alimentos frescos e não processados estão associadas a menores níveis de depressão e ansiedade, reforçando a ideia de que a nutrição é uma via concreta de autocuidado emocional.
O ambiente veranil convida naturalmente ao movimento, não diria que se mexa mais, talvez melhor. Caminhadas junto à praia, mergulhos no mar, prática de ioga ao ar livre e simples corridas ao entardecer tornam-se parte da rotina de muitos. Estas atividades não são apenas benéficas para o corpo, são também uma poderosa ferramenta para a nossa saúde psicológica. O exercício físico está diretamente relacionado com a libertação de endorfinas, substâncias que promovem o bem-estar e reduzem a perceção de dor. Praticado em ambientes naturais, esse movimento físico intensifica-se como ritual de libertação emocional, promovendo autoconfiança, atenção plena e melhor qualidade de sono.
Em última análise, o verão é um modelo de bem-estar integrado: combina luz, natureza, alimentação consciente, movimento e tempo de qualidade. Mostra-nos que cuidar da saúde mental e emocional não requer sempre soluções complexas, muitas vezes, trata-se de regressar ao essencial. Ao integrarmos, ao longo do ano, alguns dos seus princípios, como a exposição à luz natural, o contacto regular com espaços verdes e aquáticos, uma alimentação vibrante e nutritiva, e momentos de pausa com verdadeira presença, estaremos a construir um estilo de vida que pode potenciar uma vida emocionalmente mais equilibrada e sustentável.
Mais do que uma simples pausa do trabalho e da rotina, o verão pode ser compreendido como um convite a reinventar a nossa relação com o tempo, com o corpo e com a mente. Porque, no fundo, o bem-estar é isso mesmo: um estado de presença, conexão e abertura à vida. E talvez o maior ensinamento do verão seja este, que a leveza não é incompatível com a profundidade, e que é possível viver com mais verdade todos os dias, mesmo quando o sol já não brilha com tanta intensidade.
E quando o verão acabar e der lugar a dias mais cinzentos, lembre-se, também há dias assim:
“Há dias em que o Sol, num dia de novembro, nos bate na cara e nos adula com o seu calor, pelo seu calor. Há dias assim, em que o seu toque é reconfortante e carregado de esperança. Existem outros dias em que a sua presença nos confronta com uma perfeição meramente externa. O lado de fora do nosso mundo grita positividade, possibilidades infinitas e uma confiança desconcertante, e nós sem o conseguirmos ouvir, abafado pela densidade do escuro e pela nebulosidade dos nossos pensamentos. Acredita, o Sol está lá, encontra-se apenas eclipsado pelos receios, medos, ansiedades e expectativas corroídas pelo tempo.
Mesmo que assim seja, encara o Sol de frente, permitindo que te ofusque ao ponto de quando fechares os olhos ainda o consigas ver. Segue-o! Por mais difícil que seja, o que tens a perder se não o fizeres? O que tens a ganhar se o fizeres? O escuro, o sossego e o isolamento têm o seu objetivo e a sua função, não deixes é que se torne na tua nova realidade. Reconhece a dor, o silêncio, o sofrimento e os momentos de auto indulgência pelo que são. Estados momentâneos de micro lesões da nossa psique para que possas, um dia, cicatrizar, crescer e construir sobre as fissuras da tua história (real ou imaginada).
E, se por algum motivo não conseguires ver o Sol, olha em volta, certamente há outros também à sua procura. Junta-te a eles e procurem juntos. Dessa forma, dás espaço e tempo para que o nevoeiro se dissipe através do sentimento de guiar, ser acompanhado pelo outro, sais de ti pelo outro e com o outro. Seria melhor fazê-lo por ti? Seria, mas seria preciso que te reconhecesses e que soubesses o que realmente precisas para voltar a ver, seja lá o que isso for… Porque no fundo tudo é melhor do que continuar a viver numa realidade em que não te vês e não reconheces ninguém ao teu redor.
Deixa que a partilha te transforme sem que dês conta. Para que no fim, os raios do Sol sejam apenas o embrulho, a cereja no topo do bolo, a chave mestra da tua reconciliação contigo e com o mundo. Darás por ti a observar a chuva quente de uma tarde de Agosto e voltarás a ver a beleza da terra molhada, o calor do Sol passará a ser uma constante na tua vida, voltará a ser reconfortante, porque também há dias assim.”
Afonso Mesquita
Psicólogo Clínico
A pornografia tem-se tornado um tema cada vez mais presente no debate sobre a sexualidade contemporânea. Longe do seu significado etimológico original, relacionado com a representação da prostituição, ocupa hoje um papel significativo nas dinâmicas afetivas e sexuais dos casais.
Este artigo visa explorar os efeitos da pornografia nas relações conjugais, considerando tanto os seus potenciais benefícios quanto os desafios que pode suscitar.
No contexto dos casais heterossexuais normativos, a pornografia pode servir como ferramenta de psicoeducação sexual, usada para fomentar o diálogo, a cumplicidade e a exploração de novas formas de intimidade. Quando consumida em conjunto, pode enriquecer a experiência sexual do casal. No entanto, o consumo solitário e compulsivo pode gerar insatisfação, sentimentos de inadequação e conflito, sobretudo quando cria expectativas irrealistas que contrastam com a realidade da relação.
Embora os estudos sobre o impacto da pornografia em casais LGBTQI+ ainda sejam recentes, são reconhecidas formas distintas de consumir pornografia e opiniões diversas sobre o seu papel na relação. Não obstante, é essencial que mais pesquisas sejam feitas.
Antes de passarmos aos relacionamentos convém explorar as consequências psicológicas e sexuais que a pornografia provoca individualmente.
Predominantemente consumida por homens, a pornografia reflete e reforça normas socioculturais de género, frequentemente retratando uma masculinidade dominante e uma mulher objetificada. Tais representações contribuem para uma visão distorcida da sexualidade, afetando a satisfação conjugal e a vivência do prazer no feminino. Este fenómeno pode levar a que os mais jovens consumidores aprendam ideias de sexo misóginas, nada realistas e respeitadoras das mulheres.
A exposição frequente à pornografia tem sido associada a disfunções sexuais, tais como, a redução do desejo e da satisfação sexual, mas também, o aumento da disfunção erétil, especialmente entre os jovens. O consumo excessivo pode alterar a perceção do corpo e da identidade sexual, gerar sentimentos de vergonha, influenciar negativamente a autoestima e dificultar vínculos afetivos.
Nos relacionamentos onde essas expectativas não são atendidas, o relacionamento pode sofrer.
“A satisfação sexual será menor quando qualquer um dos parceiros usa pornografia, uma vez que o nível real de recompensas sexuais no casamento pode não se comparar favoravelmente ao nível esperado de recompensas sexuais obtidas por meio de imagens pornográficas.” 1
Por não corresponder às expectativas dos parceiros, muitas mulheres sentem-se mal, tendendo a existir, segundo os estudos realizados, uma causa reversa com a infelicidade conjugal.
A insatisfação sexual feminina está frequentemente ligada à dificuldade em comunicar desejos e necessidades, muitas vezes por medo de rejeição e julgamento, o que leva à simulação do prazer. Essa dinâmica pode afetar negativamente a autoestima da mulher, reduzir o desejo sexual e comprometer a satisfação conjugal.
Estudos apontam uma relação recíproca entre essa insatisfação e a infelicidade no relacionamento. Apesar das discussões em torno do consumo de pornografia não há consenso sobre o seu impacto direto nesse contexto. Nem todo o uso indica dependência.
Intimidade, Desejo e Satisfação Conjugal
Vamos então tentar perceber: o que sustenta o desejo e porquê é tão difícil por vezes mantê-lo dentro de uma relação?
É no coração da manutenção do desejo numa relação de compromisso que está a reconciliação de duas necessidades humanas fundamentais:
Por um lado, a necessidade de segurança, de previsibilidade, de estabilidade, de dependência, de confiança…todas estas experiências que nos ancoram e nos alicerçam.
Por outro, todos nós homens e mulheres também temos necessidade de aventura, de novidade, de mistério, de risco, de perigo, do desconhecido, do inesperado, do surpreendente…como costumo dizer em consulta “que nos põe a caldeira a trabalhar”.
Reconciliar as nossas necessidades de estabilidade com as nossas necessidades de aventura no relacionamento ou aquilo a que chamamos de casamento apaixonado costuma ser uma contradição de termos.
É ela que transforma o ato sexual em erotismo, uma expressão poética e criativa. O erotismo é uma forma de inteligência cultivada, que envolve imaginação, curiosidade, mistério, novidade e diversão. Revela uma tensão fundamental entre amor e desejo. No amor, buscamos proximidade, segurança e intimidade — queremos conhecer profundamente o outro e eliminar distâncias.
Já o desejo exige espaço, mistério e autonomia. Este alimenta-se do desconhecido e da diversidade. Para que o desejo persista dentro da familiaridade do amor, é preciso manter uma distância simbólica, onde o outro possa ser visto como autônomo, confiante e enigmático. Assim como o fogo precisa de ar, o desejo precisa de espaço. É nesse espaço entre o outro e eu que reside o desejo erótico.
Sexo não é algo que se faz. Sexo é um lugar onde se vai.
É um espaço em que eu entro dentro de mim mesmo e com o outro.
Não é apenas um comportamento, mas também uma linguagem.
Superação e Caminhos Possíveis
Superar os impactos negativos do uso da pornografia exige motivação interna, reflexão pessoal e comunicação empática com o parceiro. O acompanhamento terapêutico pode ser decisivo para restabelecer a intimidade e reconstruir relações afetivas.
Entender a sexualidade como um espaço de experiência compartilhada, e não apenas como um ato, é essencial para promover relações mais saudáveis e satisfatórias.
A chave está na consciência, no diálogo e no respeito mútuo dentro das relações. O desafio é olhar para a sexualidade com novos olhos, cultivando a intimidade, o erotismo e a autenticidade.
Referências Bibliográficas:
1 Yucel, D., & Gassanov, M. A. (2010). Exploring actor and partner correlates of sexual satisfaction among married couples. Social Science Research, 39(5), 725–738.
Bergner, R. M., & Bridges, A. J. (2002). The significance of heavy pornography involvement for romantic partners: Research and clinical implications. Journal of Sex & Marital Therapy, 28(3), 193–206.
Bridges, A. J., Wosnitzer, R., Scharrer, E., Sun, C., & Liberman, R. (2010). Aggression and sexual behavior in best-selling pornography videos: A content analysis update. Violence Against Women, 16(10), 1065–1085.
Maria, C. (2023). Relação entre a cyberpornografia, a satisfação com os relacionamentos amorosos e a satisfação sexual numa amostra de adultos portugueses [Monografia de licenciatura, Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais, Braga].
Maddox, A. M., Rhoades, G. K., & Markman, H. J. (2011). Viewing sexually-explicit materials alone or together: Associations with relationship quality. Archives of Sexual Behavior, 40(2), 441–448.
Young, K. S. (2001). Tangled in the Web: Understanding cybersex from fantasy to addiction. Bloomington, IN: AuthorHouse.
Young, K. S. (2008). Internet sex addiction: Risk factors, stages of development, and treatment. American Behavioral Scientist, 52(1), 21–37.
Vivemos numa era onde a evolução tecnológica e societal nos proporciona velocidade e respostas instantâneas em praticamente todas as áreas da vida- comunicação, entretenimento, consumo. A facilidade com que acedemos a experiências rápidas e intensas promove uma cultura centrada na gratificação imediata, frequentemente usada como forma de escapar ao tédio, ao stress ou ao desconforto emocional.
Este padrão de consumo imediato tem implicações significativas no nosso cérebro, particularmente no córtex pré-frontal- a região responsável por funções executivas como o autocontrolo, a tomada de decisão, o planeamento e a regulação emocional. A exposição excessiva a estímulos de prazer fácil como a pornografia, leva a uma redução de atividade nesta área cerebral e enfraquece a sua conexão com o sistema límbico, responsável pelas emoções, resultando num maior desequilíbrio entre a emoção e a razão e numa menor capacidade de resistir a impulsos.
Este fenómeno, cada vez mais recorrente, tem sérias implicações no nosso dia a dia. Ao nível relacional, por exemplo, observa-se uma crescente intolerância ao desconforto e ao confronto. À medida que nos habituamos a fontes de prazer instantâneo, tornamo-nos menos disponíveis para enfrentar as dificuldades e exigências emocionais das relações reais — o que pode levar à desistência precoce dos vínculos afetivos.
Neste contexto, a pornografia adquire uma função aparentemente benéfica: oferece prazer sem frustração e satisfação sem esforço. Para muitos é o refúgio perfeito para quem quer evitar as “partes difíceis” das relações humanas como a intimidade emocional, o compromisso e o confronto com o outro.
A resposta é SIM! O cérebro adapta-se aos estímulos que aparecem com frequência. No caso da pornografia, reforça-se o sistema de recompensas, responsável pela libertação de dopamina, o neurotransmissor associado ao prazer e à motivação. Com o uso contínuo, o cérebro habitua-se a este pico de prazer artificial, passando a exigir estímulos cada vez mais intensos para atingir o mesmo nível de satisfação.
Perante este comportamento repetido é comum que o cérebro comece a criar novas redes neuronais. Quando o consumo da pornografia é excessivo pode dar origem à sensibilização– perante um estímulo ou sinal (visual, mental, auditivo, emocional) o cérebro reage fortemente, criando uma forte sensação de desejo. Com o córtex pré-frontal enfraquecido, esta ativação é difícil de controlar, resultando em comportamentos compulsivos. Posteriormente pode ocorrer a dessensibilização, isto é, à medida que a pessoa vai respondendo a este comportamento compulsivo originado pela sensibilização e ao aumento de dopamina, ele adapta-se a esta sensação e deixa de ter o impacto e a intensidade que costumava ter, tornando este consumo menos prazeroso. Isto pode levar a uma procura por estímulos mais intensos, extremos e/ou extravagantes, numa tentativa de recuperar a excitação inicial, agravando o ciclo de dependência.
Este padrão de consumo compulsivo pode ser considerado um comportamento viciante, com impacto direto na autoestima, na vida sexual, na saúde mental e nas relações interpessoais.
A boa notícia é que o cérebro possui uma notável capacidade de regeneração. Com a redução ou cessação do consumo de pornografia, é possível reverter as alterações neurológicas negativas. A neuroplasticidade permite que o sistema de recompensas recupere a sensibilidade ao prazer natural e que o córtex pré-frontal recupere o papel de regulação emocional e de controlo de impulsos.
Existem algumas estratégias práticas que podem acelerar este processo:
Práticas como o “detox de dopamina” — que consiste em limitar temporariamente o acesso a estímulos artificiais como pornografia, redes sociais ou videojogos — podem ajudar o cérebro a readquirir sensibilidade aos prazeres simples e reais, como o convívio humano, a natureza, a leitura ou a atividade física.
Rotinas/ hábitos saudáveis – hábitos estruturados, como exercício físico regular, sono de qualidade e alimentação equilibrada, promove a libertação natural de dopamina de forma saudável e sustentada.
Técnicas de relaxamento – técnicas como o mindfulness e a meditação ajudam a fortalecer o córtex pré-frontal, melhorando o autocontrolo.
Apoio terapêutico – o acompanhamento psicológico pode ser crucial para identificar gatilhos emocionais, desenvolver estratégias de gestão emocional e restaurar o equilíbrio do cérebro.
Com tempo, consistência e apoio adequado, é possível restabelecer uma relação saudável com o prazer e recuperar o controlo sobre os próprios impulsos. O caminho pode não ser imediato, mas é profundamente transformador — e acessível a todos os que estiverem dispostos a percorrê-lo.
Se reconheces em ti alguns destes padrões ou sentes que o consumo da pornografia está a interferir no teu bem-estar, nos teus relacionamentos ou na tua vida emocional, não precisas de enfrentar isso sozinho/a.
Procurar ajuda é um ato de coragem, maturidade e autocuidado. O acompanhamento terapêutico pode ser fundamental para compreender o que está na origem do comportamento, trabalhar emoções subjacentes e construir estratégias eficazes para recuperar o equilíbrio e a liberdade emocional. O caminho da mudança começa com um passo — e esse passo pode ser pedir ajuda. Pode começar já hoje, com a marcação de uma consulta um membro da nossa equipa Learn2Be!
O consumo de pornografia tem crescido. Em 2019, um dos maiores sites pornográficos do mundo, o Pornhub, registou 42 mil milhões de visitas. É expectável que este crescimento tenda a manter-se. Em Portugal, o consumo de pornografia é uma realidade. Estatísticas (do site Pornhub) mostram que, em 2018, Portugal ocupou a 39ª posição no ranking mundial, sendo 29% dos visitantes mulheres.1
Falemos de sexo: no sentido puramente biológico, o sexo é uma força poderosa que pretende assegurar a continuidade da espécie. Tal como outras recompensas, o desejo sexual é orientado pela libertação de dopamina no cérebro, um neurotransmissor excitatório associado à sensação de bem-estar. A dopamina “toca” diversas áreas do cérebro, e quando este processo se encontra em equilíbrio, o desejo – que conduz à obtenção de prazer – motiva-nos para a realização de comportamentos saudáveis que contribuem para a nossa sobrevivência, enquanto espécie, e para a nossa realização pessoal, enquanto indivíduos.
Até aqui tudo bem. O problema começa quando desenvolvemos comportamentos que se tornam prejudiciais ao nosso organismo e, por consequência, acabam por afetar o nosso bem-estar geral.
Para melhor compreender do que estamos a falar, uma breve explicação sobre os processos fisiológicos que ocorrem no cérebro: o cérebro humano está programado para incentivar comportamentos que contribuem para a nossa sobrevivência. Um dos sistemas internos de que dispomos, o sistema dopaminérgico, recompensa os comportamentos de ingestão de alimentos, e os relacionados com a sexualidade, com a libertação (no cérebro) de substâncias que transmitem sensações poderosas de prazer e bem-estar.
Cocaína, álcool, opioides e outras drogas danificam esse sistema de recompensa de prazer e bem-estar, “levando” o cérebro a pensar que o estado de êxtase provocado por aquelas drogas é igualmente necessário, à semelhança dos alimentos, para a nossa sobrevivência – o estado de êxtase, e o prazer que liberta, torna-se o “novo normal”. A investigação realizada sobre estes temas mostra que as recompensas naturais, derivadas da alimentação e da sexualidade, afetam os sistemas de recompensa do cérebro da mesma forma que as drogas e o álcool, podendo, quando em excesso, transformar aqueles comportamentos (alimentação e sexo) em adições.
Num estado de adição, a busca natural de prazer deixa de ser fonte de motivação (de comportamentos que buscam a satisfação desse prazer), mas passam a dominar e controlar grande parte do nosso tempo de vigília. No que diz respeito ao consumo de pornografia – o nosso tema –, a necessidade de masturbação, por exemplo, pode assumir proporções tais que a sua não consumação provocará um desconforto crescente que, com a repetição da exposição, acabará por orientar a pessoa para a realização de comportamentos que satisfazem a adição (mas que são prejudiciais à saúde), provocando um alívio daquilo que era uma tensão quase insuportável, alívio este que será, contudo, meramente temporário, dada a contínua necessidade fisiológica de recompensa.
Comecemos por esta última questão: Antes de mais, a pessoa que se encontra na situação (de adição) tem de ser compreensiva consigo própria e entender os mecanismos fisiológicos que estão na base deste comportamento. Em paralelo, e à semelhança de outras adições, o esforço de saída passa pela adoção de estratégias, cuja implementação vai implicar esforço e trazer, seguramente, um desconforto inicial, pelo que é crucial não desistir.
Destaco algumas dessas estratégias:
Sobre a outra questão: ao falar-se de exposição à pornografia, estaremos sempre a falar de adição? A resposta é, naturalmente, não: quando a exposição é feita de forma moderada (lembrar que a adição pode revestir-se de períodos de não-consumo, ou consumo moderado, seguidos de períodos de consumo intenso e descontrolado), pode realmente trazer benefícios:
Se sente necessidade de explorar algumas das questões aqui abordadas com apoio profissional, eu e os restantes elementos da equipa Learn2Be estamos disponíveis.
Gonçalo Duque Plaza
Psicólogo Clínico | Terapeuta EMDR
1 Castro, R., & Lins, S., 2020. Género, Significados e Consumo de Pornografia em Portugal: Um Estudo Misto. Investigação Qualitativa em Saúde: Avanços e Desafios, 3, 162-174.
Dizem que havia um jovem muito belo, por quem as jovens gregas e as ninfas se apaixonavam perdidamente. Chamava-se Narciso. Era belo, mas muito arrogante, vaidoso e desprezava os sentimentos das jovens. Um dia, segundo o mito, Narciso aproximou-se de um lago e apaixonou-se profundamente pela sua própria imagem refletida na água. A paixão por si próprio, foi explicada por alguns estudiosos, como um castigo divino. O amor inatingível que conduz o jovem Narciso à morte. Narciso ficou preso à contemplação do seu próprio reflexo e assim morreu.
De acordo com a ciência psicológica, o mito de Narciso não se prende à paixão pelo seu próprio reflexo, mas sim ao facto do jovem não se reconhecer nele. (Pinsky e Young, 2009, in Antunes, 2017). Por outras palavras, os indivíduos narcísicos não são autoconscientes, são dissociados do seu verdadeiro self, sentem-se assombrados por sentimentos de solidão, vazio e procuram incansavelmente admiração, afeto e reconhecimento dos outros. Os narcísicos procuram a vida inteira um reflexo gratificante como forma de apaziguar o crónico sentimento de vazio.
Às vezes ficamos tristes, e claro, não é por isso que temos depressão. Da mesma forma, também não é por andarmos mais distraídos ou perdermos objetos que temos TDAH. Ora, também não é porque às vezes sentimo-nos mais ansiosos que temos ansiedade patológica, logo, não temos necessariamente Perturbação da personalidade Narcísica só porque por vezes somos mais vaidosos, ou menos interessados no outro. A questão primordial é o padrão. Para além do número de características amplamente descritas que descrevem esta perturbação, é fundamental que seja um padrão presente na vida da pessoa. Para alguns autores, a diferença entre alguém com algumas caraterísticas narcisistas (sem padrão) e o transtorno propriamente dito de personalidade narcísica centra-se sobretudo na capacidade de olhar o mundo na perspetiva do outro, e não ficar preso no seu próprio mundo, a capacidade de notar e sentir o outro. De uma forma suficientemente razoável, a pessoa consegue várias vezes, perceber o impacto das suas ações nos outros e procura não repetir o erro.
De seguida, vamos olhar para as caraterísticas presentes em pessoas com esta perturbação. Não são caraterísticas simpáticas de facto, mas são reais, e de forma expressa ou subtil, são elas que tornam tão impactante a vida das pessoas que convivem com estes sujeitos. Não podemos afirmar que a Perturbação clínica da personalidade narcísica é comum, porque felizmente não é assim, contudo, esta questão do narcisismo tem facetas subtis e quase aceites na sociedade nos dias de hoje (narcisismo não clínico). Em bom rigor, é importante olhar para estas caraterísticas como a antítese do que é a bela natureza humana.
Revelar comportamentos narcisistas pontuais pode significar que a pessoa tem traços na sua conduta e personalidade, mas não chega para atribuir um diagnóstico de Perturbação Personalidade Narcísica. Para esta, o comportamento faz parte de um padrão que se mantém ao longo do tempo. É necessário estar muito atento se existe este padrão, se realmente é sempre assim ou se foi assim uma vez ou outra. De facto, se não estiver perante uma perturbação da personalidade, é como se a pessoa se conseguisse colocar em causa após ter determinado comportamento e genuinamente pedir perdão e não repetir (ou esforçar-se para) o erro. A pessoa com perturbação Personalidade Narcísica, não se coloca em causa e a reação à crítica vem sempre em modo de raiva descontrolada ou em tentativas de sedução (manipulação) para voltar a ter o controlo na relação, sendo certo que tudo voltará a ser como antes.
Para compreendermos a origem desta perturbação, podemos olhar ao que vários autores concluíram nos seus estudos. Por exemplo, Freud centrou-se no narcisismo como sendo uma forma de sexualidade infantil que era necessária ao desenvolvimento, construído entre o autoerotismo e o amor objetal, onde o Eu se torna o objeto do investimento libidinal, narcisismo primário. A posição descrita por Freud é que o bebé é tratado como um rei na família, resultado da projeção dos pais para os filhos, em que o efeito da linguagem e comportamentos dos pais indicam a troca da consciência crítica para a imagem idealizada. Esta projeção é vivenciada pelo bebé e forma o ego ideal (Wittels, et al 1994). Assim se dá início à entrada primária do narcisismo, que é a forma mais primitiva do Eu, onde a criança obtém prazer em si mesma, sente-se ideal para a figura que cuida de si. Porém, a relação dual (mãe-bebé) é, a dado momento, suspensa pela relação edípica. Esta relação edípica está relacionada com a entrada do pai na relação, que rompe a completude vivenciada pela criança, o que deixa de ser perfeita com a mãe, que, segundo Freud (1992), está associada à primeira ferida narcísica do ser humano. Com isto, a criança depara-se com a sua incompletude, onde se vê confrontada com o ideal que não é o dela, o ego já não é igual ao ideal, e com o qual se compara, isto é, o ego passa a ter ideias (Braconnier, 2000; Macedo, 2005).
Após esta adaptação e reconstrução psíquica, o investimento libidinal deixa de ser feito em si para ser feito no objeto, contudo há uma parte da carga libidinal que se mantém no Ego, contribuindo para o estabelecimento da autoestima (Freud, 1992; Wittels, et al, 1994). Assim sendo, esta é a nova forma de investimento reforçada pelas pulsões de autoconservação, que tem como objetivo agradar e reconquistar o amor e atenção do outro para obter novamente as satisfações da perfeição narcísica, comportamento e pensamento estes associados ao narcisismo (Braconnier, 2000; Holmes, 2001).
Para existir uma estabilidade psicológica é necessário que haja uma capacidade de se formar uma relação de apego segura em idade prematura, a fim de se obter uma base segura externa da realidade e uma base segura interna de si. Esta relação permitirá um desenvolvimento saudável do narcisismo, na forma como o outro é visto, estando presente para garantir a segurança e o conforto, porém, poderá surgir uma rutura ou falta destes relacionamentos (falha na relação), o que vai levar a consequências nos fenómenos narcísicos, onde o sujeito usa-se a si para ser a sua base de segurança (Holmes, 2001). As exteriorizações da perturbação da personalidade narcisista advêm de uma tensão (conflito) criada de fatores externos e internos, que se manifestam em carências narcísicas ao nível da identificação, autorreconhecimento e da autoestima (Fuks, 2003).
A perda ou afastamento de uma das figuras de vínculo, em idades precoces, pode constituir num trauma que põe em causa a autoestima e o funcionamento psíquico, especialmente quando não existem figuras de vínculo que substituam esta perda. Por outro lado, a aproximação excessiva está relacionada com a total satisfação das necessidades narcísicas, isto é, não há abertura a espaço de frustrações que potenciam o desenvolvimento e que garantam uma ligação com a realidade, o que leva mais tarde à ausência da existência de competências contra as contrariedades de situações que minimizem o sentimento de poder e domínio do sujeito, canalizando para falta de controlo e agressividade ou para isolamento ou fuga. Estes dois caminhos levam a que a pessoa de certa forma crie estratégias defensivas para lidar com angústia de perda de identidade sentida.
Estes pontos de vista ajudam a entender o modo de funcionamento dos sujeitos narcísicos. Quando se deparam com o sucesso alheio, os seus comportamentos perante o outro que tem sucesso são de destruição, raiva ou de silêncio profundo para que o sucesso caia em esquecimento, não destrói, mas também não valoriza (Fuks, 2003).
Resumindo, fatores genéticos e ambientais podem contribuir para o desenvolvimento do transtorno de personalidade narcisista. Os cuidadores podem ter sido excessivamente críticos, frios, distantes ou elogiaram excessivamente a criança sem permitir o erro como forma de aprendizagem e autonomia. Cuidadores extremamente ausentes ou excessivamente protetores.
É interessante diferenciar o egoísmo do narcisismo. Para os sujeitos egoístas o mundo exterior é bastante importante e há propensão para tirar proveito dos objetos, ao passo que o narcisista não valoriza o exterior nem os objetos, mas sim vive única exclusivamente para si (Wittles et al, 1994). O narcisista considera-se como sendo o mundo exterior, as suas relações com os pares, os seus companheiros, são tratados como objetos, servem para sustento da sua autoestima. O narcisista mantém contato com o mundo exterior para satisfazer o reflexo da sua imagem e vangloriar-se (Casey & Kelly, 2007).
Imagine-se um cenário possível, para melhor compreender esta diferenciação. Um egoísta não partilha (ou tem manifesta dificuldade em fazê-lo) uma mesa cheia de comida com os outros; já um narcisista pode oferecer um banquete com o objetivo de se sentir admirado por todos.
Ao nível sintomatológico, um narcisista manifesta-se através de sentimentos de grandeza, egocentrismo extremo, ausência de relações empáticas, inveja, incompreensão e de desprezo pelos seus próprios sentimentos de tristeza e de luto. Perante a perda, abandono ou rejeição apresenta sentimentos de raiva, desejo de vingança e não de tristeza (Silva, 2003). E como já referido, tudo faz parte de um padrão de personalidade que perdura no tempo. A pessoa não consegue não ser assim, é um modo de funcionamento.
Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, DSM 5 (2014), o diagnóstico da Perturbação de Personalidade Narcisista obedece a “Um padrão de grandiosidade (em fantasia ou comportamento), necessidade de admiração e falta de empatia que surge (consagra-se), diria) no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco ou mais sintomas dos seguintes: 1- Tem a sensação grandiosa da própria importância (p. ex. exagera conquistas e talentos, espera ser reconhecido como superior sem que tenha as conquistas correspondentes). 2- É preocupado com fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza ou amor ideal. 3- Acredita ser “especial” e único e que pode ser somente compreendido por, ou associado a outras pessoas (ou instituições) especiais ou de condição elevada. 4- Demanda admiração excessiva. 5- Apresenta um sentimento de possuir direitos (p. ex. expetativas irracionais de tratamento especialmente de acordo com as próprias expetativas). 6- É explorador em relações interpessoais (p. ex. tira vantagem de outros para atingir os próprios fins). 7- Carece de empatia, reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e as necessidades dos outros. 8- É frequentemente invejoso em relação aos outros ou acredita que os outros o invejam. 9- Demostra comportamentos ou atitudes arrogantes e insolentes.”
Frequentemente confunde-se também narcisismo com autoestima. O narcisismo patológico não tem em excesso amor-próprio, mas sim a sua falta crónica, conduzindo a pessoa a executar esforços insaciáveis para atenuar essa falta através de admiração externa (Deretti, 2006).
No narcisismo existe uma ambivalência, a pessoa considera-se demasiado importante e nas ocasiões em que a realidade não lhe traz provas disso, aparece o sentimento de não ser nada, este facto motiva a necessidade de constantes confirmações daquilo que idealiza sobre (Vaz, 2006).
Os sujeitos narcísicos manifestam uma fortíssima intolerância às críticas. Quando aliado a um perfeccionismo, esforçam-se muito para cumprir com as suas tarefas ao limite do perfeito. Sentimentos de vergonha, humilhação e autocrítica podem estar ligadas com o retraimento social, ao humor depressivo e a perturbações depressivas persistentes ou a perturbação depressiva major. Por outro lado, existe também associação com o humor hipomaníaco, este quando existe é sustentado de grandiosidade. A Perturbação de Personalidade Narcisista convive muitas vezes com outros problemas, tais como a anorexia nervosa e perturbações por uso de substâncias, perturbações da personalidade histriónica, borderline, antissocial e paranoide.
A psicoterapia pode ser um tratamento eficaz, caso a pessoa concorde em fazê-la. Há uma enorme resistência e descrença por parte de uma pessoa com Perturbação Narcisista. O objetivo terapêutico foca-se no desenvolvimento emocional da pessoa que ficou num self muito primitivo (Kohut).
A psicoterapia pode ajudar a identificar mecanismos de defesa, ensinar a ser, pensar a dois pode ser um caminho eficaz para que esta pessoa desenvolva forma de ser, estar, sentir e pensar. Independentemente das técnicas e abordagens usadas, os pacientes narcísicos são considerados extremamente difíceis de tratar, precisamente devido às características próprias desta perturbação, rejeição do diagnóstico, vergonha, culpa, ausência de empatia o que dificulta a relação terapêutica e sensação de falta de controlo na situação. Momentos de lucidez em que também se defrontam com o seu próprio sofrimento pode ajudar na iniciativa de fazer um tratamento.
Gostaria de terminar com um olhar sobre o narcisismo não clínico, camuflado (ou nem tanto) na sociedade atualmente.
Na Cultura do Narcisismo (1979) Christopher Lasch, faz uma análise crítica da sociedade contemporânea, concentrando-se em como o narcisismo se tornou uma característica dominante na cultura moderna na época. Na era da televisão e dos media, já descrevia uma sociedade de pessoas excessivamente preocupadas consigo mesmas numa busca constante pela validação externa. Ora, hoje em pleno ano 2025, todos nós conseguimos perceber o alcance visionário que este autor teve na leitura da realidade.
Por exemplo, crianças que sentem que nunca conseguem corresponder aos desejos frenéticos de sucesso dos pais podem tornar-se adultos com um ego frágil e ficarem presos a pensamentos e comportamentos narcisistas de forma a suster o ego.
Temos de voltar a ensinar às crianças e adultos, que não temos de ser os melhores, mas apenas o melhor que podemos ser!
O narcisismo não clínico e camuflado é prejudicial para a sociedade. Não é facilmente identificado e não se traduz em disfuncionalidade. Mas não deixa de ser destrutivo, até porque consegue levar ao limite as pessoas que vivem ou trabalham com sujeitos assim. Não é fácil estar perto de pessoas que mentem, inferiorizam, humilham. Impõem que o mérito do que é bom lhes pertence, sempre. Culpam os outros pela responsabilidade daquilo que pior fizeram.
Pessoas narcisistas podem não apenas tornar a convivência diária difícil, como também tentar interferir na vida de terceiros o tempo todo.
Pais ou mães, por exemplo, desejam controlar a vida dos filhos na tentativa de viver através deles. Colegas de trabalho querem colocar outros profissionais para baixo para tentarem se destacar no ambiente de trabalho ou, ainda, sabotá-los. Cônjuges ignoram os sentimentos do parceiro e preocupam-se apenas com as suas próprias necessidades emocionais, e muitos outros exemplos cujas histórias de vida nos são relatadas todos os dias.
Na Learn2be queremos contribuir para ajudar quem sofre com esta perturbação, sejam os próprios, sejam as pessoas que acabam por ser vítimas de pessoas narcisistas, mas também queremos contribuir para uma sociedade mais humana, empática e feliz.
Obrigada. Até breve!
Ana Afonso Guerreiro
Psicóloga Clínica
É possível sentir compaixão por alguém que nos magoa profundamente? Podemos entender o narcisismo não apenas como maldade, mas como uma ferida disfarçada de grandiosidade?
Todos os dias, o termo narcisista é usado de forma generalizada – para ex-namorados/as egoístas, chefes exigentes ou pessoas que simplesmente colocam-se em primeiro lugar. Mas o verdadeiro Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN) não é sobre egoísmo comum. É sobre uma dor, que se transforma em defesa.
Gostaria de esclarecer que nem toda a grandiosidade é patológica. Quando falamos de narcisismo clínico, estamos a falar de uma criança que, em algum momento, aprendeu que não era seguro ser vulnerável. É uma adaptação à dor, muitas vezes moldada na infância por pais emocionalmente indisponíveis (que alternavam entre negligência e excesso de crítica), ou com um amor era condicional (“só amo quando cumpre com as minhas expetativas”) ou com dinâmicas igualmente de abuso e humilhação. A criança aprendeu que só sobreviveria se se tornasse grande o suficiente para nunca mais ser ignorada, rejeitada ou humilhada. Ela cria esta máscara da grandiosidade. A verdade é que do outro lado de um comportamento narcísico abusivo, há quase sempre uma criança ferida que nunca aprendeu a amar de forma saudável.
Esta criança não desenvolveu um eu saudável. Ao contrário, criou uma persona grandiosa – uma fortaleza emocional para esconder a vergonha de nunca se sentir verdadeiramente amada.
O/A narcisista adulto não é um monstro. É uma criança assustada, presa num corpo de adulto, a repetir o mesmo mecanismo de sobrevivência: “Se eu controlar, não serei ferido. Se eu desvalorizar os outros, nunca serei aquela criança outra vez.”
Entender a dor por trás do narcisismo não significa permitir o abuso e não justifica os comportamentos de desrespeito, mas ajuda-nos a vê-los para além da máscara, com COMPAIXÃO e como o que realmente são: um mecanismo de defesa eventualmente falhado, construído sobre a dor.
Ao entender o comportamento é possível tornar percetivel e consciente algumas verdades que são muitas vezes dificeis de compreender para quem ainda está num relacionamento abusivo com alguém com este tipo de personalidade:
O caminho será sim, o de iniciar o processo de libertação. A libertação desta dinâmica não é apenas um ato de sobrevivência – é um renascimento. Quando escolhe sair, não está apenas a afastar-se de um relacionamento tóxico, está a reconectar-se com a sua própria humanidade, a resgatar a voz que foi silenciada e a honrar a criança interior que ainda acredita no amor sem condições. O amor próprio, nestas situações, não é egoísmo – é autopreservação.
Sair de um relacionamento narcisista não é um fracasso, é um ato de coragem emocional. Optar por “Amar” de longe, sem culpa, sentindo a compaixão necessária para reconhecer que a dor do outro não é sua (não é terapeuta, nem responsável pela vida dele/dela). Entender que relacionamentos saudáveis exigem reciprocidade e que alguém que não reconhece a sua humanidade e que não consegue olhar para além de si… nunca poderá amar. O primeiro passo é o mais dificil, mas é igualmente o mais determinante.
Cada passo que dá em direção a si mesmo/a é uma revolução silenciosa contra a ideia de que merece “migalhas de afeto”. Porque o maior ato de compaixão que pode ter por alguém que não sabe amar de uma forma saudável é recusar-se a ensinar-lhe, à custa da sua própria alma.
Foque-se na sua reconstrução, honrando as escolhas que fez no seu passado, olhando para aquilo que o levou a aceitar e a permanecer nesta relação e curando também essas suas feridas emocionais. A tarefa não é mudar o/a narcisista. É libertar-se do que o/a prende a ele/a.
O/A narcisista pode nunca ter tido o amor que precisava e por isso viver numa prisão emocional. Mas agora, pode escolher ser diferente dele/dela e acreditar que merece esse amor, um amor saudável e recíproco. Um amor que soma, que faz crescer, que acredita, não um amor que diminui, que reduz e que desvaloriza. Não é ponte, nem escada, nem espelho. É inteiro/a… e merece um amor que reconheça isso.
A compaixão é nobre, mas ela nunca pode custar a sua paz!
Com gratidão,
Sara Rodrigues
Psicóloga e Hipnoterapeuta Clínica
O narcisismo constitui uma dimensão estruturante da personalidade, absolutamente necessária ao desenvolvimento humano saudável e equilibrado. Assim acontece porque ela assegura o sentimento de amor recebido que traz segurança e bem-estar psicológico. Esse amor recebido é em primeira instância fornecido por outra pessoa, o cuidador principal que habitualmente é a mãe pelo que ele está intrinsecamente ligado aos cuidados maternais primários.
Contudo, o narcisismo pode assumir uma expressão patológica que, fundamentalmente, se carateriza por pessoas com um funcionamento com duas principais caraterísticas: a) sentido grandioso do Eu, acompanhado de admiração por si mesmo, sentimento de ser especial e apenas ser compreendido por certas pessoas, normalmente com níveis intelectuais elevados, ter direitos superiores aos outros e de tratamento especial; b) baixa empatia e atitude de oportunismo no contexto das relações interpessoais, com exploração e aproveitamento dos outros de forma a garantir as suas necessidades e desejos.
O que gera a autoadmiração e a falta de empatia?
O desenvolvimento de um sentido desviado de narcisismo acontece pela incapacidade de processar um período decisivo do desenvolvimento que coincide com o final dos cuidados maternos primários e com o desafio de adquirir um sentido inicial de individualização. Nos primeiros meses de vida o bebé, imerso no contexto relacional com o seu cuidador, o qual lhe assegura todas as necessidades, percebe-se como ligado a esse cuidador, normalmente a mãe. Trata-se da primeira forma de relação no desenvolvimento humano que pode ser designada de relação fusional na medida em que os dois intervenientes têm uma ligação muito próxima e que o bebé depende integralmente da mãe para assegurar as suas necessidades.
Este par em relação fusional é o contexto ideal para o início do desenvolvimento humano. A mãe assegura todo o amor que o bebé necessita, ou seja, assegura a emergência do narcisismo do bebé que é responsável pelo seu sentido de segurança e bem-estar. Porém, de uma forma natural, a mãe vai deixar de se posicionar de forma tão exclusiva e permanente na relação com o bebé à medida que este vai adquirindo as primeiras capacidades de regular o funcionamento do seu corpo.
O problema surge quando o bebé não consegue aproveitar a crise gerada pela mudança de atitude da mãe para adquirir um sentido superior de auto-regulação e deixa permanecer dentro de si um sentimento de ameaça pelo afastamento da mãe. Isso vai fazê-lo substituir a perceção do par fusional por uma outra perceção que é a do seu próprio self através da qual garante o amor que necessita. Esta perceção de amor sustentado no próprio self protege a desilusão da perda do objeto amado e conduz ao desenvolvimento de um sentido grandioso de self que funciona como um mecanismo protetor face à desilusão de não ser amado.
O desenvolvimento de um self grandioso explica as principais manifestações da perturbação narcísica. Por um lado, as pessoas com perturbação narcísica, tendem a enfatizar as suas necessidades pois sentem naturalmente a sua prioridade e importância. Ao fazê-lo asseguram a satisfação do seu narcisismo e do amor que precisam receber. A insegurança sobre virem a ser amados pelos outros leva-os a esta priorização assim como faz com que transformem os outros no meio que garante o seu objetivo. Deste modo, tendem a instrumentalizar as relações através da já referida atitude oportunista, incluindo mentira, manipulação e exploração, em que o outro é sobretudo um meio de fornecimento do amor que necessitam.
Dito da forma mais simples, se os narcisistas não se admirassem a si mesmos não sentiriam o amor suficiente para se sentirem seguros e equilibrados. O seu self grandioso assegura o narcisismo suficiente a esse equilíbrio. Naturalmente que, sendo o outro um meio de garantia das próprias necessidades, a empatia fica comprometida pela necessidade de concentração nas necessidades do self. Isso também explica a existência de manifestações de raiva intensa quando o outro resiste ao papel de mero fornecedor das necessidades do Eu grandioso e especial da personalidade narcísica.
Nas últimas décadas, técnicos de desporto, nutricionistas, médicos, psicólogos e até professores, têm-se unido em prol da prevenção alimentar e desportiva, destacando a importância de sermos activos no nosso dia-a-dia e de seguir orientações como a tabela nutricional e a tão famosa roda dos alimentos.
Porém, apesar de todos os esforços, as perturbações alimentares continuam a ser um tema central na discussão sobre saúde mental e física. O culto ao corpo perfeito, alimentado pelas redes sociais, influenciadores digitais e pela cultura do fitness têm alterado profundamente a relação das pessoas com a alimentação, o corpo e a auto-estima.
Perturbações Alimentares e o Ciclo Vicioso
Muitas vezes, a relação que temos com a comida vai além do simples prazer de comer. Quando essa relação se torna excessivamente focada na alimentação e na aparência, pode ser sinal de algo mais profundo: perturbações alimentares. Essas condições envolvem não só a comida, mas também os sentimentos, os pensamentos e até o modo como nos vemos.
Elas não surgem de um dia para o outro, mas são o resultado de uma combinação de factores sociais, culturais e pessoais, somados a uma auto-crítica intensa. Quem sofre com isso muitas vezes acredita que a aparência define o seu valor. Nesse contexto, o controlo sobre a alimentação torna-se uma forma de se afirmar, de sentir que ao menos uma parte da sua vida está sob controlo, especialmente quando tudo parece estar fora do lugar e dominado pela ansiedade.
Um pequeno deslize pode fazer com que a pessoa sinta que “fracassou”, o que leva a episódios de compulsão alimentar, seguidos de culpa e mais restrições, criando uma mentalidade de “Tudo ou Nada”, na qual acreditam que se quebraram a dieta, então é como se a única opção fosse comer sem parar, já que “tudo está perdido de qualquer forma”, além de que, podem sempre retomar e compensar amanhã.
Esse ciclo pode intensificar-se. O controlo vai ficando cada vez mais rígido, com a restrição a levar à compulsão, e a compulsão, por sua vez, a gerar ainda mais fome. Este ciclo alimenta comportamentos extremos, como o uso de laxantes ou vómitos, na tentativa de compensar o que foi ingerido. Isso cria uma falsa sensação de controlo e reforça a ideia de que é possível comer de tudo sem sofrer consequências – o que, no entanto, só aumenta a frustração e o sofrimento, perpetuando o ciclo.
As perturbações alimentares mais conhecidas, como a anorexia e a bulimia nervosa, envolvem obsessões com o peso e a imagem corporal. Isso leva a dietas extremamente restritivas e/ou a exercícios excessivos.
No universo dos ginásios e da busca pelo corpo perfeito, surgem outras condições, como a ortorexia (obsessão por uma alimentação “perfeita”) e a vigorexia (obsessão pela massa muscular), que embora mascaradas de saudáveis, acarretam um grande sofrimento psicológico, ansiedade e isolamento.
O Culto ao Corpo Perfeito
Na verdade, este conceito não é novo, mas ganhou proporções gigantescas, impulsionadas principalmente pelos media, redes sociais e influenciadores digitais que promovem padrões estéticos muitas vezes inalcançáveis e distorcidos. Este culto tornou-se particularmente forte entre os jovens, sendo o corpo idealizado não apenas um símbolo de beleza, mas também de sucesso, poder e auto-estima.
Padrões irreais – como a magreza extrema ou a musculatura exagerada – passaram a ser vistos como símbolos de status e valor pessoal. Com isso, muitas pessoas, especialmente os jovens, passam a acreditar que a felicidade e a aceitação social dependem de alcançar esse corpo ideal. Porém, esse paradoxo só cria um ciclo de insatisfação, prejudicando a saúde mental e emocional, gerando ansiedade, baixa auto-estima e distorção da imagem corporal, mesmo quando se aproximam do padrão desejado.
Esse culto ao corpo perfeito, essa busca incessante por um corpo ideal, ultrapassa os limites do cuidado saudável, levando a todos estes comportamentos prejudiciais, com práticas alimentares e técnicas de treino, mal definidas e desorganizadas. O mais grave é que tudo isso muitas vezes leva à perda de controlo sobre o que realmente importa para o seu bem-estar, acabando por se reduzir a um mero objecto estético.
A solução? Substituir o culto ao corpo perfeito pelo culto do corpo saudável, onde a diferença reside na motivação e no foco, ao invés de seguir padrões impostos pela cultura momentânea. Um corpo saudável vai muito além da aparência física e foca-se na eficiência e equilíbrio do organismo, promovendo a saúde física, emocional e mental.
A Influência das Redes Sociais
As redes sociais desempenham um papel significativo na perpetuação de padrões estéticos inalcançáveis. Influenciadores digitais, celebridades do fitness e posts de “corpos perfeitos”, frequentemente editados, criam comparações e padrões irreais que intensificam a insatisfação corporal. Isso contribui para o aumento de comportamentos alimentares extremos, à medida que as pessoas se tentam ajustar aos padrões de “beleza” promovidos online.
O Impacto na Saúde Mental
Assim, as perturbações alimentares não afectam apenas a saúde física, mas também têm um impacto significativo na saúde mental. No entanto, o impacto vai além da estética.
O nosso corpo precisa de energia para manter o nosso organismo em funcionamento e para fornecer alguma capacidade de trabalho externo realizado ao longo do dia. O que quer dizer que o nosso corpo em repouso continua a gastar energia, tendo cerca de 30% do consumo pelos músculos esqueléticos e outros 30% pelos músculos abdominais. O nosso cérebro consome cerca de 20% e o coração 10% da energia total. Assim, é fundamental um consumo acima do valor médio basal (em descanso) para garantir a saúde e a eficácia do nosso corpo. Chama-se a este processo metabolismo e aplica-se a todos os órgãos.
Nesse contexto, uma vez que o metabolismo cerebral é especialmente afectado por dietas restritivas e comportamentos alimentares extremos, o cérebro, que depende de nutrientes essenciais para o seu funcionamento adequado, sofre quando o corpo é privado desses nutrientes. Isso pode resultar em dificuldades cognitivas, como falta de concentração, dificuldade em tomar decisões, controlar impulsos e processar emoções, aumentando a tendência para a irritabilidade e depressão, já que o cérebro não recebe a quantidade de energia necessária para manter o equilíbrio emocional e mental, sobretudo com a resposta inerente de stress no cérebro.
Caminhos para a Prevenção e Tratamento
Procure saber o quão o seu comportamento compensatório é prejudicial à sua saúde e até mesmo aos seus objectivos. Aceite e entenda o que acontece no seu sistema, o que se passa consigo.
Promova uma Alimentação Equilibrada e Consciente
Muitas vezes, as pessoas pensam que para perder ou ganhar peso, basta cortar ou adicionar calorias de forma drástica. No entanto, o segredo está no equilíbrio constante, ao invés de mudanças rápidas e extremas. Por exemplo:
Sabia que 1kg de gordura corporal equivale a cerca de 7.000 calorias? Isso significa que, para ganhar ou perder 1 kg de peso corporal, seria necessário consumir 7.000 calorias a mais ou a menos do que o seu corpo gasta normalmente. Agora, imagine que 7.000 calorias podem ser representadas por:
Ao fazer estes cálculos, fica claro que perder ou ganhar peso não se trata apenas de uma refeição ou de um único dia de escolhas alimentares. Manter o equilíbrio é o segredo para um estilo de vida saudável. Portanto, é importante focar em hábitos alimentares equilibrados a longo prazo, e não em dietas drásticas.
Menos calorias não é sempre melhor
Reduzir drasticamente as calorias pode levar a um emagrecimento rápido, mas o que realmente está a acontecer é que o corpo está a passar por um processo de “fome”. Uma dieta de 1.200 calorias por dia (que muitas vezes é recomendada para quem procura emagrecimento rápido) equivale a muito poucos alimentos diários, sendo metade do valor basal referencial para um corpo adulto.
Isto é muito pouco para o corpo quando num registo contínuo e sem o devido cuidado, pois é insuficiente para o seu funcionamento adequado e pode levar à perda de músculo, desaceleração do metabolismo – particularmente o cerebral – e às referidas dificuldades cognitivas, afectando significativamente a nossa consciência, percepção e emoções. O resultado pode ser a redução da energia e da disposição para as actividades diárias, a relação disfuncional com a comida e o subsequente aumento do risco alimentar compensatório e obsessivo.
O Prato Equilibrado
Em vez de focar apenas nas calorias ou em cortar completamente certos alimentos, a chave está em garantir um prato equilibrado e que atenda à realidade nutritiva da pessoa, seja pelas hipotéticas alergias ou intolerâncias que tenha, comprometimentos alimentares decorrentes de estados de saúde ou mesmo uma questão tão simples quanto o biótipo do corpo da pessoa, de modo a que a pessoa não sinta fome extrema, mantenha um nível constante de energia e, mais importante, mantenha a saúde e a satisfação com a alimentação. Um prato equilibrado deve conter:
O Exercício Físico
Exercícios físicos são essenciais para a saúde, mas devem ser praticados de forma equilibrada. O objectivo do exercício não deve ser o de compensar excessos alimentares, mas sim manter o corpo em movimento, fortalecer a musculatura e melhorar a saúde cardiovascular. Exercícios exagerados ou que envolvem práticas extremas podem, de facto, desencadear problemas de imagem corporal e alimentação.
Seja consciente e esteja informado. O Que Realmente Importa?
Ao adoptar hábitos alimentares saudáveis e práticas de exercício com equilíbrio, você está a evitar a armadilha das dietas extremas e da obsessão pelo corpo perfeito, passando a focar em como se sente no seu corpo, no seu bem-estar e na sua saúde mental.
A mudança começa dentro de nós. O caminho para uma vida mais saudável, equilibrada e feliz inicia-se com uma decisão simples: cuidar de si mesmo, de si mesma, sem obsessões, sem pressões externas, mas com respeito e consciência. Liberte-se das armadilhas dos padrões irreais e das dietas extremas. A verdadeira saúde não se mede no corpo perfeito, mas sim no corpo que tem e no bem-estar que constrói ao cuidar dele com equilíbrio.
Lembre-se: cada escolha que você faz hoje pode ser o primeiro passo para transformar a sua vida. Priorize a saúde mental, emocional e física. Construa uma relação saudável com a comida, com o exercício e, principalmente, consigo mesmo. Não deixe que o medo ou a insegurança guiem as suas decisões. A mudança começa dentro de si.
Está nas suas mãos ser a melhor versão de si, agora. O que está à espera? Dê o primeiro passo em direção à verdadeira felicidade — a felicidade de se aceitar, de se cuidar e de viver com leveza. O caminho não é fácil, mas cada esforço vale a pena. E, se precisar de ajuda, saiba que não está sozinho nesta jornada. Juntos podemos construir um futuro mais saudável, equilibrado e feliz. A mudança começa agora — e ela começa consigo.
Na Learn2Be, temos uma equipa dedicada e preparada para trazer o melhor de si mesmo, ajudando a encontrar respostas para os seus dilemas e apoiar na sua jornada de transformação. Juntos, podemos ser melhores.
Existe um provérbio que diz ”Gordura é Formosura”, em Portugal!
Estudos realizados em Portugal (2023) mostraram que são as mulheres jovens, meninas e adolescentes, que apresentam maiores preocupações com a imagem corporal e são mais propensas a se sentirem sensíveis à insatisfação corporal. A propósito, os ditados populares são bons exemplos da perceção antiga da obesidade. Existe um provérbio que diz ”Gordura é formosura”.
Em Portugal, um estudo realizado na região de Bragança(2023), mais da metade da população adulta está com excesso de peso e a obesidade atinge 1,5 milhões de pessoas com mais de 18 anos. De acordo com um estudo recente, numa população de dez milhões de portugueses/as, 2,3 milhões de pessoas adultas e 107 mil crianças e adolescentes têm excesso de peso. Dados de um estudo nacional recente parecem ainda mais preocupantes, indicando que praticamente metade (52%) da população portuguesa tem excesso de peso (CPSA,2024).
Atualmente, ser obeso está correlacionado com diversas doenças crónicas, não sendo mais percebido que “A gordura é formosura”. De fato, a obesidade está frequentemente associada à insatisfação com a autoimagem corporal e á discriminação social.
Segundo a Associação Americana de Psiquiatras (2021), um distúrbio alimentar é uma condição comportamental que se caracteriza pela perturbação persistente e severa das condutas alimentares em associação com pensamentos e emoções angustiantes. Além do mais, uma pessoa que sofre de um distúrbio alimentar pode ser afetada a nível físico, psicológico e social.
Na Europa, uma em cada três crianças em idade escolar, uma em cada quatro adolescentes, e quase 60% da população adulta enfrentam o desafio do excesso de peso. Diante disso os estigmas vividos pelas pessoas com obesidade também aumentam o risco de transtornos alimentares, cuja real dimensão não é tão bem caracterizada como a obesidade.
Diante disso, a escola parece representar uma grande pressão com alguns adolescentes sentido o desejo de perder peso para evitar o bullying. Portanto, um estudo realizado na região de Bragança(2023)mostrou que uma em cada quatro crianças foi vítima de bullying. Consequentemente,os depoimentos dessas vítimas ilustram o medo de ir à escola. Porém, embora o bullying possa assumir muitas formas, a imagem corporal é frequentemente um tema de agressão.
Consequentemente, podemos observar o grande impacto que a mídia e o meio sociocultural vem enfatizando sobre padrões corporais, sejam masculino ou feminino, e a beleza do corpo magro, sendo considerado o corpo saudável.Atualmente, vem chamando a atenção de vários grupos sociais. “A atribuição de beleza ou feiura, voltada aos critérios estéticos, estão intrinsecamente ligados aos aspectos políticos, morais e sociais(BARROS,2013,p.73).
Alguns dos tipos mais comuns dos distúrbios alimentares são a anorexia nervosa, a bulimia nervosa, o distúrbio de compulsão alimentar, transtorno de ingestão alimentar restritiva, outro transtorno alimentar e alimentar especificado, pica e transtorno de ruminação (Guarda,2021). Ainda segundo a mesma fonte, este tipo de doença afeta 5% da população, maioritariamente adolescentes e jovens adultos.
Além disso, a saúde do adolescente deve ser encarada como prioritária, uma vez que a intervenção precoce contribui para a promoção da qualidade de vida na idade adulta (Direção Geral da Saúde, 2018).
A obesidade não é incluída no DSM-5 como uma perturbação mental.
Os Distúrbios Alimentares (DA) são caracterizados por uma perturbação persistente na alimentação ou no comportamento relacionado com a alimentação que resulta no consumo ou na absorção alterada dos alimentos.
Portanto, são doenças mentais graves com impactos severos na saúde física e psicológica, e que podem afetar um grande número de indivíduos em todo o mundo, independentemente da idade, gênero, etnia, condição socioeconômica e grau de escolaridade.
A adolescência é um período delicado, de saída da infância onde ocorre diversas mudanças de comportamento e fisiológicas, a explosão hormonal transformando os corpos, para as meninas que ocorre a menarca e o ganho de peso se torna mais difícil essa transição e essa cobrança faz com que se torne mais provável a ocorrência de transtornos alimentares Gomes et al (2021).A identificação de ideias de beleza em amigos ou mesmo em personalidades dos media podem levar a comparações que podem ser uma fonte de frustração.
Anorexia nervosa | baixa ingestão calórica |
Bulimia | vômito após um quadro de compulsão alimentar e culpa |
Compulsão alimentar | ingestão excessiva de alimentos |
Pica | ingestão de coisas que não são alimentos |
Ruminação | ingerir, ruminar e ingerir de novo |
Restritivo e evitativo | evitar certos tipos de alimentos |
Ortorexia | exagero ao se alimentar só por coisas saudáveis |
Hiperfagia | alta ingestão de alimentos após um trauma |
Vigorexia | restrição alimentar para aumento de massa muscular |
Entretanto, iremos especificar sobre os transtornos de anorexia nervosa (AN) e bulimia nervosa (BN) pois ambos tem relação com a auto imagem. Como cita Hilury (2019) os três transtornos alimentares mais conhecidos são: anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar.
De acordo com o DSM-5, sucintamente, a Anorexia Nervosa (AN) é uma condição psiquiátrica grave que se manifesta pela busca incessante e irracional pela magreza. Diante disso, esta condição é atualmente o distúrbio mental com maior taxa de mortalidade associada, e a 3º maior causa de doenças crônicas em adolescentes. Consequentemente, pelo fato de cronicidade, a anorexia nervosa(AN) é considerada a terceira doença crônica mais comum na adolescência (Sariava, et al,2014).
Além disso, os transtornos alimentares também são transtornos psicológicos, e específicos o transtorno anoréxico ou bulímico que estão diretamente relacionados com a preocupação pelo peso e pela preocupação com a imagem (Alvarenga,2011).
A anorexia do latim ”perda de apetite” é uma doença que apresenta grandes dificuldades no tratamento, que pode durar de seis meses a vida inteira(Halse et al, 2013 p.17), este é outro alerta a saúde pública, pois, segundo Aratangy et al 2020) a anorexia nervosa pode ser considerada a mais mortal das doenças mentais, tais mortes ocorrem por consequência da desnutrição e pela alta taxa de suicidio, acomete a maioria adolescentes do sexo feminino, estudantes da área da saúde, modelos e bailarinas, pois são profissões que exigem muito do corpo e da aparência.
“A bulimia Nervosa acomete um número maior de mulheres jovens, mais frequentes que a anorexia (Aratangy et al,2020,p.19)”.
Contudo, a bulimia nervosa é uma doença mental quatro vezes mais comum que a anorexia nervosa, é mais difícil sua percepção pois muitas vezes o indivíduo não baixa tanto seu peso corporal, nesse transtorno os indivíduos têm muitas dificuldades de controlar suas emoções.
A diferença de anorexia e bulimia!
Por regra, a “anorexia nervosa” tem início durante a adolescência ou no início da idade adulta. O início desta perturbação raramente ocorre antes da puberdade ou após os 40 anos, é que o objetivo principal é não ter ganho de peso e para isso o indivíduo evita se alimentar, se priva de comer e pratica atividade física em excesso para que aconteça o gasto calórico.
Agora a “bulimia nervosa” começa habitualmente no fim da adolescência ou no início da idade adulta. No entanto, o início anterior à puberdade ou após os 40 anos de idade é raro. Consequentemente, os episódios de ingestão compulsiva começam, por regra, durante ou após uma dieta de emagrecimento. O objetivo também é não ficar acima do peso mas para isso o indivíduo força o vômito, induz o corpo com remédios para digestão, usa inibidores de apetite, faz atividades físicas em excesso, compulsões alimentares seguidas de episódios de comportamentos compensatórios (Aratangy et al,2020 p.19).
Os profissionais da Psicologia possuem os conhecimentos e treino necessários para intervir na prevenção e gestão da obesidade ao longo do ciclo vital?
Sim, os psicólogos implementam abordagens diferenciadas, reconhecendo a família como o principal veículo de intervenção, envolvendo a família no decorrer de todo processo. Assim, procuram ajudar a criar um contexto familiar que ajude as crianças e os seus cuidadores a realizar mudanças comportamentais (i,e., ao nível da alimentação, atividade física, sono, tempo de ecrãs, etc.), promotoras de uma boa gestão da obesidade (Jebeile et al.,2022; national Institute For Care Excellence,2025).
No entanto, se tratando do acompanhamento psicológico Sgarbi et al (2023) indica a terapia Cognitivo Comportamental(TCC) como um meio de condução ao tratamento visto que a TCC age diretamente no comportamento do indivíduo. Também, a TCC aborda não somente os comportamentos alimentares problemáticos, mas também os padrões de pensamento disfuncionais que contribuem para a manutenção dos transtornos. Em virtude da natureza semiestruturada da TCC, que permite uma adaptação flexível às necessidades individuais do paciente nos processos cognitivos frequentes nos casos de transtornos alimentares.
Segundo Miguel Gonçalves, o que falamos está muito influenciado pelo que somos, diante disso, projetamos um pouco em nossas respostas que damos ao Rorschach. No entanto, a referida técnica projetiva, quando adotada em processo de avaliação psicológica conduzida junto a pacientes com transtornos alimentares, pode possibilitar o acesso a informações importantes para o planejamento de intervenções multidisciplinares.
A propósito, mais do que se alimentar de forma saudável, é sobre construir hábitos que ficam para a vida. Então, mude a sua vida agendando uma avaliação psicológica específica ou uma sessão de life Coach ou descoberta sem compromisso.