A autossabotagem é um fenómeno interno no qual a pessoa, de um modo mais consciente ou mais inconsciente, coloca obstáculos no seu próprio caminho, impedindo assim o seu crescimento e sucesso.
Este fenómeno apresenta-se em variados formatos e pode manifestar-se em diversas áreas da vida, tais como nos relacionamentos ou na vida profissional.
A autossabotagem está diretamente ligada ao inconsciente e às crenças limitantes adquiridas ao longo da vida. Nesta crónica procurar-se-á explorar alguns mecanismos psíquicos que levam à autossabotagem, analisando os seus fundamentos numa perspectiva mais teórica e propondo estratégias simples e diretas para a superar.
Autossabotagem: o que é?
Autossabotagem refere-se a comportamentos e padrões de pensamento que impedem uma pessoa de atingir os seus objetivos. Pode ocorrer por meio de comportamentos de seguranças muito rígidos, como adiar as coisas ou evita-las, pode ocorrer através da procrastinação, da autocrítica excessiva, do medo do fracasso ou até mesmo do medo do sucesso. Muitas vezes, o indivíduo que se auto sabota não percebe esse comportamento, pois este tem origem a níveis mais profundos da psique humana, falamos, nomeadamente, do inconsciente.
Crenças limitantes e sua influência na autossabotagem
As crenças limitantes são convicções negativas internalizadas ao longo da vida, geralmente na infância, que condicionam a forma como nos vemos, como vemos os outros e como vemos o mundo. Estas crenças podem surgir de experiências traumáticas, de relações familiares disfuncionais ou de mensagens subliminares recebidas da sociedade ou da época em que se está ou esteve inserido.
Alguns exemplos de crenças limitantes comuns incluem expressões como “Não sou bom o suficiente”, “Certas coisas não são para pessoas como eu”, “Ninguém me vai amar para sempre” ou “O sucesso é para os outros, não para mim”.
O inconsciente e os mecanismos de defesa na autossabotagem
Sabemos desde os escritos e obra de Sigmund Freud que grande parte do nosso comportamento é governado por processos mentais inconscientes, onde residem desejos reprimidos, conflitos internos e traumas. Na autossabotagem, esses conteúdos inconscientes podem-se manifestar através de mecanismos de defesa, como a racionalização (justificar o fracasso com desculpas), a repressão (ignorar os próprios desejos) e a projeção (atribuir aos outros a causa dos próprios insucessos).
Assim, a autossabotagem pode ser interpretada como um conflito entre o desejo de realização e os medos inconscientes associados à mesma. Isto dever-se-á a uma instância da mente, chamada Superego, que poderá impor uma sensação ou antecipação de culpa que poderá impedir o indivíduo de se permitir, por exemplo, a ter sucesso.
Um exemplo curioso e recorrente é o desejo de alguém por ter sucesso ou reconhecimento profissional mas inconscientemente associar esse sucesso e reconhecimento a experiências de abandono passadas, onde lhe surgirá, por exemplo, uma enorme angústia da possibilidade de que ao ter sucesso possa ser visto como alguém que se tornou arrogante, distante, fútil e com isso um medo imenso de deixar de ser amado, resultando assim num boicote pessoal ao próprio desejo, neste caso, ao próprio sucesso e reconhecimento profissional.
Autossabotagem vs. Fidelidade à história pessoal
A nossa identidade é construída em grande parte pelas identificações a figuras parentais ou a modelos importantes nos quais representamos um mundo interno rico e identitário muito integrado na nossa matriz enquanto pessoa.
É nesse sentido que se constata também, uma repetição inconsciente a padrões de figuras modeladas que, por exemplo, não tiveram mais sucesso ou outra atitude face à vida e à qual há de um modo inconsciente uma tendência a ser-se fiel, boicotando assim o próprio sucesso como forma de permanecer fiel ao modelo internalizado.
Como superar a autossabotagem?
A autossabotagem está intimamente ligada à história de cada um. Exige por isso um trabalho de autoconhecimento e desconstrução de crenças limitantes.
Algumas estratégias para fazer face à autossabotagem poderão passar por:
- Identificar padrões de comportamento autossabotadores;
- Questionar as crenças limitantes e substituí-las por crenças mais positivas;
- Trabalhar a autoaceitação e o amor próprio;
- Procurar ajuda terapêutica para ter acesso a conteúdos inconscientes que impedem o progresso e crescimento pessoal e profissional;
- Desenvolver inteligência e resiliência emocional para lidar com o medo do fracasso ou do sucesso.
A autossabotagem é um fenómeno psicológico complexo enraizado em processos inconscientes e em crenças limitantes que adquirimos ao longo da vida através da experiência, ambiente, contexto.
É o autoconhecimento que permitirá compreender melhor as origens e padrões de repetição e assim trabalhar para superar os boicotes que cada um faz a si próprio, como se um outro habitasse no interior em forças contrárias ao próprio.
É a análise pessoal que cada um faz em terapia face aos seus padrões, no que repete da sua história, no que viu e no que representou e no lugar que se auto coloca que abrimos caminho para uma vida mais plena e realizada.